terça-feira, 12 de janeiro de 2010

V - Para mais tarde recordar

Sempre tive a mania da Fotografia. Desde que, quando eu era miúdo, o meu pai me ofereceu uma Kodak Brownie, um simples cubo de baquelite, como então se dizia, com uma lente plástica rudimentar, que a minha relação com as máquinas fotográficas se tem mantido como uma das mais duradouras e frutuosas da minha vida.

Como adoro viajar, já fotografei o deserto e montanhas geladas, praias tropicais e grandes cidades.
Mas o que eu gosto realmente de captar, com a minha objectiva, são pessoas, no geral, e mulheres, no particular.
De vestido de noite ou em biquini, informais ou com tailleurs de marca, de tudo tenho no meu vasto portfolio, que alberga já uns milhares largos de imagens.
E no decorrer dos anos em que fui acumulando essa vasta colecção, tenho desde negativos a slides, cor, preto/branco, fotografia digital, sem esquecer as polaroids
É com as polaroids, a fotografia instantânea, que fiz, aliás, a colecção mais invulgar e, talvez, mais perversa.
Tenho, pelo menos, uma foto de cada uma das mulheres da minha vida e, posso acrescentar, que foram algumas largas dezenas, com a particularidade de, em todas elas, as jovens, e mesmo as menos jovens, estarem como vieram ao mundo, só que um pouco mais cresciditas e desabrochadas.
Foi a esse arquivo, devidamente digitalizado e arquivado no computador portátil, que resolvi recorrer para me tentar recordar de quem seria a misteriosa B.

‘B’, ainda por cima, não era uma inicial que desse para muitos nomes…

Beatriz, Benilde, Benedita, Bárbara…afinal sempre havia mais do que eu pensara inicialmente, Bela, Belinda, Berenice…Bianca, Branca, Bruna, safa, afinal há bastantes, Belmira, Berta, Brígida….
E, de repente, lembrei-me…e se em vez de nome próprio se se tratar de um diminutivo?
Belinha ( …tive uma namorada chamada Belinha), Becas, Bia, Bibi, não, esse é o da Casa Pia, Bola, Bolota…não chego lá.

De tão entretido que estava na visualização, bem agradável em muitos dos casos, das minhas ex parceiras ocasionais, que nem me apercebi da entrada do Quintela, Dr.Quintela como ele gosta de ser chamado, o director do Gabinete na minha saleta de trabalho ( já tinha dito que minúscula?).
Quando senti a sua respiração de asmático e fumador inveterado em cima do meu pescoço, estremeci sobressaltado.

“Então Nuno, a ver sites pornográficos?” isto acompanhado de um risinho meio sonso que me faz passar dos carretos, a que seguiu a inevitável citação"Não existe antídoto mais poderoso contra a baixa sensualidade do que a adoração da beleza, como afirmava Diderot..."

O Quintela estudou nos Maristas e depois na Católica, é Opus Dei e considera o meu estilo de vida o caminho mais directo e veloz para os reinos do Inferno.
Mas, em simultâneo, e pode ser só impressão minha, sinto que tem alguma inveja da minha, óbvia, poligamia e da minha agitada vida sentimental.
Já o tenho apanhado, quando recebo a visita, frequente aliás, do meu melhor amigo, o Zeca Cabeleira, que gosta de contar histórias escabrosas que se passaram connosco umas vezes e outras apenas na sua imaginação, já o tenho apanhado, repito, a escutar com um ar de quem daria tudo para ter uma experiência semelhante.

Contrariado, senti-me na obrigação de lhe explicar que não se tratava de nenhum site pornográfico, que eu não frequentava esse tipo de sites e muito menos nas horas de trabalho e aflorei, muito pela rama, a questão dos dois telefonemas e do mail acabado de receber.

Perdeu, de imediato, o sorriso untuoso e afivelou uma expressão cristã de bom samaritano.
“E você não vai fazer queixa à polícia, homem?” e passando-me o braço por cima dos ombros
” porque é que não tira o resto dia, faz a participação e vai até casa?” e antes que eu estranhasse a generosidade” eu posso dar-lhe umas traduções e o Nuno pode trabalhar no sossego( piscar de olhos) da sua casa”
Aguardei a inevitável citação" Embora Agostinho da Silva dissesse que o que interessa na vida não é prever os perigos das viagens, é tê-las feito..."e sorriu, com ar satisfeito.

Nesse momento,uma já não tão sorridente Carla, apareceu na ombreira da porta e informou-me.
“ Nuno, está lá fora um tipo com cara de poucos amigos que diz que quer falar contigo.”

4 comentários:

  1. Não vai ser já!
    Isto é só uma manobra de diversão, para nos manter em "suspense"...
    Provavelmente, ainda vamos chegar ao capítulo 69...

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  2. Então e não é que Madame La Contesse acertou em cheio?
    Em relação ao 69 duvido, mas quanto á diversão...
    ...E, pensando melhor no assunto, não será tudo 'diversão'?

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