quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Capoeira Lusitana

Naquela capoeira coexistiam as mais variadas aves.
Galinhas,patos, perúas, faisões, codornizes, fracas, rolas, cisnes, gansos
e, até, um pavão que já vira melhores dias.
À direita do recinto, a chefe, bastante contestada, era uma perúa magra e envelhecida
que, há muito, não emitia qualquer som.
No extremo, à esquerda da capoeira, havia um ganso esgaseado que, de vez em quando, acordava todos com o seu grasnar irritante.
O perú-bronzeado, também fazia os seus glu-glus amiúde,
tendo perdido, contudo, a criatividade de outros tempos
Mas, de momento, o mais popular era um galarote comprado na feira da Covilhã,
com mau génio e que não gostava de ser contrariado.
Entre bicadas e cacarejos sem sentido, os nossos passarocos lá iam vivendo partilhando o milho, cada vez mais racionado, e as rações que ainda iam chegando de fora,
mas sem a abundância de outros tempos.
Pelo meio, correndo de um grupo para o outro,apressavam-se os patos bravos,
tentando debicar aqui e ali, uma folha de couve, um pedaço de abóbora, o que calhasse.
As antigas glórias da capoeira, uma galinha anã , conhecida como cócó, e o pavão,
com feridas profundas e falta de penas, reuniam-se a um dos cantos mastigando conspirações.
O pavão, principalmente, adorava dar sinais de si, de tempos a tempos, e abrir a sua cauda em leque, mas já só os pequenos pintos se impressionvam, ainda, com todo aquele folclore vazio.
Os mais inteligentes foram dois patos marrecos que, há muito, tinham voado para capoeiras distantes e agora só apareciam ,de quando em vez, entre os seus vôos migratórios.

Foi então que, trazido não se sabe de onde, surgiu um galo como ninguém tinha visto até à data.
Preto com grandes corações pintados a amarelo, vermelho e azul.
Hirto, sem se mexer nem comer e, principalmente, sem emitir qualquer som.
Alguém sussurrou que tinha chegado de Barcelos, ouvira o caseiro dizer...

Logo se iniciou o Movimento do Galo de Barcelos ao Poder !!!

Foi eleito o rei da capoeira, por uma maioria esmagadora...
O pior foi que, depois de uma forte trovoada com relâmpagos à mistura,
foram encontrar o Galo todo partido aos pedaços.

Afinal, tinha pés de barro...

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