quinta-feira, 2 de abril de 2009

No segundo anterior a perder-te de vista


Olhares.

Olhares que nos dizem que fizemos algo de errado.

Olhares que nos deixam ansiosos e com medo.

Olhares que nos mantêm vivos, que nos fazem regressar
ao que de melhor temos como pessoas,
numa altura em que julgamos situar-nos
muito para além do nosso limiar.

A intensidade da mensagem que dois olhos,
cuidadosamente concentrados nos olhos de outrem,
conseguem originar, é dificilmente igualável.

O olhar dispensa a palavra.

Quando sentimento e palavra não se... falam,
basta o içar do olhar.

O teu poder são os teus olhos.

Dizes tu. "Donde eu venho, todos têm olhos desta cor”

Quem inventou o olhar sabia o que estava a fazer:
a sua essência está muito para além da cor dos olhos.
Tiveste sorte na que te calhou, mas não há mais num olhar
que a cor com que está pintado?

Há muito, muito mais.
O teu olhar para mim pode estar na forma
como a tua mão segura a minha naquele momento,
enquanto nos olhamos.

As nossas mãos poderão separar-se,
mas continuamos a conseguir tocar um no outro.
Por breves instantes, passamos com um doce olhar
uma mensagem clara:
“Toco-te, porque te amo, quando te amo.
Nunca te deixarei de tocar”. Sinto isto ao teu lado.

Sinto-o a um longo corredor de distância e pessoas,
no segundo anterior a perder-te de vista,
enquanto o perfeito olhar de despedida
lembra exactamente o que precisa de ser lembrado.

Afastamo-nos de novo,
mas continuamos a sentir o toque do olhar.

No segundo anterior a perder-te de vista.

Octávio Marchi

4 comentários:

  1. E esta nórdica já voltou da Escandinávia,
    ou não ?
    Não lhe chamaria Conto, mas como prosa poética gostei.

    ResponderExcluir
  2. Continuamos uma Raça de apaixonados e digo isto como elogio. O texto, sem ser o meu género, está bem escrito.

    ResponderExcluir
  3. Já me têm dito galanteios originais mas nunca nada como isto.

    ResponderExcluir