sábado, 20 de fevereiro de 2010

TAXI - A dança do ventre que valia (...valeu) milhões!

Istambul é uma cidade de contrastes.
Dividida entre dois continentes – com uma parte na Europa e outra na Ásia, não pára aí a sua diversidade cultural, étnica e, até, religiosa.
Bazares lado a lado com haréns, mesquitas, para todos os gostos, pedindo meças a imponentes basílicas, e, por fim, jovens roliças exibido curvas atraentes e decotes profundos cruzando-se com mulheres completamente escondidas atrás de burcas opacas.

Até na diversidade dos nomes, esta cidade enorme, cerca de doze milhões de habitantes que fazem dela a 5ª maior em população, tinha que ser diferente.
Istambul, Constantinopola e Bizâncio ( desculpem a publicidade subliminar à Editora) são os nomes que esta metrópole já teve, enquanto foi capital dos impérios romano do oriente, do otomano ou do turco.

Só estive uma única vez em Istambul.
Na altura, a cidade era muito mais atrasada do que me dizem ser agora.
Amigos meus retratam-me uma realidade que pouco tem a ver com a sujidade e atraso com que me deparei nessa minha primeira e, até à data, singular viagem.

Todos os cabos, de electricidade e telefónicos, passavam pelo ar, entre os prédios, cruzando as ruas, num desenho abaulado, ameaçando cair sobre as nossas cabeças, a qualquer momento.
A maioria esmagadora dos restaurantes era péssima e muito pouco habituada a visitantes.
Quando um dia, depois de muito procurar, descobri um, com baldes de frapê em cima de todas as mesas, julguei ter descoberto a salvação para uma refeição, por fim, satisfatória.
Engano o meu. Os baldes estavam lá, mas não existia gelo para colocar dentro.
Por isso eram utilizados, apenas, como se fossem bandejas, servindo só para transportar as bebidas, quentes, mesmo no caso das cervejas.

Bem, mas vamos ao que interessa.
Nessa época, era muito difícil encontrar alguém, fora dos hotéis, que entendesse inglês.
Com mais facilidade descobríamos pessoas que falavam alemão, devido ao facto de muitos turcos emigrarem para a Alemanha.
Então o que se fazia era pedir na recepção do hotel que nos escrevessem o destino onde queríamos ir – Grand Bazaar ou Mesquita Azul, por exemplo – em turco, para mostrarmos ao taxista.
A volta, invariavelmente para o hotel, era mais fácil, porque bastava mostrar o cartão já preparado para o efeito.

Ora, depois de ter feito a volta das mesquitas, Beyazid, Suleymaniye, a maior de todas, ou a do sultão Ahmed, de ter ouvido os muezzins a convocarem os fiéis para a oração, de ter discutido o preço de inúmeros tapetes, sem comprar nenhum, no Sultanahmet ou nos diversos mercados, resolvi riscar da agenda a atracção turca que estava, ainda, em falta – assistir a uma dança do ventre.
Informei-me no hotel de qual seria a melhor zona para assistir a um espectáculo com classe, nada de mixuruco ou a puxar para o ordinarote…
Segundo a explicação, dada num inglês algo macarrónico ( os recepcionistas mais fluentes eram os do turno diurno que, entretanto, já tinham saído) o local mais indicado ficava já na parte asiática da cidade num local que o prestimoso jovem se apressou a escrever num cartão do hotel.

O problema seguinte foi a tentativa de cambiar dinheiro.
Na altura, o euro não passava de uma miragem futurista, o dinheiro em Portugal era ainda o velho escudo e, localmente, falava-se em liras turcas.
Milhões de turcas, aliás.
Para terem uma pálida ideia, convém dizer que com 1 milhão de liras compravam -se, apenas, duas garrafas pequenas de água.
Contei o numerário. Cerca de 100 milhões de liras turcas.
Não sei se terá sido a imponência do número que me descansou, mas achei que para uma viagem de ida e outra de volta, mais uma qualquer ceia no local nocturno, esse dinheiro iria chegar…e sobrar.
E, sendo assim, lá me meti num táxi.

A coisa começou a correr mal, ainda o carro não tinha andado uma dezena de metros.
O motorista olhava para o papel e emitia um qualquer som gutural, olhando-me inquisitivo, sem, logicamente, obter qualquer resposta do meu lado, já que eu não fazia a mínima ideia do que é que  me estaria a indagar.
Ele perguntava-me “Catalca?” e eu respondia-lhe, que sim, “Catalca…”

A bem da compreensão do que se vai passar a seguir, devo dizer que o tal “Catalca”, como vim a saber no dia seguinte, seria o equivalente a um turista apresentar um papel a um taxista luso que dissesse apenas “Marginal”.
O desgraçado ficaria sem saber se o destino era Algés ou Cascais, o que faz toda a diferença.
A ideia do recepcionista tinha sido dizer-me que lá na “Marginal” deles havia diversos locais com dança do ventre, mas sem precisar, exactamente, onde.

E assim lá fomos seguindo tranquilamente, pelo menos de início.
Cruzámos a Ponte do Bósforo e seguimos rodando para destino desconhecido.
Para mim…e para o motorista.
E o taxímetro sempre em funcionamento…
Milhão a milhão, comecei a ficar preocupado.
E na tal “marginal” não se via um só néon que indicasse Belly Dancers.

Muitos quilómetros e milhões de liras turcas depois, lá vi um local meio escondido que se assemelhava vagamente a um restaurante.
Paguei e com o dinheiro restante, que já mal iria chegar para pagar a viagem de regresso, entrei no tasco, com a esperança de ver umas ‘odalascas’ em poses sensuais.
Qual o quê. Bebi uma ‘mine’ turca e morna ( serão sinónimos?), chamei novo táxi e regressei ao hotel.

Sem uma data de milhões de liras…
…e sem ter visto nenhum ventre turco, para além do do taxista, claro está!

Um comentário:

  1. N0 final da década de 80 estive em Istambul, numa paragem de um cruzeiro.
    Gostei do que visitei mas tive pouco contacto com os habitantes, excepto no famosos Bazar.
    Gostei.

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