Henricartoons
domingo, 28 de fevereiro de 2010
Depois do Carnaval - J. Carino
Cá estamos nós de novo, com nossa Cidade Maravilhosa. Foi-se mais um carnaval, e com ele os amigos de outras cidades e países - gringos e brasileiros - encantados com nosso céu, nosso mar, a curva das montanhas e das mulatas.
Mais uma vez, cariocamos a rigidez quase teutônica dos sulistas, a timidez comportada de nordestinos e o regionalismo bastante acanhado dos que vêm do centro-oeste. Fizemos os paulistas se tornarem menos bairristas e entrarem na harmonia do samba; conseguimos fazer os mineiros desligarem o "desconfiômetro" para aproveitar nossa ambiência amiga e descontraída; e até os baianos, "cariocas honorários" por definição, vieram à nossa festa sem espírito competitivo, sentindo conosco a mesma batida ancestral que nos irmana lá nas bases de nossa brasilidade.
Assim foi com todos - do sul a norte, de um pólo a outro. Nosso temperamento cosmopolita e envolvente deu mais um show, e não somente de samba, mas de alegria, descontração, hospitalidade e respeito às diferenças.
O carnaval se vai, mas nossa alegria fica. Não uma alegria cega às nossas mazelas, presentes como em todas as cidades, mas uma alegria profunda, cheia de humanidade, plantada na crença na bondade que reside em cada um, na capacidade de cantar, dançar, beber, se divertir, enfim, com o outro, no mesmo bloco da vida.
O surdo se cala. A porta-bandeira depõe reverente o símbolo máximo de sua escola, até o ano que vem. E nós ficamos aqui, com nossa carioquice satisfeita, contemplando o sol que se põe sobre o mar diante das montanhas, espetáculo permanente entre muitos nesta nossa cidade abençoada.
J.Carino in Crónicas Cariocas
Mais uma vez, cariocamos a rigidez quase teutônica dos sulistas, a timidez comportada de nordestinos e o regionalismo bastante acanhado dos que vêm do centro-oeste. Fizemos os paulistas se tornarem menos bairristas e entrarem na harmonia do samba; conseguimos fazer os mineiros desligarem o "desconfiômetro" para aproveitar nossa ambiência amiga e descontraída; e até os baianos, "cariocas honorários" por definição, vieram à nossa festa sem espírito competitivo, sentindo conosco a mesma batida ancestral que nos irmana lá nas bases de nossa brasilidade.
Assim foi com todos - do sul a norte, de um pólo a outro. Nosso temperamento cosmopolita e envolvente deu mais um show, e não somente de samba, mas de alegria, descontração, hospitalidade e respeito às diferenças.
O carnaval se vai, mas nossa alegria fica. Não uma alegria cega às nossas mazelas, presentes como em todas as cidades, mas uma alegria profunda, cheia de humanidade, plantada na crença na bondade que reside em cada um, na capacidade de cantar, dançar, beber, se divertir, enfim, com o outro, no mesmo bloco da vida.
O surdo se cala. A porta-bandeira depõe reverente o símbolo máximo de sua escola, até o ano que vem. E nós ficamos aqui, com nossa carioquice satisfeita, contemplando o sol que se põe sobre o mar diante das montanhas, espetáculo permanente entre muitos nesta nossa cidade abençoada.
J.Carino in Crónicas Cariocas
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Olhares do Brasil
A Capa do Dia
Bancos negoceiam pacotes que baixam 'spreads' a metade, coitados dos senhores administradores, com os salários em atraso...
Benfica goleia mas Braga não descola, não se atrasam, nem por nada...
Vara mediou dois negócios entre Governo e Farmácia, se calhar estava atrasado e não sabia onde era a Farmácia de serviço...
"Só um novo PGR recupera a credibilidade da Justiça", quando este sair, já sai atrasado...
Bagão avisa que atrasos no PEC sairão caros ao País, atrasos...cá?!????
Benfica goleia mas Braga não descola, não se atrasam, nem por nada...
Vara mediou dois negócios entre Governo e Farmácia, se calhar estava atrasado e não sabia onde era a Farmácia de serviço...
"Só um novo PGR recupera a credibilidade da Justiça", quando este sair, já sai atrasado...
Bagão avisa que atrasos no PEC sairão caros ao País, atrasos...cá?!????
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1ª Página
Inês já não mora aqui - Alberto Gonçalves
Enquanto se confirma que uma empresa pública pagou a Luís Figo para vir a Portugal apoiar o eng. Sócrates por um dia, um pedacinho do País debate o caso de Inês Medeiros, que o público em geral paga para vir a Portugal apoiar o eng. Sócrates todas as semanas.
Embora eleita deputada pelo círculo de Lisboa, a sra. Medeiros não está para habitar pocilgas e por isso vive em Paris, cidade a que regressa às sextas-feiras. Como nem em trânsito a sra. Medeiros tolera convívio excessivo com a ralé, as viagens decorrem em classe executiva. Infelizmente, na Assembleia da República alguns não compreendem essas necessidades básicas e, numa demonstração de ressentimento muito portuguesa, há quem proponha que a senhora financie as deslocações do próprio bolso. O PS, naturalmente, discorda, e José Lello sugeriu que retirar os privilégios à sra. Medeiros seria "pôr em causa a livre circulação dos cidadãos europeus".
Eu, confesso, ignorava que a ausência de bilhetes em "executiva" à custa do contribuinte desrespeitasse um dos princípios basilares da União. Porém, já que falam nisso, é verdade que até aqui sentia a minha capacidade circulatória um tanto condicionada e não sabia a razão. Agora sei, pelo que aproveito para apelar aos valores de Maastricht e exigir, não na qualidade de cidadão europeu, voos regulares e com tratamento VIP rumo a Florença, Praga, Londres e Edimburgo.
A sra. Medeiros apenas deseja a rota Lisboa-Paris. E é da maior importância que os portugueses a ajudem a realizar a sua pretensão por via de manifestações, petições e, se preciso for, donativos directos. Em primeiro lugar, porque não nos devemos arriscar a que a sra. Medeiros nos prive do seu extraordinário desempenho parlamentar, de resto evidente no sorriso irónico com que ela encara cada reunião da Comissão de Ética. Em segundo lugar, porque se o eng. Sócrates for impedido de angariar apoiantes no estrangeiro depressa começará a ter dificuldades em consegui-los cá dentro. Bem sei que, além do sr. Figo e da sra. Medeiros, os comentários da Internet estão repletos de louvores apaixonados do primeiro-ministro. Mas, justamente a julgar pelo grau da paixão, os seus autores também não vivem em Portugal: vivem na Lua ou no aparelho do PS, o que hoje em dia é quase o mesmo.
Alberto Gonçalves in Diário de Notícias
Embora eleita deputada pelo círculo de Lisboa, a sra. Medeiros não está para habitar pocilgas e por isso vive em Paris, cidade a que regressa às sextas-feiras. Como nem em trânsito a sra. Medeiros tolera convívio excessivo com a ralé, as viagens decorrem em classe executiva. Infelizmente, na Assembleia da República alguns não compreendem essas necessidades básicas e, numa demonstração de ressentimento muito portuguesa, há quem proponha que a senhora financie as deslocações do próprio bolso. O PS, naturalmente, discorda, e José Lello sugeriu que retirar os privilégios à sra. Medeiros seria "pôr em causa a livre circulação dos cidadãos europeus".
