sexta-feira, 24 de abril de 2009

E, já agora, onde é que estava no 25 de Abril?

Esta frase celebrizada pelo jornalista Baptista-Bastos
é a base para mais um desafio que vos lançamos.
Contarem aqui, para todos, como foi esse vosso dia.
O 25 de Abril de 1974.
Não queremos elogios ou críticas à efemèride.
Mas também não as proibimos.
A Censura acabou nesse dia.
Apenas o relato, verdadeiro, sem toques de pintura,
de como foi esse vosso dia, de manhã à noite.
Começo eu...


Nessa época trabalhava em Publicidade.
Numa Agência na Av.28 de Maio, que no pós
mudaria o nome para Avenida das Forças Armadas,
junto a Entrecampos.
De manhã, saí de casa, em Benfica, à Av. do Uruguai,
depois de ouvir na Rádio que algo se estava a passar
e de ter recebido alguns telefonemas contraditórios.
Que era um Golpe de Estado da Direita,
que, não senhor, era do reviralho.
Lá fui eu, até ao meu local de trabalho, onde passei o tempo
a ouvir Rádio com outro rapaz que lá estava, o Damasceno.
"Aqui Emissora da Liberdade"dizia a Rádio Comercial.
Apelos à tranquilidade, a que as pessoas permanecessem em casa.
E depois a notícia de que os Supermercados iriam fechar as portas,
para impedir uma corrida excessiva da população.
Claro que eu, e o outro, corremos logo ao supermercado
da Estados Unidos da América, que estava mesmo a encerrar,
e enchemo-nos das coisas mais essenciais.
Depois, já mais aconchegados, fomos cada um para sua casa.
O resto do dia foi passado, frente ao televisor, ainda a preto e branco
a ver as imagens do Salgueiro Maia no Largo do Carmo,
onde o meu Pai trabalhava.
Do Marcelo Caetano a sair do Quartel com os vários Ministros,
E do meu futuro cunhado, na altura nem sonhávamos,
o Fernando Balsinha, a ler os primeiros comunicados
do MFA, Movimento das Forças Armadas.
Gostaria de ter um dia emocionante para contar aos meus Filhos,
que não se apercebem, sequer, muito bem,
o que foi isso do tal 25 de Abril.
Com tanques, tiros e cravos...
Mas para mim, o Dia da Revolução foi assim um bocado
para as pantufas, em frente ao televisor...
Agora são vocês, mas não vale mentirinha...

12 comentários:

  1. O meu dia 25 de Abril de 1974 foi mais de descoberta. Apesar de não ser tão novinha como isso não tinha a noção de k o País vivia numa ditadura, nem o k isso era exactamente. Até achava interessante toda aquela opulência manifestada pelo regime. Quando aparecia um dos governantes era festa. Lá estavam os desfiles das forças armadas, bombeiros, colégios, mocidade portuguesa, etc. À altura pra mim o único defeito da mocidade portuguesa era a obrigação de usar farda. Algo k já detestava por ter de usar todos os dias no colégio. Quanto à PIDE, não passava de um nome diferente para a polícia.
    Foi com grande espanto e curiosidade k comecei a seguir os acontecimentos no rádio e na tv e a tentar perceber o seu real significado. Tb eu me recordo dos comunicados apresentados pelo Fernando Balsinha. Havia qualquer coisa de emocionante nas imagens. Nas palavras k não estava habituada a ouvir.
    Foi como disse no inicio. Uma descoberta. Queria saber tudo. Ouvir o Zeca Afonso. Cantar o Grândula. Participar nas reuniões de estudantes e como todos os jovens do meu tempo, lá estava eu na primeira grande manifestação livre do Dia do Trabalhador.
    Descobri k a sociedade politica tinha maus e bons. K os mais fortes oprimiam os mais fracos... e k a revolução ia acabar com tudo isso e instalar um Paraíso de igualdade no nosso País. Iamos ser todos felizes e ricos!!!
    Mas mesmo nos contos de fadas... há sempre um lado negro. E os maus continuaram e continuam a existir, apesar das suas novas roupagens e continuam a oprimir os mais fracos.
    Não ponho em causa a importância da revolução de Abril para Portugal, porque acima de tudo abriu o País ao mundo... e a mim em particular despertou-me para os direitos de igualdade, para a democracia e para algo k eu não sabia ser fulcural: a Liberdade de Expresão. Mas hoje receio k tenha havido confusão nas flores. K não tenham sido cravos e sim rosas. Passados 35 anos ainda existem muitos espinhos neste percurso. Aliás, creio k a tendência é para aumentarem.
    Três décadas e meia depois é tempo de separar a utopia da revolução... mas não deixar perder o k ensinou de bom e transmiti-lo às novas gerações para não cresceram como eu, na ignorância

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  2. E o meu.... foi parecido com o teu!
    Um telefonema da Mãe Isabel (sem gargalhadas), às oito da manhã, a dizer "não saias de casa, que houve uma revolução!"
    O marido de então, pressuroso, saíu para abastecer a despensa e também foi o último a ser atendido no Supermercado, junto à Estrada de Benfica...não fosse faltar alguma coisa à sua querida mulherzinha... que chatice!!!
    E eu que tinha um encontro marcado para esse dia, pelo qual estava disposta a arriscar a minha própria vida...
    A verdadeira emoção pelo acontecimento e o sentimento novo de Liberdade viriam apenas alguns dias depois, quando perguntei ao meu sobrinho Miguel, com cinco anos, o que era o 25 de Abril:
    "É Poder Falar", respondeu-me ele.
    Foi, talvez, a melhor definição que ouvi até hoje...

