sábado, 26 de dezembro de 2009

Conto para o ano inteiro - Ferreira Fernandes

É uma história de Natal, publicada ontem no jornal espanhol El Mundo.
É uma história de um homem, e ponham minúsculas nessa palavra maior, homem.
Há onze anos, o indiano Deepak Saul foi condenado a prisão perpétua pela morte dos seus dois tios, em Nova Deli - gente pobre, todos.
Começou por ser um mistério, assassínio com uma foice, sem testemunhas nem provas. A polícia andava às aranhas.
Foi então que se encontrou, no quarto de Deepak, a arma do crime e roupas manchadas com o sangue dos mortos - como disse o relatório da polícia.
O sangue dos tios era do grupo A, dele, e do grupo B, dela.
Perante esses factos científicos, logo apareceram 17 testemunhas contra Deepak, que acabou por quebrar e confessar.
Onze anos depois, na revisão do processo, o Supremo pôs-se a analisar as provas e topou esta bizarria: o tal sangue na arma e nas roupas era do grupo A+B.
Chamou-se o comissário que conduziu o processo e ele mostrou-se confuso: "Então, A mais B não dá A+B?"
E logo se soube que ele tramara tudo para resolver o mistério.
É uma história de Natal, de um homem contra artimanhas de matilha - uma constante na história da humanidade (continuem nas minúsculas, por favor).
Como nos contos de Natal, há moral a tirar para o ano inteiro: nem sempre A mais B é A+B.

Ferreira Fernandes in Um ponto é tudo ( Diário de Notícias)

2 comentários:

  1. Neste Mundo, 2+2 pode ser 4, 22 ou o que um bom advogado quiser !

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  2. Pode não ser uma grande ideia ser preso em PT, mas na Índia é de certeza pior...

    Em Goa eles utilizam o Forte da Aguada como prisão (as celas são nas caves, é uma loucura para morrer).

    Como devem calcular sei exactamente do que estou a falar (já lá estive, no tempo dos 'tugas', não como preso, of course...) e nem quero saber como serão as prisões do resto da Índia.

    Coitado do Deepak...

    :-((

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