Eu, confesso, ignorava que a ausência de bilhetes em "executiva" à custa do contribuinte desrespeitasse um dos princípios basilares da União. Porém, já que falam nisso, é verdade que até aqui sentia a minha capacidade circulatória um tanto condicionada e não sabia a razão. Agora sei, pelo que aproveito para apelar aos valores de Maastricht e exigir, não na qualidade de cidadão europeu, voos regulares e com tratamento VIP rumo a Florença, Praga, Londres e Edimburgo.
A sra. Medeiros apenas deseja a rota Lisboa-Paris. E é da maior importância que os portugueses a ajudem a realizar a sua pretensão por via de manifestações, petições e, se preciso for, donativos directos. Em primeiro lugar, porque não nos devemos arriscar a que a sra. Medeiros nos prive do seu extraordinário desempenho parlamentar, de resto evidente no sorriso irónico com que ela encara cada reunião da Comissão de Ética. Em segundo lugar, porque se o eng. Sócrates for impedido de angariar apoiantes no estrangeiro depressa começará a ter dificuldades em consegui-los cá dentro. Bem sei que, além do sr. Figo e da sra. Medeiros, os comentários da Internet estão repletos de louvores apaixonados do primeiro-ministro. Mas, justamente a julgar pelo grau da paixão, os seus autores também não vivem em Portugal: vivem na Lua ou no aparelho do PS, o que hoje em dia é quase o mesmo.
Alberto Gonçalves in Diário de Notícias
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Crónicas dos Bons Malandros
sábado, 27 de fevereiro de 2010
As bizantinices que para aí vão - Ferreira Fernandes
O primeiro-ministro Papandreou diz: "Os piores temores sobre a economia grega confirmam-se."
É notícia fresca. Podíamos distrair-nos dela com o vento que passa (rajadas a 160 km/h na Península Ibérica), mas nem isso.
O Parlamento reuniu-se para ouvir José António Saraiva.
Eu sei o que José António Saraiva diz, antigamente frequentava-o.
Primeiro parágrafo: diz coisas.
Segundo parágrafo: começa com "porém".
Eu frequentava-o porque ele acontecia aos fins-de-semana e sou bíblico: descansava-me lê-lo. Agora ele escreve à sexta e à sexta tenho de ter o cérebro a trabalhar.
Pois parte do Parlamento reuniu-se para ouvir José António Saraiva, ontem, sexta.
Continua uma tradição do Parlamento, marcar o ponto e folgar à sexta.
O Governo, entretanto, estava tetanizado, dependente do que ia dizer Saraiva ao Parlamento.
Que Saraiva foi, foi. Mas dizer, o Saraiva?!
Já o PSD tem também a sua breca: parece que o candidato Rangel foi do CDS.
São extraordinárias as preocupações dos nossos partidos.
Olha, o Portas foi do PSD.
Troquem-lhes os passados pelos presentes e o maior partido de Oposição ganhava um líder.
Se me ouvissem as soluções simples (não ouvir quem nada tem para dizer e não nos ocuparmos com picuinhas) podíamos dedicar-nos às notícias frescas.
Ferreira Fernandes in Um ponto é tudo (Diário de Notícias)
É notícia fresca. Podíamos distrair-nos dela com o vento que passa (rajadas a 160 km/h na Península Ibérica), mas nem isso.
O Parlamento reuniu-se para ouvir José António Saraiva.
Eu sei o que José António Saraiva diz, antigamente frequentava-o.
Primeiro parágrafo: diz coisas.
Segundo parágrafo: começa com "porém".
Eu frequentava-o porque ele acontecia aos fins-de-semana e sou bíblico: descansava-me lê-lo. Agora ele escreve à sexta e à sexta tenho de ter o cérebro a trabalhar.
Pois parte do Parlamento reuniu-se para ouvir José António Saraiva, ontem, sexta.
Continua uma tradição do Parlamento, marcar o ponto e folgar à sexta.
O Governo, entretanto, estava tetanizado, dependente do que ia dizer Saraiva ao Parlamento.
Que Saraiva foi, foi. Mas dizer, o Saraiva?!
Já o PSD tem também a sua breca: parece que o candidato Rangel foi do CDS.
São extraordinárias as preocupações dos nossos partidos.
Olha, o Portas foi do PSD.
Troquem-lhes os passados pelos presentes e o maior partido de Oposição ganhava um líder.
Se me ouvissem as soluções simples (não ouvir quem nada tem para dizer e não nos ocuparmos com picuinhas) podíamos dedicar-nos às notícias frescas.
Ferreira Fernandes in Um ponto é tudo (Diário de Notícias)
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Crónicas dos Bons Malandros
Pensem numa pessoa famosa...
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CARASqueAturas,
Einstein Corner
O Blog da Transilvânia
Um blog é uma espécie de vampiro.
Todos os dias, precisa de sangue novo.
Alimenta-se de ideias, imagens, textos, piadas, citações
sem nunca estar completamente satisfeito…
A sua voracidade, a sua obsessão pelo líquido vital
pode manifestar-se a qualquer momento.
Altas horas da noite, já a lua cheia brilha lá fora,
ou de madrugada, quando a neblina deixa a relva coberta de geada
e as sombras ficam, ainda mais, fantasmagóricas.
Quando um blog morde no pescoço de alguém,
autor, comentador, seguidor, simples leitor,
este fica agarrado para sempre,
ou quase sempre, dependendo da força da dentada
e do veneno do vampiro, perdão, do blog…
Quando estamos a ver um filme, interrogamo-nos se já estará no Youtube.
Quando nos rimos com um anúncio, tentamos descobrir um link.
Quando lemos um artigo, fazemos copy paste.
Quando nos oferecem um livro, scannerizamos a capa.
Quando almoçamos num restaurante, perguntamos se têm website.
Já não escrevemos aos amigos a perguntar como estão.
Mandamos-lhe o último cartoon, o mais recente artigo do Mário Crespo.
Já não telefonamos a ninguém a convidá-lo para jantar,
enviamos um pedido para ser nosso ‘friend’ no Facebook.
Não oferecemos flores, mas partilhamos o Farmville.
Não contamos a última trica, a não ser pelo Twitter.
Não alimentamos um peixinho dourado, mas temos o Fishville.
Não cantamos em conjunto, porque cada um possui o seu Ipod.
Não recordamos, mais tarde, as nossas imagens
porque estão todas arquivadas no computador.
Voltando ao blog.
É muito difícil acabar de vez com o bicho.
Igualzinho ao caso do vampiro.
Neste, usava-se dentes de alho, cruzes e estacas de madeira.
Esperava-se que a criatura adormecesse.
Na calma de um qualquer ataúde acolchoado.
E depois, pé ante pé, com o sangue a gelar–se-nos nas veias
lá lhe dávamos o tratamento mais adequado…
Mas, dizem as vítimas do personagem,
que mesmo, depois do desaparecimento da criatura maléfica,
fica uma sensação de vazio, de falta da dose diária,
de saudade…das dentadas no pescoço.
É só por isso que ainda não matei este blog…
Mas, um dia destes vou comprar uma estaca de madeira,
um crucifixo, uma réstia de alhos…
Ou, então…desligo, simplesmente, o computador da tomada.
Todos os dias, precisa de sangue novo.
Alimenta-se de ideias, imagens, textos, piadas, citações
sem nunca estar completamente satisfeito…
A sua voracidade, a sua obsessão pelo líquido vital
pode manifestar-se a qualquer momento.
Altas horas da noite, já a lua cheia brilha lá fora,
ou de madrugada, quando a neblina deixa a relva coberta de geada
e as sombras ficam, ainda mais, fantasmagóricas.
