sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

O Partido Impopular Monárquico

O país está numa situação delicada.
Todos devemos contribuir com propostas

No ano em que se comemora o centenário da República, o Partido Popular Monárquico quer propor um referendo para saber se os portugueses preferem a monarquia.
É um bocadinho como ir a um congresso de vegetarianos perguntar se alguém quer uma posta mirandesa, mas os 15 090 votos que o partido obteve nas últimas eleições legislativas terão feito germinar nos seus dirigentes a forte suspeita de que há uma grande vaga de fundo na sociedade portuguesa a favor da causa monárquica.
É natural, são números que impressionam.
Os monárquicos dizem que nunca ninguém perguntou aos portugueses se queriam viver num regime republicano, pelo que faz sentido referendar a questão - até por razões de equidade relativamente àquele referendo, em 1143, no qual os portugueses foram chamados a dizer se queriam viver 750 anos num regime monárquico.

Por mim, apoio o referendo. Sendo republicano, tenho admiração pelos monárquicos.
Gente que não quer uma figura decorativa eleita por todos e exige uma figura ainda mais decorativa que recebe o cargo de herança.
A diferença é tão subtil que é forçoso admirar quem se bate por ela.
Além do mais, a monarquia é o regime ideal para todos
os que já perceberam que Portugal não ir
á a lado nenhum enquanto for dirigido por portugueses.
Nesse aspecto, a monarquia, no seu fulgurante antipatriotismo, é mais lúcida: a família real inglesa é de origem alemã e dinamarquesa, o príncipe espanhol tem ascendência grega.
É muito raro que o rei de determinado país seja aquilo a que se pode chamar um natural desse país.
Seria a nossa esperança, se o rei mandasse alguma coisa.

Conseguirá o PPM convocar o referendo?
Infelizmente, é pouco provável.
É curioso que um partido que se chama "popular" tenha uma falta de popularidade tão grande. Os 0,27% de votos que obteve ficaram muito longe de partidos como o PS ou o PSD, mas também bastante distantes dos votos nulos, com 1,37%, e dos votos brancos, com 1,74%.
Há seis vezes mais portugueses que preferem não votar em ninguém do que eleitores do partido monárquico.
Mesmo admitindo que o programa político dos votos brancos faz mais sentido, ainda assim é uma diferença muito grande.

Há que admirar, acima de tudo, o esforço dos monárquicos.
O país está numa situação delicada, a crise agrava-se, o desemprego sobe, o endividamento aumenta.
Todos devemos contribuir com propostas.
Há quem defenda que o país precisa de mais investimento público, quem pense que o país precisa de uma política mais austera.
Os monárquicos acham que o país precisa de D. Duarte. São opiniões.
Creio, por isso, que esta proposta do referendo é o maior contributo do PPM para a política portuguesa desde o comunicado que o partido emitiu logo após a morte de Sousa Franco, na campanha eleitoral das eleições europeias de 2004.
Era um comunicado que dizia, e cito: "Não queremos nem devemos dramatizar, nem tão-pouco fazer do Professor um mártir, mas a verdade é que o Professor também deveria fazer parte das pessoas que não cuidava da sua saúde. Provavelmente, não media a tensão há muito tempo. A sua morte já estava prevista." E concluía: "Ao mesmo tempo, estamos certos, esta foi a melhor e a mais eficiente forma de o Professor dizer basta desta politiquice e dos politiqueiros que a alimentam."
Talvez um dia Portugal volte a ser uma monarquia.
Mas espero sinceramente que isso aconteça apenas muito depois de eu já ter dito basta desta politiquice.

Ricardo Araújo Pereira in Boca do Inferno (Visão)

Um comentário:

  1. Só vou ser monárquico no dia em que eles rifarem esse 'coiso' e os anormais dos irmãos, (sou insuspeito, ele é primo de uma das minhas cunhadas...) e puserem p'ra frente o marquês de Fronteira e Alorna ou o marquês de Castello Melhor.

    Gostos e "coisas"...

    :-)

    Nah, nenhum deles aceitava...

    :-))

    :-)

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