terça-feira, 7 de abril de 2009
Desalinho na Linha
Fui ao Porto, no Alfa.
O charme do comboio (TGV para quê mesmo?) não chega para apagar a impressão com que se fica em 2/3 da paisagem rural e urbana do centro/norte.
Desabafo como o escrevi, na altura.
Que me perdoem os puristas da métrica, da sintaxe, da rima e até de Portugal!
Tão feio que é este portugal
Que viaja comigo, à janela
Linha fora, a paisagem que era bela
Num horror desalinho sem igual
Casinhas aos magotes, sem eira
Nem beira, sem traça, que desgraça…
Alpendres de azulejos, castanhos!, como se quer
Bidés, antenas, fardos nos telhados
Tudo vale neste salve-se quem puder
É ver hortas nos quintais
E nos sótãos, pombais
E pelas couves ladra um cão
Sempre à corrente, nunca pela mão
Sucatas, bidons, galinhas e sei lá que mais!
Espantalhos de lata dão milho aos pardais
Tudo isto é vê-lo desfilar, sem descanso
Impondo-se como regra, constante desafio
Onde vale mais: fazer da terra ranço
Ter a casa habitada de bafio
Fazer sala na barraca do quintal
Ter tudo pintado cor de breu
Tomar banho e ainda assim cheirar mal!
A não ter nada a que chamar seu…
Moira de Trabalho
Etiquetas:
Figura sem Estilo
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Cara Moira,
ResponderExcluirFaço com alguma frequência essa viagem e sei do que fala. O meu sentimento é a angústia.
Moira, Moira, a culpa foi de quem nos separou do Continente a Sul, ou melhor, de quem por cá andou umas centenas de anos e depois se foi embora..
ResponderExcluirNão tarda muito ( e eu que o diga) seremos ultrapassados por Marrocos.
Quanto ao bom Alfa, já está condenado pelo TGV.
E isso é de um País a sério?
Esqueçamos o país que temos e pelo qual não poderemos fazer muito, a não ser lamentarmo-nos e analisemos a qualidade de algumas pessoas que por cá andam , algumas mesmo aqui ao lado neste blogue.
ResponderExcluirEntão agora a Moira além do talento, que todos lhe reconhecemos ,para a escrita e para o desenho também poetisa?Os talentos foram muito mal distribuídos mas muitos parabéns, mesmo assim.
Muito interessante, Moira de Trabalho.
ResponderExcluirParabéns.
Não concordo com PG pois não adianta "chorar sentados" sobre o País.
Temos de lutar para o mudar e muito ! E com este poema está dando o seu contributo.
Já ouvi essa crítica às casas rurais vinda de doutores, engenheiros e arquitectos da capital...
ResponderExcluirMas as pessoas não terão direito a escolher o tipo de casa onde querem viver, ou têm que seguir as directivas dos "cérebros" citadinos?
Moira, esqueceu-se das fogueiras de pneus bordejando a linha....
ResponderExcluirSou do tempo das estações de combóio floridas, com concursos e tudo, das barriquinhas de ovos moles anunciadas nas estações, das regueiiiifas (quem não se lembra??) da bilha de água fresca, da paisagem verde, verde, azul de mar...
Estou uma saudosista de coisas boas!!!!!!!!
Tomáramos nós que fossem casas rurais, MTH...
ResponderExcluirMas como deve saber, lá por estarem no campo não podem de imediato designar-se de "rurais".
Sabe ao que me refiro, não sabe?
Casebres lúgubres cobertos de chapa ondulada e no interior um LCD de 32''.
A pobreza económica não é tema; a de espírito, sim.
E essa pode e deve ser contrariada.
E em nome do"povo é quem mais ordena" e "Liberdade a todo o custo" vamos deixar que os emigrantes, os pato bravos e os empreendedores imobiliários vão plantando chalets suiços,abortos e atentados ao bom gosto pelo interior e litoral deste país?
ResponderExcluirClaro que alguém vai já perguntar o que é "bom gosto", e tem razão porque o gosto varia com as épocas, gerações e modas, mas não poderia haver, ao menos, alguma regulamentação? Para não continuarem a destruir o pouco que resta do Algarve, da Costa Vicentina,etc.
"A pobreza económica não é tema", mas esse é que devia ser o principal tema.
ResponderExcluirEntão, em que é que ficamos?!
ResponderExcluirO povinho endinheirado pode ou não construir os barracos que quiser?
Estou dois dias fora e quando volto passo duas horas a ler os posts e os comentários e mais uma hora a comentar. É obra, mas não me queixo.
ResponderExcluirAté me esqueci de comentar o excelente poema satírico da Moira, embora tenha achado os desenhos, desta vez , mais sumidos o que não tem nada a ver com a qualidade mas, sim,com a definição da reprodução.
ResponderExcluir