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  3. Estava eu no meu 7ºano, à época, do liceu. Ia a sair para as aulas, quando vejo o meu pai entre telefone e rádio a tentar perceber se o golpe era de esquerda ou direita. Fui de facto para o liceu (era na província e tudo se passou mais lentamente). Disse à professora de organização política e administrativa da nação (lembram-se?), que a partir daquele dia aquela cadeira deixava de fazer sentido ao que ela me respondeu "ponha-se na rua".À tarde, com notícias mais avançadas, instiguei as meninas a despirem e desfazerem-se do espartilho das batas (não dos soutiens)e fizemos uma fogueira com elas na sala de reuniões dos professores. Aí já a festa era irreversível.

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  4. Muito parecido, Quimera!
    Só que em vez de 'espartilhos' eu queimei... as fraldas!
    Reza a história que a partir desse dia nunca mais fiz xixi na cama.

    Depois deste vexame em público-cibernauta nunca mais me perguntem a idade, ok?

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  5. Se houver concurso para o sítio mais "exótico" para "e-já-agora-onde-é-que-estava-no-25-de-abril" certamente que vou ganhar!?! Pois acreditem que eu já em pleno Golfo da Guiné, embarcado no paquete Infante D. Henrique. Tinha saído de Lisboa a 19, ainda com os zum-zuns do 16 de Março. Imaginem o que é ter a notícia da "revolução" em pleno alto mar: uma emoção, uma angústia, como seria a chegada a Luanda, com este novo cenário? Acreditem que foram uns tempos fantásticos para mim, meio inconscientes, fiquei em Luanda até à independência e voltei a Lisboa para assistir ao 5 de Novembro. São tantas as histórias, as emoções, as fotografias, os medos, que ficaria agora aqui sem caracteres para incluir neste post. A propósito: quantos caracteres é que se podem escrever, é ilimitado?

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  6. Vou a(variar)... eu sei onde estava, mas não é realmente importante...pelo menos para mim, as horas seguintes é queforam magia... :-P

    25 de Abril de 1974, um excelente golpe = movimento militar


    Feito básicamente por oficiais subalternos.

    Os idiotas dos oficiais superiores do "regime" esqueceram-se do elementar: quem tem o respeito e o comando da tropa combatente são os aspirantes, os tenentes e os capitães... perde-se esse pessoal, perde-se tudo.
    (Agora falem-me de "revolução do povo", que eu estou a precidar de me rir...)
    Anyway, difícil fazer melhor, olhem só para a nossa história, e para o nº de baixas
    das "revoluções" anteriores.
    Nomeadamente para os quase 100 anos de guerra civil conhecidos como as "Lutas Liberais"...

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  7. Ah, esquecia-me de dizer... primeiro no Técnico, tinha lá que fazer, às 7 ou 8 da manhã, depois no Terreiro do Paço, e depois fui com a multidão, para mais ou menos todo o lado.
    Nem me consigo lembrar bem, mas acho que não fui dormir a casa nesse dia, e os gajos na Almirante Reis davam-nos comida á borla, com um enorme sorriso no olhar... ("...foi bonita a festa pá, fiquei contente...")

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  8. Eis aqui um "outro", que também sempre soube onde estava...
    http://www.youtube.com/watch?v=PsJpeR2K-is

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  9. E se eu lhes disser que ouvi a canção "senha" do Paulo de Carvalho? Já viram algum episódio do "Conta-me como foi"? Pois foi mais ou menos assim: eu na sala a fazer a baínha de uns reposteiros novos, o meu marido a ler, as crianças a dormir, até q à meia noite cantou o Paulo de Carvalho...e depois do Adeus e depois de nós...lá, lá, lá!!!!!!!! Lembro-me de que disse para o meu marido - gosto imenso desta cação e da voz do Paulo de Carvalho! Mal nós sabíamos q estava dada a voz de AVANÇAR!!!!!!!!!! Foi lindo.... Muitas desilusões pelo caminho... mas valeu a pena (na minha óptica), porque se não tem acontecido assim, tinha acontecido de forma sangrenta...ou vivíamos ORGULHOSAMENTE SÓS (num Museu)!!!!!!!

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  10. O meu aproxima-se mais do da Moira de Trabalho.
    Tinha quase seis anos, passava os dias entre a escola, que nesse dia não abriu, e o campo nas brincadeiras com os meus irmãos, não tinha televisão, por isso só anos depois me aperceberia do que tinha sido aquele que, para mim, continua a ser um dos dias mais importantes da nossa História, apesar dos desvios que ocorreram a seguir.

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  11. Estava a terminar o Liceu, mas o meu pai nesse dia não me deixou ir às aulas e então passei o dia no quarto a ouvir música e a namorar ao telefone.Um dia sem grande história, apesar das conversas sussurradas pelos corredores me intrigarem um bocado.

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  12. Margardia Ferreira dos Santos28 de abril de 2009 às 08:30

    O dia 25 de Abril, propriamente, não foi muito marcante, os dias que se seguiram é que foram de facto a verdadeira revolução dos meus quninze anos!
    De qualquer modo, desse dia lembro-me bem de não ter havido aulas em Torres Vedras, de ver as pessoas confusas, de chegar a casa e sentir o meu pai seriamente preocupado.

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