Quando um blog morde no pescoço de alguém,
autor, comentador, seguidor, simples leitor,
este fica agarrado para sempre,
ou quase sempre, dependendo da força da dentada
e do veneno do vampiro, perdão, do blog…
Quando estamos a ver um filme, interrogamo-nos se já estará no Youtube.
Quando nos rimos com um anúncio, tentamos descobrir um link.
Quando lemos um artigo, fazemos copy paste.
Quando nos oferecem um livro, scannerizamos a capa.
Quando almoçamos num restaurante, perguntamos se têm website.
Já não escrevemos aos amigos a perguntar como estão.
Mandamos-lhe o último cartoon, o mais recente artigo do Mário Crespo.
Já não telefonamos a ninguém a convidá-lo para jantar,
enviamos um pedido para ser nosso ‘friend’ no Facebook.
Não oferecemos flores, mas partilhamos o Farmville.
Não contamos a última trica, a não ser pelo Twitter.
Não alimentamos um peixinho dourado, mas temos o Fishville.
Não cantamos em conjunto, porque cada um possui o seu Ipod.
Não recordamos, mais tarde, as nossas imagens
porque estão todas arquivadas no computador.
Voltando ao blog.
É muito difícil acabar de vez com o bicho.
Igualzinho ao caso do vampiro.
Neste, usava-se dentes de alho, cruzes e estacas de madeira.
Esperava-se que a criatura adormecesse.
Na calma de um qualquer ataúde acolchoado.
E depois, pé ante pé, com o sangue a gelar–se-nos nas veias
lá lhe dávamos o tratamento mais adequado…
Mas, dizem as vítimas do personagem,
que mesmo, depois do desaparecimento da criatura maléfica,
fica uma sensação de vazio, de falta da dose diária,
de saudade…das dentadas no pescoço.
É só por isso que ainda não matei este blog…
Mas, um dia destes vou comprar uma estaca de madeira,
um crucifixo, uma réstia de alhos…
Ou, então…desligo, simplesmente, o computador da tomada.
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Textos Soltos( por bom comportamento)
A Capa do Dia
A cada semana, as minhas dúvidas aumentam mais...
"Se eu mandasse proibia todas as escutas", mas os escuteiros fizeram alguma coisa?
Ninguém sabe o que fazer à campanha com Figo, já experimentaram com Maçãs?
Grandes amizades que acabaram em guerra, Soares e Cunhal, Soares e Zenha, Soares e Alegre, next?
Emigração voltou ao nível dos Anos 60, não queriam o 'tempo volta para trás'?
Rendeiro 'ajuda' clientes do BPP conta Estado, e não se poderia 'exterminá-lo'?
Atraso no PEC inquieta Bruxelas, mas eles aindam não nos conhecem?
PS e Governo divergem, What?????
"Se eu mandasse proibia todas as escutas", mas os escuteiros fizeram alguma coisa?
Ninguém sabe o que fazer à campanha com Figo, já experimentaram com Maçãs?
Grandes amizades que acabaram em guerra, Soares e Cunhal, Soares e Zenha, Soares e Alegre, next?
Emigração voltou ao nível dos Anos 60, não queriam o 'tempo volta para trás'?
Rendeiro 'ajuda' clientes do BPP conta Estado, e não se poderia 'exterminá-lo'?
Atraso no PEC inquieta Bruxelas, mas eles aindam não nos conhecem?
PS e Governo divergem, What?????
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sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010
A Madeira avisa: cuidemos melhor do nosso território - Fernando Pinto
Era para mim impensável deixar passar em claro a tragédia da Madeira.
As vidas humanas não têm preço, diz-se, e na verdade não é de preço que se fala: todas as vidas que desaparecem significam perdas incalculáveis, dramas indizíveis, famílias destroçadas.
Era por isso impensável não discorrer aqui sobre este drama, de que apenas nos apercebemos dos contornos imediatos.
Os que ficam terão de enfrentar a destruição, o vazio, a alteração súbita e violenta dos seus ambientes de vida, mesmo se conseguiram passar fisicamente incólumes por esta provação. Sente-se, subjacente aos relatos jornalísticos, a necessidade quase inconsciente de encontrar um responsável, um bode expiatório para tanta desgraça.
Parece ser essa a prática normal nos tempos que vão correndo, em substituição de uma mais coerente e consistente análise dos factores em jogo.
Há, em primeiro lugar, que aceitar desde já que a queda de água foi excepcional.
Poderemos procurar nas alterações atmosféricas causadas pelo aquecimento global uma razão para isso, mas a verdade é que a ciência ainda não conseguiu compreender tudo o que se passa no Universo (e ainda bem!).
Continua a haver lugar ao inexplicado, que por enquanto se mantém como inexplicável.
E aqui abre-se espaço para respostas mais ou menos esotéricas, mais ou menos divinatórias (no que a palavra tem de divino e de adivinhação), mas não é por aí que valerá a pena ir.
O que sabemos é que estes fenómenos excepcionais ocorrem em ciclos bastante longos, mas ocorrem. Há até uma expressão consagrada que é a “cheia dos cem anos”.
Isso, sabemo-lo de ciência vivida! Também sabemos que já se começam a fazer sentir alterações climáticas que serão fruto da poluição global e de outros factores cuja origem tem sido atribuída à actividade humana desregrada e excessiva.
Tem-se dito ainda que as alterações não chegarão de rompante (assim como o comboio que chega ao fim da linha), mas surgirão através de agravamentos sucessivos das condições actuais. Traduzindo tudo isto, e a atribuir o que agora se passou à alteração global das condições climatéricas, será de prever que situações semelhantes se venham a repetir num futuro menos longínquo que o que estávamos habituados.
O “ciclo dos cem anos” para cheias e fenómenos semelhantes, parece estar a encurtar o seu ciclo. Em consequência, surgem outros factores: se o risco de uma cheia de 100 anos era uma coisa que poderia até ser aceite, o encurtamento deixa de o ser.
Pretendo com isto dizer que, a verificarem-se as condições tradicionais, poderia ser tentador voltar a construir sobre o “leito de cheia dos cem anos”, pois só daqui a cem anos poderiam ocorrer condições semelhantes, e entretanto o edifício teria cumprido o seu ciclo de vida.
A questão é que com o previsível encurtamento dos ciclos, com o agravar das condições, essas cheias podem vir a acontecer com muito mais frequência e em plena vida dos edifícios.
Do ponto de vista das povoações por onde passam as ribeiras e levadas, a questão é ainda pior: entravar a natural fluidez dos leitos dos rios e das suas margens alagáveis provoca o transborde das águas.
Uma vez saídas dos seus leitos, as águas tomam ímpetos imprevistos e causam destruições tão grandes quanto desnecessárias.
Haverá portanto que reanalisar todos os pressupostos do planeamento e do desenvolvimento dos centros urbanos, de modo a precaver pessoas e bens da fúria das águas que saltam dos seus leitos sem aviso prévio ou complacência, causando dor, destruição e morte.
Se esses não foram os pressupostos no passado, que o sejam no futuro.
Poderá ninguém será culpado agora, mas passará a sê-lo se não aprender com o sucedido. Gostaria que o trágico exemplo da Madeira fosse tido em conta também no Continente.
O que ocorreu lá pode facilmente ocorrer cá também. Os pressupostos do desenvolvimento urbano são os mesmos, e o desrespeito consentido é exactamente igual: somos portugueses uns e outros (mesmo ao arrepio do que alguns dizem).
Do ponto de vista dos poderes públicos (em especial das câmaras municipais), haverá que ser mais exigente na definição dos planos directores e mais rigoroso no seu cumprimento, nomeadamente através da cuidada análise dos pedidos de construção.
