sábado, 26 de dezembro de 2009

Uma operação de diversão - J.M. Nobre-Correia

Um dos factos que mais espantam quando se chega a Portugal
é constatar a importância incrivelmente exagerada
que os média dão ao futebol.
Não ao desporto, repare-se, mas ao futebol
e quase exclusivamente a ele.
Não fosse Portugal um dos muito raros países europeus a contar com três diários desportivos e outros tantos canais de televisão desportiva, consagrados uns e outros antes do mais ao futebol.

Só que o futebol não é apenas o tema central destes média especializados, mas também tema importantíssimo
dos média generalistas.
O que é por demais evidente sobretudo na rádio e na televisão, públicas ou privadas. Praticamente, não há jornal, de manhã à noite, que não trate de futebol.
O que constitui já uma evidente anomalia no plano europeu.

Mas a anomalia maior diz respeito à forma de tratamento adoptada.
Porque não há dia em que não se fale e não se mostrem imagens (perfeitamente desprovidas de interesse) de treinos.
Em que não se evoquem os pequenos problemas físicos
e pessoais dos jogadores.
Em que não tenha direito a conferências de imprensa de treinadores e de dirigentes de clubes. Sem esquecer as deslocações das equipas.

As inaugurações de "casas" deste ou daquele clube.
Ou as retransmissões em directo de manifestações
mundano-desportivas, como a da "Gala da FIFA" desta semana.

Seria particularmente interessante saber quantas televisões generalistas europeias transmitiram tal "gala" ?
E quantas tinham um estatuto público como a RTP 1, que não hesitou em fazê-lo, retardar o Telejornal por causa disso
e evocar o assunto três vezes no dito telejornal ?
É que uma abordagem comparatista permitiria pôr em evidência a anomalia da relação dos média portugueses com o meio futebolístico nacional e não apenas nacional, aliás.
E permitiria melhor compreender porque é que os temas futebolísticos constituem cada vez mais uma verdadeira obsessão nacional.
Uma obsessão que impede que se possam antever outros horizontes e outras perspectivas para a vida quotidiana dos cidadãos…

J.M.Nobre-Correia in Planeta Media

7 comentários:

  1. Já no tempo da "outra Senhora" se dizia...Fado, Fátima ...e Futebol!!!
    Não mudámos assim tanto!

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  2. Tem razão PMP...no tempo da tal outra senhora é que havia porcaria....agora não....Na minha opinião não mudaram as moscas nem mudou o resto...
    O ópio do Povo continua para bom descanso dos que se sentam no poder.
    Mas a culpa é dos mcs , de quem lá manda e trabalha,de nós que aceitamos e de mais ninguem.

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  3. Peço perdão, mas discordo: trata-se do povo que há por aqui !

    Vão a uma tasca ou a um café de uma qualquer terreola ao pé vossasmercês, daquelas que têm lá os jornais para os 'clientes' lerem à borliú, e reparem bem em quem é que está a ler o quê...

    Os media repararam apenas na oportunidade, eu se fôsse director de uma dessas cagadas faria rigorosamente o mesmo.

    Por acaso já repararam que o MST e gajús dos Gato (para só dar dois exemplos) escrevem nesses jornais desportivos ?

    E que o APV -- um cineasta -- é 'comentador' num desses programas desportivos ??

    Abifem-se... ou emigrem.

    :-(

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  4. O povo, meu caro Alvega, somos nós...

    Por mais diferentes que nos sintamos em opinião e em hábitos, a verdade é que uma grande maioria de "nós" assim pensa e age.

    Esta coisa da estatística pode ser profundamente injusta:
    - um tipo como dois frangos, outro não come nenhum; em média, cada um comeu um... mas um deles continua com fome!

    O povo "come" por todos nós, parece-me... e eu continuo esfomeada por outra coisa que não football...

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  5. Somos sim cara Moira... e portanto temos exactamente os 'dirigentes' que merecemos.

    :-(

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  6. Cara Moira...
    Eu também continuo "esfomeada" por outra coisa que não futebol...
    Mas acho que estamos em minoria, "Galo" à parte!
    Otherwise...

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  7. Queria dizer "Galo" inclusive...
    Deve ser do adiantado da hora!

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