domingo, 27 de dezembro de 2009

Era uma vez um Astronauta

Mini Série de 8 episódios (5/8)

Quando retomei a consciência, olhei à minha volta.
As quatro paredes da divisão onde me encontrava estavam cobertas por imagens holográficas que representavam uma multidão a assistir à morte de cristãos, num qualquer circo romano.
Ainda, perturbado pelo combate de boxe, apoiei instintivamente o dedo na caixa de comando, que tinha à minha frente.
O cenário que me envolvia a 360º mudou, instantaneamente, para uma paisagem gelada reproduzindo os picos dos Himalaias
Embora toda a casa tivesse uma temperatura ambiental de 24º centígrados, como se podia ler no visor do tal painel, senti-me invadir pelo frio.

Cliquei de novo, no comando, e fui apreciando os sucessivos motivos plásticos, a invadirem-me as paredes, quais hordas de bárbaros.
E hordas de bárbaros, comandadas por um colérico Gengis Khan, eram mesmo um dos motivos, que substituí, rapidamente.
Corridas de automóveis e de cavalos, bailarinas de hula hula, em que me demorei mais uns minutos, vistas aéreas da Grande Muralha da China, jogos de Futebol, e, finalmente, o Carnaval do Rio, com umas esplendorosas mulatas em 3D, a minha opção final.
"Olha a cabeleira do Zézé..." era a música ambiente, quando me levantei para vasculhar o resto da casa.

Não tinha ainda percorrido três metros, quando senti uma presença atrás de mim.
Voltei-me e vi-me perante uma aparição divina - a minha secretária Cláudia, vestida com uma indumentaria de criadita francesa, redesenhada pela Susanne Sommers, olhava-me sorridente.
"O Master deseja alguma coisa?"
O tom metálico da voz levantou-me a primeira suspeita, e o olhar fixo, o andar mecanizado, confirmaram essa minha desconfiança.
Esta nova Cláudia, esplêndida, na sua vestimenta de sonho erótico, não passava de um robot, o CLA27, para sermos mais exactos.
"O Master deseja mais alguma coisa?" papagueava ela, uma vez mais. E perante o meu silêncio "Comida? Leitura? Massagem? Sexo?"

Pelo sim, pelo não, optei pela comida...
"Bife de Avatar? Ostras de Neptuno? Amêijoas à Bulhão Pato?"
Senti-me mais à vontade com as amêijoas...
Quando vi as duas cápsulas castanhas, percebi que talvez não tivesse sido a escolha correcta.
O sabor até não era mau. Uma das cápsulas era o prato principal e a outra era um Pera Manca gelado, que ajudou a comida a deslizar.
Quando a Cláudia, ou a CLA, neste caso, me perguntou"Café? Digestivo?" respondi, sem hesitar"Café, mas com cheirinho!"

Nesse momento, as imagens carnavalescas da parede central apagaram-se momentaneamente e, após um zumbido irritante, foram substituídas por um grupo de três pessoas, estando ao centro o meu Director Geral, aqui como KA134 de barba e cabeleira azuis metalizadas, sua mulher, a sempre bela e pouco vestida GUI42 e o tal da Media, o RED54.
"Olá astronauta Buck Rogers" dirigiu-me o meu superior "temos uma missão de resposta imediata."
Permaneci, em silêncio, sem saber o que responder.
" Meta-se no seu foguetão de serviço e vá salvar a 3ª galáxia, quem vai de cá, 2ª para quem vem de cima!"
Continuei mudo e quedo. O ancião deve ter interpretado mal o meu silêncio"Ah, é claro que receberá ajudas de custo e subsídio de alimentação. GO !!!"

Enquanto a imagem se desvanecia em fade out dando lugar, de novo, a uma brasileira rebolando-se com as cores da Mangueira, pareceu-me vislumbrar o piscar de olho da sua companheira e o esgar de ódio do russo malvado. Mas talvez tudo não passasse de uma rasteira da minha imaginação...

Após breve hesitação, perguntei a uma estática CLA27 que se colocara num dos cantos da sala
" Foguetão?"
Quando a vi avançar para mim e começar a despir-me achei que teria percebido mal a pergunta mas, como estava a gostar, deixei que continuasse.
Afinal, o diligente autómato estava só a trocar a minha roupa prática, de trazer por casa, por outra indumentaria mais própria para ir salvar uma galáxia.

Cinco minutos mais tarde , com um elmo transparente colocado e um fato de borracha pressurizado, que me cobria da cabeça aos pés, fui levado até ao interior de um veículo espacial, o Smart XPTO143, onde me sentei num banco ergonométrico que se adaptou automaticamente a todas as reentrâncias e saliências do meu corpo.

Olhei o painel de comandos que se encontrava à minha frente. Frugal na sua simplicidade.
Constituído por três botões, de cores diferentes.
Azul, verde, amarelo...
Como era o verde que piscava, premi-o.

Nesse momento, foi como se o foguetão se tivesse partido em milhões de partículas, senti um arrepio percorrer-me a espinha, uma vertigem e ...
Francesco Vecchio

2 comentários:

  1. Tanta cambalhota para a frente e para trás...e nada de "cambalhotas"?

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  2. Claro que este Francesco Vecchio tinha que escolher o Carnaval do Rio e as Amêijoas à Bulhão Pato...

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