E deve-se justificar cada decisão positiva ou negativa, porque elas não podem nem devem ser aleatórias nem ficar-se nas justificações ”que só os técnicos compreendem”.
É que há locais aparentemente fantásticos onde tem de ser proibido construir, por exemplo, porque são leitos de cheias de 100 anos, ou porque são bacias de infiltração que não podem ser impermeabilizadas, ou por mil outras razões nem sempre são fáceis de perceber, é certo, mas que têm de ser explicadas.
A verdade é que a pressão pública para “a asneira” é grande e muitas vezes, não só os grandes mas também os pequenos poderes e as pequenas corrupções, deitam a perder anos de trabalho e de controlo do território de que tanto precisamos e de que tanto dependemos.
“O meu caso” é sempre excepcional (pelo menos para quem o apresenta) mas muitas excepções tornam-se regra e assim tudo é deitado a perder.
Não pode haver excepções. O território tem de ser usado com parcimónia, tratado com cuidado e gasto com moderação porque, não o esqueçamos, o território é um recurso não renovável.
Caso contrário, todos perderemos, como agora ficou bem patente na Madeira.
Fernando Pinto
As vidas humanas não têm preço, diz-se, e na verdade não é de preço que se fala: todas as vidas que desaparecem significam perdas incalculáveis, dramas indizíveis, famílias destroçadas.
Era por isso impensável não discorrer aqui sobre este drama, de que apenas nos apercebemos dos contornos imediatos.
Os que ficam terão de enfrentar a destruição, o vazio, a alteração súbita e violenta dos seus ambientes de vida, mesmo se conseguiram passar fisicamente incólumes por esta provação. Sente-se, subjacente aos relatos jornalísticos, a necessidade quase inconsciente de encontrar um responsável, um bode expiatório para tanta desgraça.
Parece ser essa a prática normal nos tempos que vão correndo, em substituição de uma mais coerente e consistente análise dos factores em jogo.
Há, em primeiro lugar, que aceitar desde já que a queda de água foi excepcional.
Poderemos procurar nas alterações atmosféricas causadas pelo aquecimento global uma razão para isso, mas a verdade é que a ciência ainda não conseguiu compreender tudo o que se passa no Universo (e ainda bem!).
Continua a haver lugar ao inexplicado, que por enquanto se mantém como inexplicável.
E aqui abre-se espaço para respostas mais ou menos esotéricas, mais ou menos divinatórias (no que a palavra tem de divino e de adivinhação), mas não é por aí que valerá a pena ir.
O que sabemos é que estes fenómenos excepcionais ocorrem em ciclos bastante longos, mas ocorrem. Há até uma expressão consagrada que é a “cheia dos cem anos”.
Isso, sabemo-lo de ciência vivida! Também sabemos que já se começam a fazer sentir alterações climáticas que serão fruto da poluição global e de outros factores cuja origem tem sido atribuída à actividade humana desregrada e excessiva.
Tem-se dito ainda que as alterações não chegarão de rompante (assim como o comboio que chega ao fim da linha), mas surgirão através de agravamentos sucessivos das condições actuais. Traduzindo tudo isto, e a atribuir o que agora se passou à alteração global das condições climatéricas, será de prever que situações semelhantes se venham a repetir num futuro menos longínquo que o que estávamos habituados.
O “ciclo dos cem anos” para cheias e fenómenos semelhantes, parece estar a encurtar o seu ciclo. Em consequência, surgem outros factores: se o risco de uma cheia de 100 anos era uma coisa que poderia até ser aceite, o encurtamento deixa de o ser.
Pretendo com isto dizer que, a verificarem-se as condições tradicionais, poderia ser tentador voltar a construir sobre o “leito de cheia dos cem anos”, pois só daqui a cem anos poderiam ocorrer condições semelhantes, e entretanto o edifício teria cumprido o seu ciclo de vida.
A questão é que com o previsível encurtamento dos ciclos, com o agravar das condições, essas cheias podem vir a acontecer com muito mais frequência e em plena vida dos edifícios.
Do ponto de vista das povoações por onde passam as ribeiras e levadas, a questão é ainda pior: entravar a natural fluidez dos leitos dos rios e das suas margens alagáveis provoca o transborde das águas.
Uma vez saídas dos seus leitos, as águas tomam ímpetos imprevistos e causam destruições tão grandes quanto desnecessárias.
Haverá portanto que reanalisar todos os pressupostos do planeamento e do desenvolvimento dos centros urbanos, de modo a precaver pessoas e bens da fúria das águas que saltam dos seus leitos sem aviso prévio ou complacência, causando dor, destruição e morte.
Se esses não foram os pressupostos no passado, que o sejam no futuro.
Poderá ninguém será culpado agora, mas passará a sê-lo se não aprender com o sucedido. Gostaria que o trágico exemplo da Madeira fosse tido em conta também no Continente.
O que ocorreu lá pode facilmente ocorrer cá também. Os pressupostos do desenvolvimento urbano são os mesmos, e o desrespeito consentido é exactamente igual: somos portugueses uns e outros (mesmo ao arrepio do que alguns dizem).
Do ponto de vista dos poderes públicos (em especial das câmaras municipais), haverá que ser mais exigente na definição dos planos directores e mais rigoroso no seu cumprimento, nomeadamente através da cuidada análise dos pedidos de construção.
E deve-se justificar cada decisão positiva ou negativa, porque elas não podem nem devem ser aleatórias nem ficar-se nas justificações ”que só os técnicos compreendem”.
É que há locais aparentemente fantásticos onde tem de ser proibido construir, por exemplo, porque são leitos de cheias de 100 anos, ou porque são bacias de infiltração que não podem ser impermeabilizadas, ou por mil outras razões nem sempre são fáceis de perceber, é certo, mas que têm de ser explicadas.
A verdade é que a pressão pública para “a asneira” é grande e muitas vezes, não só os grandes mas também os pequenos poderes e as pequenas corrupções, deitam a perder anos de trabalho e de controlo do território de que tanto precisamos e de que tanto dependemos.
“O meu caso” é sempre excepcional (pelo menos para quem o apresenta) mas muitas excepções tornam-se regra e assim tudo é deitado a perder.
Não pode haver excepções. O território tem de ser usado com parcimónia, tratado com cuidado e gasto com moderação porque, não o esqueçamos, o território é um recurso não renovável.
Caso contrário, todos perderemos, como agora ficou bem patente na Madeira.
Fernando Pinto
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Crónicas ao correr da pena
A Melhor do Mês !!!
...Sabem porque é que está de chuva ???
Porque o Sócrates não quis deixar sair o SOL !!!
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Rir é a Solução
Maria Rueff, a 'rã' do 'Morcego'
Maria Rueff estreou-se, esta quarta feira, na ópera O Morcego, naquilo que a própria actriz classifica como uma experiência extraordinária e na qual interpreta a personagem Frosch
A personagem interpretada por Maria Rueff é a de uma rã, figura cómica nesta ópera de Johann Strauss, que quando, em 1992, subiu pela última vez ao palco do São Carlos, numa outra produção, teve Raul Solnado a representá-la.
Esta encenação de O Morcego é da actriz e encenadora alemã Katharina Thalbach, ligada ao Berliner Ensemble (companhia alemã de teatro fundada por Bertolt Brecht e pela mulher deste, Helene Weigel, em 1949).
