Só brutos carrões à porta, tapeçarias pesadonas pelas paredes, empregados com ar de fidalgotes, e nós com o nosso chassito e em calções...
Não ficámos lá muito tempo a ver aquilo. O nosso tinha uma gigantesca clarabóia ao centro e em baixo dela um buffet de pequeno almoço que nem te conto, nunca precisei de almoçar... lol. :-)
Ela dormia atré muito tarde, de modo que eu pegava no carro e ia variar para Bayonne, comer ostras com vinho branco a copo naqueles cafés/tascas em cima do rio Nive, e visitar as pequenas livrarias da parte basca da cidade (a margem sul).
Lembro-me de lhe ter comprado uns disquitos e "Les Fleurs du Mal" do Baudelaire, por tuta e meia.
Lembro-me de estar num cafézinho de bascos do lado sul (o Calvados era 2 a 3 vezes mais barato que nos cafés dos franceses da margem norte) e como já era tarde pedi para telefonar p'ra saber se a Natália já estava a pé. Já estava, falámos um pouco usando aqueles 'terms of endearment' que ninguém a não ser nós entende, desligo e noto que está o bar todo a olhar para mim, empregado incluído.
O gajo aprochega-se e dix: "Eh, le mec, quelle langue tu parlais lá ?"
E eu percebi qual era a deles (espião da bófia, este ?), e respondi: "T'en fais pas man, ce n'était que du portugais très rapide, touriste moi, parlais à ma femme à l'hotel".
Aí relaxou tudo um pouco, mas logo que achei decente dei de frosques dali...
À tarde ou íamos passear para a zona da fronteira (paisagens lindas, antigos fortes e conventos transformados em hotéis de charme, (havia um do tempo do imperador Carlos V), vilórias lindas cheias de lojecas e hotéis baratos e edifícios antigos fenomenais, apinhadas de turistas.
Se estivesse bom tempo íamos comer marisco a um daqueles restaurantes de um basco que nos tinham recomendado em Biarritz (chez Albert ?), ficava nas rochas de frente p'ro mar.
A Natália há-de ter fotos.
Só nos anos dela é que fomos ao melhor restaurante de lá, já não lembro o nome, ficava no centro, chovia a potes e custou-nos 'la peau des fesses'... :-)
Não achei grande graça a S.Jean de Luz, isso é que me pareceu Quarteira em finaço, e estava quase tudo fechado, era Abril.
Quando chovia, eu trazia de Bayonne o jantar, pão, presunto, queijos, whatever, e champagne (era sempre Piper-Heidsick, melhor e mais barato que o Mumm Cordon Rouge) e enfiávamo-nos no quarto do hotel (Régina et du Golf ?) a comer e ver concertos da Barbara na 'chaîne locale'.
Achámos Biarritz carote, acho que tudo o que lá comprámos foi uma aguarela numa galeria -- por graça, uma carafe de Piper-Heidsick -- for the fun, e um guarda-chuva -- por necessidade.
Depois (ou antes ?) fomos para San Sebastian/Donostia, mas isso já são outros quinhentos...
Foram tempos divertidos..."
* O 'por lá' refere-se a Biarritz.
Alv ega
Nota do "Galo": Este texto faz parte de um mail que o Alv ega me enviou, sem pretensões editoriais, nem de forma, e que eu desafiei a que me deixasse publicar, assim mesmo, sem retoques.
Talvez este seja a primeira de outras páginas de 'Os Diários do Alv ega', com a anarquia, riqueza e emoção, que todos lhe reconhecemos. Eu, pelo meu lado, espero que sim...
Achei de muito bom gosto a publicação deste registo de uma fase da vida de Alvega .
ResponderExcluirPelos vistos e lidos, ainda longe do momento presente que também nos desafia e encanta, passe a aparente desarrumação...
Nopes, o por lá refere-se a Biarritz.
ResponderExcluir(Nice foi muito antes, com outra pessoa e sózinho, nos fins de 70...outras histórias, ainda nem conhecia a Natália.)
Isto começou com uma conversa por mail com um velho amigo meu da fac., o Roy, e imagine-se, estávamos a discutir tasquinhas e brasseries em Lyon e arredores...
Já nem lembro como a conversa veio parar aqui a Biarritz, nem como carreguei no botão de Bcc e a 'coisa' foi aterrar no mail do Johnny, tenho que desautomatizar o bicho, senão ainda me lixo.
Seja como fôr o lugar era mítico para pessoas da minha geração...
:-)
Mas se estás relmente interessado, a próxima é capax de ser a de San Sebastian/Donostia...
Sorry pela troca ( a idade não perdoa)mas sabia, perfeitamente, que te estavas a referir a Biarritz, também por lá andei e foi até aí que descobri, pela primeira vez, a bouillabaisse.
ResponderExcluirE então das tasquinhas e da comida de San Sebastian nem se fala.
Mantem o 'bicho no automático' e vê se mandas mais Alv ega's Diary Pages...
Não é para armar...mas o q não gostei de Biarritz adorei de Santander e San Sebastian! Biarritz pareceu-me ter parado no tempo, só lhe faltava mesmo o Sr. Hulot. E caríssimo! Nesse nosso passeio pelo País Basco com alojamento marcado à passagem, estivemos em hoteis de encanto, pequenos restaurantes deliciosos e acolhedores. Foi uma altura quentinha...saíamos do restaurante e ouvíamos BUM!!!!! Mas adorei e havemos de voltar.
ResponderExcluirO Alvega contou tudo muito bem contado!
ResponderExcluirSó se esqueceu de dizer que saímos de Lisboa com uma primavera de 30 graus e que, quando chegàmos ao norte de Espanha, fazia um frio de rachar...
Nas lojas, abafos nem vê-los, que a estação do ano já tinha mudado!
Só o chapéu de chuva, caríssimo, mas lindo, cheio de gomos de côres fortes, agora já muito
velho, mas do qual não consigo desfazer-me!
O Alvega saía cedo para as suas deambulações, lá espiava as livrarias e os cafés, e lá comia as suas ostras com vinho branco, sempre acompanhadas, no final da iguaria, por um "carajilho" (café com um cheirinho), que ele sempre apreciou muito o álcool...
Só não contou que, no dia dos meus anos, mandou colocar no tabuleiro do pequeno almoço, que me levaram ao quarto, uma linda rosa vermelha...
Esta Natália é a mesma de ontem?!
ResponderExcluirDos cem anos de amizade com o "Galo"?!
Como diria a Sapho, atenção mulherada, que esta Natália traça todos...
mais ou menos de volta...
ResponderExcluirpara um prazer enorme: ler um belo naco de prosa corrida com um colorido tão despretensioso e muito saboroso!
obg Alv.
Olha, O Olhar do Planalto também voltou!!!
ResponderExcluirE será que também conheces a Natália???!!!