Entre outros, o elenco integra o tenor Wilhelm Hartmann (Gabriel von Einstein), a soprano Edith Lienbacher (Rosalinde), o tenor Carlos Guilherme (Dr. Blind) e o barítono Bernd Weikl (Dr. Falke). Composta por Johann Strauss, O Morcego (Die Fledermaus) é uma opereta em três atos com libreto de Carl Haffner e Richard Genée, baseado na peça La Réveillon, de Henri Meilhac e Ludovic Halévy, estreada em Viena em 1974.
No São Carlos, O Morcego, que estreou dia 24, terá mais seis récitas: dias 26 de Fevereiro e dias 1, 3, 4 e 7 de Março (20h) e dias 28 de Fevereiro e 6 de Março (16h).
A personagem interpretada por Maria Rueff é a de uma rã, figura cómica nesta ópera de Johann Strauss, que quando, em 1992, subiu pela última vez ao palco do São Carlos, numa outra produção, teve Raul Solnado a representá-la.
Esta encenação de O Morcego é da actriz e encenadora alemã Katharina Thalbach, ligada ao Berliner Ensemble (companhia alemã de teatro fundada por Bertolt Brecht e pela mulher deste, Helene Weigel, em 1949).
Entre outros, o elenco integra o tenor Wilhelm Hartmann (Gabriel von Einstein), a soprano Edith Lienbacher (Rosalinde), o tenor Carlos Guilherme (Dr. Blind) e o barítono Bernd Weikl (Dr. Falke). Composta por Johann Strauss, O Morcego (Die Fledermaus) é uma opereta em três atos com libreto de Carl Haffner e Richard Genée, baseado na peça La Réveillon, de Henri Meilhac e Ludovic Halévy, estreada em Viena em 1974.
No São Carlos, O Morcego, que estreou dia 24, terá mais seis récitas: dias 26 de Fevereiro e dias 1, 3, 4 e 7 de Março (20h) e dias 28 de Fevereiro e 6 de Março (16h).
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Avenue de l'Opera
A Capa do Dia
Quem tenha avisado os visados, que estavam sob escuta, foi muito avisado ao tê-los avisado, porque, assim, os avisados visados, ou visados avisados, puderam avisadamente, ter conversas mais avisadas com os outros visados, visados por este avisamento. Em resumo, quem te avisa, teu amigo (a)visado, é...
Perceberam? Eu, não, mas também já não me preocupo...
Nota do 'Galo': O título lá de cima, DVD Crianças, terá alguma coisa a ver com as escutas?
Perceberam? Eu, não, mas também já não me preocupo...
Nota do 'Galo': O título lá de cima, DVD Crianças, terá alguma coisa a ver com as escutas?
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Myra, de Maria Velho da Costa, ganha Prémio Literário
O Prémio Literário Casino da Póvoa foi atribuido à obra de Maria Velho da Costa - Myra.
As outras concorrentes eram A Eternidade e o desejo (de Inês Pedrosa), A não esquerda de Deus (Pedro Almeida Vieira), A Sala Magenta (Mário de Carvalho), O apocalipse dos trabalhadores (de valter hugo mãe), O Cónego (A. M. Pires Cabral), O Mundo (Juan José Millás), O verão selvagem dos teus olhos (Ana Teresa Pereira), Rokushisho (Adriana Lisboa) e Três Lindas Cubanas (Gonzalo Celorio).
O júri foi constituído por Carlos Vaz Marques , Dulce Maria Cardoso, Fernando J.B. Martinho, Patrícia Reis e Vergílio Alberto Vieira.
As outras concorrentes eram A Eternidade e o desejo (de Inês Pedrosa), A não esquerda de Deus (Pedro Almeida Vieira), A Sala Magenta (Mário de Carvalho), O apocalipse dos trabalhadores (de valter hugo mãe), O Cónego (A. M. Pires Cabral), O Mundo (Juan José Millás), O verão selvagem dos teus olhos (Ana Teresa Pereira), Rokushisho (Adriana Lisboa) e Três Lindas Cubanas (Gonzalo Celorio).
O júri foi constituído por Carlos Vaz Marques , Dulce Maria Cardoso, Fernando J.B. Martinho, Patrícia Reis e Vergílio Alberto Vieira.
À vencedora, de quem já não lemos nada há bastante tempo, enviamos as nossas saudações 'galináceas'...
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Leituras em Dia
XXXVII - Como de Hemingway se chega ao Garrett
O Hospital de S. Francisco, olhava-nos, do alto dos seus quatro pisos, com a sobranceria que os seus quase três séculos de existência lhe permitiam.
Fundado em 1743 pela Ordem Terceira de S. Francisco, com escolas no 1º andar, enfermarias para homens e mulheres, respectivamente nos segundo e terceiro pisos e quartos particulares no último andar, é um hospital que faz parte da história da capital do Norte.
Dirigimo-nos à recepção do edifício, sem previamente termos combinado qualquer tipo de estratégia.
Mas, que estratégia poderíamos nós estabelecer se não tínhamos a mínima ideia do que vínhamos procurar?
Várias décadas se tinham passado desde que Ernest Hemingway recebera tratamento, ou estivera internado, nesta unidade hospitalar que, certamente, depois disso sofrera obras profundas de remodelação.
Durante o trajecto, da herdade até à bela cidade nortenha, tínhamos debatido a oportunidade de, mesmo antes de recebermos a tal cópia com todas as citações, começarmos as nossas investigações, sem rei nem roque.
O pragmatismo da Cristina veio ao de cima, como habitualmente “ Não faz mal, se não descobrirmos nada ao menos podemos ir jantar na Ribeira” e com o coquetismo habitual “…à luz das velas !”
Como eu já tinha percebido que a minha bela companheira era o que os franceses chamam de ‘allumeuse’, ou seja, numa tradução livre, uma mulher que gosta de espicaçar os homens, para depois se ‘baldar’, não liguei à provocação, mas, no meu íntimo, e como gosto de comer bem, achei uma excelente ideia.
Mesmo assim, resolvi marcar presença “ Ou, então, em Matosinhos…”
Mas já a minha ‘motorista’ acelerara de novo para ultrapassar um camião TIR fazendo um desgraçado que vinha em sentido contrário enfiar-se na berma da estrada.
Perante um jovem recepcionista, corado até à raiz dos cabelos, vi todo (?) o charme da ‘Foxy Lady’, de novo, em acção.
Fazendo-se passar por jornalista ( “ Do I, já ouviu falar?” ) e apresentando-me como sendo um seu colega fotógrafo ( ainda bem que tínhamos trazido a minha digital), disse ao atordoado mancebo, debruçada sobre o balcão e olhando-o nos olhos quase vidrados que estava a fazer uma reportagem sobre os ex-libris da cidade e que gostaria de ver as partes mais antigas do hospital.
Nem a trémula justificação do funcionário de que havia procedimentos e que essa visita só poderia ser feita com autorização da Administração a impediu de, com mais cinco minutos de sedução descarada, conseguir o pretendido, acrescido, ainda, do próprio se ter oferecido como guia “…já que saio agora de turno”.
Durante, cerca de uma hora, percorremos corredores sombrios e mal iluminados, preenchidos pelos cheiros que são marca registrada de todos os hospitais.
De vez em quando, por uma porta entreaberta, via-se alguém de olhos perdidos numa qualquer mancha de humidade da parede em frente.
Estávamos quase a terminar o tour, maldizendo o tempo perdido e começando eu a ficar um pouco irritado com o ar de embevecimento canino que o rapaz continuava a aparentar, respondendo, contudo, a todas as perguntas feitas por ambos os ‘jornalistas’…
Via-se que tinha estudado a história do Hospital e que possuía profundos conhecimentos acerca do passado do mesmo.
Foi ao espreitarmos por uma varanda debruçada sobre a rua do Comércio do Porto que vimos a artística e trabalhada janela que se destacava de todo o cinzentismo arquitectónico geral.
Vendo o meu óbvio interesse, o improvisado cicerone informou-me:
“ É uma janela de homenagem a Almeida Garrett.
Criada pelo escultor Barata Feyo…”
Fundado em 1743 pela Ordem Terceira de S. Francisco, com escolas no 1º andar, enfermarias para homens e mulheres, respectivamente nos segundo e terceiro pisos e quartos particulares no último andar, é um hospital que faz parte da história da capital do Norte.
Dirigimo-nos à recepção do edifício, sem previamente termos combinado qualquer tipo de estratégia.
Mas, que estratégia poderíamos nós estabelecer se não tínhamos a mínima ideia do que vínhamos procurar?
Várias décadas se tinham passado desde que Ernest Hemingway recebera tratamento, ou estivera internado, nesta unidade hospitalar que, certamente, depois disso sofrera obras profundas de remodelação.
Durante o trajecto, da herdade até à bela cidade nortenha, tínhamos debatido a oportunidade de, mesmo antes de recebermos a tal cópia com todas as citações, começarmos as nossas investigações, sem rei nem roque.
O pragmatismo da Cristina veio ao de cima, como habitualmente “ Não faz mal, se não descobrirmos nada ao menos podemos ir jantar na Ribeira” e com o coquetismo habitual “…à luz das velas !”
Como eu já tinha percebido que a minha bela companheira era o que os franceses chamam de ‘allumeuse’, ou seja, numa tradução livre, uma mulher que gosta de espicaçar os homens, para depois se ‘baldar’, não liguei à provocação, mas, no meu íntimo, e como gosto de comer bem, achei uma excelente ideia.
Mesmo assim, resolvi marcar presença “ Ou, então, em Matosinhos…”
Mas já a minha ‘motorista’ acelerara de novo para ultrapassar um camião TIR fazendo um desgraçado que vinha em sentido contrário enfiar-se na berma da estrada.
Perante um jovem recepcionista, corado até à raiz dos cabelos, vi todo (?) o charme da ‘Foxy Lady’, de novo, em acção.
Fazendo-se passar por jornalista ( “ Do I, já ouviu falar?” ) e apresentando-me como sendo um seu colega fotógrafo ( ainda bem que tínhamos trazido a minha digital), disse ao atordoado mancebo, debruçada sobre o balcão e olhando-o nos olhos quase vidrados que estava a fazer uma reportagem sobre os ex-libris da cidade e que gostaria de ver as partes mais antigas do hospital.
Nem a trémula justificação do funcionário de que havia procedimentos e que essa visita só poderia ser feita com autorização da Administração a impediu de, com mais cinco minutos de sedução descarada, conseguir o pretendido, acrescido, ainda, do próprio se ter oferecido como guia “…já que saio agora de turno”.
Durante, cerca de uma hora, percorremos corredores sombrios e mal iluminados, preenchidos pelos cheiros que são marca registrada de todos os hospitais.
De vez em quando, por uma porta entreaberta, via-se alguém de olhos perdidos numa qualquer mancha de humidade da parede em frente.
Estávamos quase a terminar o tour, maldizendo o tempo perdido e começando eu a ficar um pouco irritado com o ar de embevecimento canino que o rapaz continuava a aparentar, respondendo, contudo, a todas as perguntas feitas por ambos os ‘jornalistas’…
Via-se que tinha estudado a história do Hospital e que possuía profundos conhecimentos acerca do passado do mesmo.
Foi ao espreitarmos por uma varanda debruçada sobre a rua do Comércio do Porto que vimos a artística e trabalhada janela que se destacava de todo o cinzentismo arquitectónico geral.
Vendo o meu óbvio interesse, o improvisado cicerone informou-me:
“ É uma janela de homenagem a Almeida Garrett.
Criada pelo escultor Barata Feyo…”
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A Amante Misteriosa
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010
Gourmet a preços de Tasca
A Lisboa Restaurant Week by Sabor do Ano, que começou ontem, apresenta algumas novidades e vai decorrer até ao dia 6 de Março, contando com a participação de mais de 40 dos mais reputados locais gastronómicos da cidade: Eleven, Olivier, Vela Latina, Flores, Panorama, Varanda, Il Gattopardo, Mezzaluna, Arola, Ad Lib, Vela Latina, Tágide, L´Appart, Gemelli, Kais, Suite, XL, entre muitos outros.
As grandes novidades desta edição da Lisboa Restaurant Week relacionam-se com as ementas. Através de uma parceria com a iniciativa “Peixe em Lisboa”, os restaurantes apresentam no cardápio Restaurant Week um novo menu. O Menu sugestão “Peixe em Lisboa” tem um custo ligeiramente superior (25 euros) e terá uma sugestão de Peixe ou Marisco, contemplando os mesmos princípios de contributo social do já habitual Menu Restaurant Week (20 euros).
Tratando-se, também, de uma iniciativa solidária, a Lisboa Restaurant Week contribui com o donativo de 1 euro, por refeição, a favor das instituições parceiras – Associação Viver a Ciência e Cais.
Recorde-se que, nas primeiras edições da Lisboa Restaurant Week, foram servidas cerca de 15 mil refeições, que reflectiram a essência da iniciativa: “Possibilitar o acesso democrático à restauração, oferecendo a todos o acesso à gastronomia de qualidade sob um preço convidativo, tornando acessíveis restaurantes muitas vezes inacessíveis.”
Agora, já sabem. Mas, antes de ir, façam sempre a reserva da sua mesa!
As grandes novidades desta edição da Lisboa Restaurant Week relacionam-se com as ementas. Através de uma parceria com a iniciativa “Peixe em Lisboa”, os restaurantes apresentam no cardápio Restaurant Week um novo menu. O Menu sugestão “Peixe em Lisboa” tem um custo ligeiramente superior (25 euros) e terá uma sugestão de Peixe ou Marisco, contemplando os mesmos princípios de contributo social do já habitual Menu Restaurant Week (20 euros).
Tratando-se, também, de uma iniciativa solidária, a Lisboa Restaurant Week contribui com o donativo de 1 euro, por refeição, a favor das instituições parceiras – Associação Viver a Ciência e Cais.
Recorde-se que, nas primeiras edições da Lisboa Restaurant Week, foram servidas cerca de 15 mil refeições, que reflectiram a essência da iniciativa: “Possibilitar o acesso democrático à restauração, oferecendo a todos o acesso à gastronomia de qualidade sob um preço convidativo, tornando acessíveis restaurantes muitas vezes inacessíveis.”
Agora, já sabem. Mas, antes de ir, façam sempre a reserva da sua mesa!
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Prazeres da Mesa
XXXVI - Detectives amadores
Gostaria de ter tido uma resposta pronta, na ponta da língua mas, na realidade, com apenas aquelas três pistas, não ia conseguir chegar a lado nenhum…
‘A lot of money’, poderia estar relacionado com o ‘tal’ hipotético tesouro. Era, possivelmente, a mais evidente.
Por seu lado, ‘hospital’ ( …mas qual?) talvez indicasse um local.
Finalmente, o ’at least one’ referindo-se a um ‘herói’ era completamente criptado…
Mas nunca fui homem de me deixar abater com a primeira, nem com a segunda, dificuldade.
“ Talvez, se tivéssemos acesso às restantes frases que estavam no papel” avancei eu, como que pensando em voz alta ”…tudo isto se tornasse mais perceptível !”
Com a energia que fazia parte do seu ADN, Cristina sacou, num gesto enérgico, do seu telemóvel hi-tech.
“Isso é para já…”
Levantou-se, marcou um número e começou a falar, debruçada sobre o varandim.
Os raios de sol em contraluz realçavam-lhe o desenho bem torneado das ancas.
Por segundos, esqueci a vista deslumbrante das vinhas do Douro e contemplei embevecido, aquela beleza mais, digamos, humana…
Quando se voltou a sentar, a ‘Foxy Lady’ trazia o olhar brilhante das ocasiões especiais.
“ Amanhã teremos acesso a uma cópia do papel que o tal inspector Gonçalves lhe mostrou hoje de manhã…” e perante o meu ar, certamente, surpreendido “ tenho amigos bem instalados, em quase todos os sectores.”
Parecendo um pouco desiludida com a minha aparente falta de curiosidade não resistiu a acrescentar “…este a quem liguei, agora, é o Mário Gavião…o ‘fantasma’ do Cantinho de São Pedro”.
O mesmo com que a vira aos segredinhos pelos corredores da mansão de Sintra, pensei eu para com os meus botões.
Mas resolvi não acrescentar nada, para não azedar o clima…
Aproveitámos o resto da tarde para percorrer a casa, na vã esperança de encontrarmos uma passagem secreta, uma arca guardada no sótão, mais um manuscrito que tivesse passado despercebido aos olhos cobiçosos do Comendador Salcedas, qual o quê…
A casa tinha sido, estava certo disso, passada a pente fino.
As únicas referências à passagem de Hemingway por aquelas paragens eram diversas fotografias emolduradas, do barbudo escritor ostentando sempre o seu sorriso varonil, na companhia dos trabalhadores das vinhas, ele próprio de calças arregaçadas a pisar as uvas, ou, então, com uma caçadeira de dois canos, juntamente com outros caçadores, entre os quais se podia vislumbrar, em segundo plano, o tal poeta/pintor com quem teria tido o hipotético romance.
Numa outra, via-se o laureado com o Nobel da Literatura, com a perna engessada, mas sempre com o seu eterno sorriso, à porta de um hospital…
Hospital? Espera lá…
Olhando com mais atenção, o nome da unidade hospitalar, era perfeitamente legível na placa da parede – Hospital de São Francisco.
Voltei-me para a minha companheira de viagem.
“ O que é que lhe parece darmos uma saltada até ao Porto?”
‘A lot of money’, poderia estar relacionado com o ‘tal’ hipotético tesouro. Era, possivelmente, a mais evidente.
Por seu lado, ‘hospital’ ( …mas qual?) talvez indicasse um local.
Finalmente, o ’at least one’ referindo-se a um ‘herói’ era completamente criptado…
Mas nunca fui homem de me deixar abater com a primeira, nem com a segunda, dificuldade.
“ Talvez, se tivéssemos acesso às restantes frases que estavam no papel” avancei eu, como que pensando em voz alta ”…tudo isto se tornasse mais perceptível !”
Com a energia que fazia parte do seu ADN, Cristina sacou, num gesto enérgico, do seu telemóvel hi-tech.
“Isso é para já…”
Levantou-se, marcou um número e começou a falar, debruçada sobre o varandim.
Os raios de sol em contraluz realçavam-lhe o desenho bem torneado das ancas.
Por segundos, esqueci a vista deslumbrante das vinhas do Douro e contemplei embevecido, aquela beleza mais, digamos, humana…
Quando se voltou a sentar, a ‘Foxy Lady’ trazia o olhar brilhante das ocasiões especiais.
“ Amanhã teremos acesso a uma cópia do papel que o tal inspector Gonçalves lhe mostrou hoje de manhã…” e perante o meu ar, certamente, surpreendido “ tenho amigos bem instalados, em quase todos os sectores.”
Parecendo um pouco desiludida com a minha aparente falta de curiosidade não resistiu a acrescentar “…este a quem liguei, agora, é o Mário Gavião…o ‘fantasma’ do Cantinho de São Pedro”.
O mesmo com que a vira aos segredinhos pelos corredores da mansão de Sintra, pensei eu para com os meus botões.
Mas resolvi não acrescentar nada, para não azedar o clima…
Aproveitámos o resto da tarde para percorrer a casa, na vã esperança de encontrarmos uma passagem secreta, uma arca guardada no sótão, mais um manuscrito que tivesse passado despercebido aos olhos cobiçosos do Comendador Salcedas, qual o quê…
A casa tinha sido, estava certo disso, passada a pente fino.
As únicas referências à passagem de Hemingway por aquelas paragens eram diversas fotografias emolduradas, do barbudo escritor ostentando sempre o seu sorriso varonil, na companhia dos trabalhadores das vinhas, ele próprio de calças arregaçadas a pisar as uvas, ou, então, com uma caçadeira de dois canos, juntamente com outros caçadores, entre os quais se podia vislumbrar, em segundo plano, o tal poeta/pintor com quem teria tido o hipotético romance.
Numa outra, via-se o laureado com o Nobel da Literatura, com a perna engessada, mas sempre com o seu eterno sorriso, à porta de um hospital…
Hospital? Espera lá…
Olhando com mais atenção, o nome da unidade hospitalar, era perfeitamente legível na placa da parede – Hospital de São Francisco.
Voltei-me para a minha companheira de viagem.
“ O que é que lhe parece darmos uma saltada até ao Porto?”
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A Amante Misteriosa
A Capa do Dia
TagusPark pagou viagem a Figo no dia do apoio a Sócrates, ligação aérea...
A vida de Eus~ebio no palco do Vilaret, ligação ao Teatro...
Segurança Social penhora 40 carros por dia, ligação directa...
Ligação a D'Onofrio alvo de buscas da PJ, ligações perigosas...
A vida de Eus~ebio no palco do Vilaret, ligação ao Teatro...
Segurança Social penhora 40 carros por dia, ligação directa...
Ligação a D'Onofrio alvo de buscas da PJ, ligações perigosas...
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1ª Página
Sal&Pimenta - Tempero semanal de José Manuel de Sousa
MADEIRA
Mais uma vez, a Natureza veio dar uma dura lição ao Homem. De forma dramática com o sacrifício de vidas, o sofrimento e a destruição incalculável.
Não há palavras para tudo descrever e mesmo as impressionantes imagens transmitidas em directo, decerto terão sido uma pálida visão do que enfrentou quem estava perto das torrentes de água e dos deslizamentos de terras e rochas.
Não há palavras para tudo descrever e mesmo as impressionantes imagens transmitidas em directo, decerto terão sido uma pálida visão do que enfrentou quem estava perto das torrentes de água e dos deslizamentos de terras e rochas.
A nossa Ilha da Madeira , internacionalmente conhecida e louvada pelas suas belezas e pela gentileza dos seus habitantes, é hoje o exemplo da tenacidade de quem tem de enfrentar as perdas de familiares e amigos, de casas e carros, de lojas e de tudo o mais que desapareceu em poucas horas.
Não adianta agora procurar explicações e porque de um fenómeno se tratou, por mais cuidado que tivesse existido no planeamento do desenvolvimento da rede viária, na implementação dos percursos hídricos e na permissão de algum desordenamento urbano , a chuva em volume inimaginável teria tido resultados similares.
Independentemente da solidariedade institucional que logo se manifestou, a verdade é que todos os portugueses sentiram a necessidade de apoiar a Madeira, facto que devemos realçar.
Independentemente da solidariedade institucional que logo se manifestou, a verdade é que todos os portugueses sentiram a necessidade de apoiar a Madeira, facto que devemos realçar.
E até recentes episódios nada dignificantes interpretados por certos políticos e governantes, foram esquecidos talvez temporariamente, porém assim revelando que para lá das cores da camisola o nosso coração , o coração dos portugueses, cuida de mostrar sempre que necessário, uma doçura incomparável.
Há muito que eu não acredito na capacidade de prever os desatinos da Natureza e são muitos os exemplos terríveis que o passado documenta. Por isso devemos estar sempre preparados para o pior, por muito que tal nos custe.
E termino esta croniqueta habitual com o sentimento de que mesmo neste blog de bom saber e ligeiro humor, fica bem uma palavra de conforto para com os que sofrem na Madeira e sobretudo com uma mensagem de confiança na sua proverbial coragem de ilhéus.
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Sal e Pimenta
Dizer que é irritante dizer - Ricardo Araújo Pereira
A acumulação de casos políticos
trouxe consigo uma previsível acumulação
de comentadores políticos.
Qual delas é mais perniciosa para o País?
É difícil dizer
Em primeiro lugar, dizer que estamos perante uma nova moda linguística.
Qual? Antes de mais, manifestar perplexidade pela falta de perspicácia do leitor.
Há um novo modelo de expressão, divulgado sobretudo por comentadores televisivos, mas que, como tudo o que é bom, tem vindo a extravasar as fronteiras da televisão e a enraizar-se nos hábitos do cidadão comum.
Se há coisa que o cidadão comum aprecia é a apropriação de chavões do discurso de profissionais da televisão, com destaque óbvio para os jornalistas desportivos.
O cidadão comum está frequentemente em casa, munido de um bloco de apontamentos e uma caneta, a recolher uma vasta quantidade de "tudo fizemos", de "quando assim é", e de "apenas e só".
Começar frases com o verbo no infinitivo é uma moda recente mas pujante.
Em pouco tempo, superiorizou-se a outras modas, também populares, como a que impõe que nenhum relato possa principiar sem a expressão "então é assim".
E o sucesso da nova moda é tanto mais surpreendente quanto a sua origem: o mundo, frequentemente aborrecido, da análise política.
A acumulação de casos políticos trouxe consigo uma previsível acumulação de comentadores políticos.
Qual delas é mais perniciosa para o País? É difícil dizer.
Mas é extraordinariamente simbólico que, por causa da crise, várias pessoas tenham sofrido: as pessoas que constituem aquilo a que antigamente se chamava o povo vivem pior, mas as pessoas do singular e as pessoas do plural também passam por dificuldades.
Nunca mais se ouviu falar delas. A primeira pessoa do singular nunca mais falou.
O comentador político do passado, que falava na primeira pessoa, deu lugar ao comentador moderno, que inicia raciocínios a dizer "dizer".
Em primeiro lugar, dizer que a situação é complexa.
Depois, dizer que o segredo de justiça tem sido vilipendiado.
Para terminar, dizer que o procurador-geral tem estado tíbio.
É, no fundo, o comentador-Tarzan. Mim dizer, tu ouvir.
Trata-se de uma estratégia linguística que reduz ao mínimo as conjugações verbais.
Para fazer comentário político, ninguém precisa de saber conjugar um verbo, o que acaba por ser democrático.
Pela minha parte, aprecio qualquer observação política que faça ainda mais sentido se lhe acrescentarmos, no início, a expressão "grande chefe índio".
Grande chefe índio dizer que a situação é complexa.
Grande chefe índio dizer que o procurador-geral tem estado tíbio.
Parece mesmo que vivemos no faroeste.
Ora aqui está como a forma de expressão pode produzir conteúdo.
Ricardo Araújo Pereira in Boca do Inferno (Visão)
trouxe consigo uma previsível acumulação
de comentadores políticos.
Qual delas é mais perniciosa para o País?
É difícil dizer
Em primeiro lugar, dizer que estamos perante uma nova moda linguística.
Qual? Antes de mais, manifestar perplexidade pela falta de perspicácia do leitor.
Há um novo modelo de expressão, divulgado sobretudo por comentadores televisivos, mas que, como tudo o que é bom, tem vindo a extravasar as fronteiras da televisão e a enraizar-se nos hábitos do cidadão comum.
Se há coisa que o cidadão comum aprecia é a apropriação de chavões do discurso de profissionais da televisão, com destaque óbvio para os jornalistas desportivos.
O cidadão comum está frequentemente em casa, munido de um bloco de apontamentos e uma caneta, a recolher uma vasta quantidade de "tudo fizemos", de "quando assim é", e de "apenas e só".
Começar frases com o verbo no infinitivo é uma moda recente mas pujante.
Em pouco tempo, superiorizou-se a outras modas, também populares, como a que impõe que nenhum relato possa principiar sem a expressão "então é assim".
E o sucesso da nova moda é tanto mais surpreendente quanto a sua origem: o mundo, frequentemente aborrecido, da análise política.
A acumulação de casos políticos trouxe consigo uma previsível acumulação de comentadores políticos.
Qual delas é mais perniciosa para o País? É difícil dizer.
Mas é extraordinariamente simbólico que, por causa da crise, várias pessoas tenham sofrido: as pessoas que constituem aquilo a que antigamente se chamava o povo vivem pior, mas as pessoas do singular e as pessoas do plural também passam por dificuldades.
Nunca mais se ouviu falar delas. A primeira pessoa do singular nunca mais falou.
O comentador político do passado, que falava na primeira pessoa, deu lugar ao comentador moderno, que inicia raciocínios a dizer "dizer".
Em primeiro lugar, dizer que a situação é complexa.
Depois, dizer que o segredo de justiça tem sido vilipendiado.
Para terminar, dizer que o procurador-geral tem estado tíbio.
É, no fundo, o comentador-Tarzan. Mim dizer, tu ouvir.
Trata-se de uma estratégia linguística que reduz ao mínimo as conjugações verbais.
Para fazer comentário político, ninguém precisa de saber conjugar um verbo, o que acaba por ser democrático.
Pela minha parte, aprecio qualquer observação política que faça ainda mais sentido se lhe acrescentarmos, no início, a expressão "grande chefe índio".
Grande chefe índio dizer que a situação é complexa.
Grande chefe índio dizer que o procurador-geral tem estado tíbio.
Parece mesmo que vivemos no faroeste.
Ora aqui está como a forma de expressão pode produzir conteúdo.
Ricardo Araújo Pereira in Boca do Inferno (Visão)
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Crónicas dos Bons Malandros
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
Frase do Dia
os jogadores não fumam, não bebem
e... Não jogam!!!
Enviado pela Maria Moura
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Rir é a Solução
Mais duas vitórias do Guadalupe (...e dos meus filhos, claro está!)
Há cerca de duas semanas (...desculpem-me o atraso) realizou-se mais uma jornada de Futebol InterEscolar, no âmbito do Desporto Escolar, tendo cabido ao Colégio Guadalupe receber duas equipas a quem infligiu pesadas derrotas.
Nesta jornada participaram os meus três filhos, dois como jogadores e um como árbitro, a mostrar que não é só no Futebol Profissional que há 'cunhas'...
Nesta jornada participaram os meus três filhos, dois como jogadores e um como árbitro, a mostrar que não é só no Futebol Profissional que há 'cunhas'...
O Francisco é o primeiro, em pé, à esquerda ( a meter os pés para dentro), o Rodrigo é o quinto a contar da esquerda, ou da direita, e o Afonso, na fila de baixo, é o último da direita. Centro, Esquerda e Direita, a mostrar que não têm preconceitos.
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Amigos do Galo,
Fait Divers
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