quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Grand Final

64
Uma hora depois, após uma ambulância ter levado o cadáver do alemão, e com dezenas de jornalistas a acotevelarem-se nas salas contíguas, Deolinda Simões, Deo para os íntimos, proseguiu nas suas declarações "... A pobre da Marisa continua em coma no hospital. O que fiz foi o mais puro 'bluff' e acabou por resultar, embora não da forma esperada. Mas a história não termina aqui..." e, agora, olhando directamente para Velic "...sabendo que o Mr. Hans era um doente, como se veio a provar, e que algo poderia vir a correr mal com os venezuelanos, como na realidade aconteceu, este senhor, que gosta de jogar pelo seguro, resolveu apostar noutro cavalo..."

Sorriu ao aperceber-se do ajustado da imagem ao local onde se encontravam.
"...e percebendo que nunca poderia comprar a lealdade do Miltinho, em relação ao patrão, resolveu chantageá-lo. Drogou-o e fotografou-o em situações comprometedoras..."

Ainda Deolinda não tinha concluido esta frase e já as possantes mãos do negro apertavam o pescoço do gigante sérvio.
A raiva contida durante dias, a tensão acumulada, a vergonha de ver o seu caso exposto em público, o medo da avaliação negativa que Sérgio faria , tornaram aqueles dedos cravados na garganta de Velic, tenazes de ferro, armas que se provaram mortíferas.

Quando Teo e Marco conseguiram fazer com que Miltinho soltasse Velic Ustinov, já este não respirava, tendo caído morto no chão.
Mas o ex-combatente não fora desta para melhor, sem resistir até ao último momento.
Só quando Miltinho deu um passo atrás, cambaleante, é que todos viram a mancha vermelha que alastrava na eterna t-shirt preta do hércules do Pagode.

Nova ambulância foi chamada.
Os jornalistas e repórteres presentes, exultavam, as televisões recheavam-se de imagens para directos escaldantes e noticiários requentados, a servir ad nauseum...

Foi a vez de Sérgio Cassini se levantar.
" Bem, vou andando. Acabou por ser uma tarde proveitosa. Perdi um sócio desonesto e fico com a parte dele, sem desembolsar um real..."
Olhou à volta com sobranceria "...eliminei, ou melhor dizendo, auto eliminou-se uma maçã podre que me estava roubando. Só é pena o ferimento do Miltinho, mas ele é forte e se vai recompor rapidinho..."

Marco Tupinambá não deixou continuar "...Realmente, você vai andando, mas algemado para o canburão. Sua mulher nos entregou xeroxes e originais que o vão fazer passar décadas no presídio...".
Se os olhos matassem, a ambulância teria uma outra vítima para transportar.
O Dr. Seabra ainda tentou dizer alguma coisa mas foi calado com um "...nos documentos em meu poder tenho provas que o comprometem até ao pescoço. Se, hoje mesmo, não apresentar sua demissão meto você na prisão o resto da vida, junto com este cafajeste seu protegido..."

O Director- Geral saiu com o rabo entre as pernas.

Deolinda dirigiu-se às quatro pessoas que se mantinham na sala ( o representante do Jockey abandonara já o local, igualmente).
" Três de vocês representam fases importantes da minha vida.
Teo o meu passado, num Portugal suburbano e cinzento, sem ambição nem futuro, onde eu vegetava de uma forma medíocre.
Gabriela, de quem confesso nunca gostei, acabou por significar uma nova oportunidade. É o meu presente, num outro país, outra sociedade e outra forma de estar.
Marco poderá representar o Futuro. A descoberta da cumplicidade, da confiança...o abrir de portas para uma vida melhor..."

Com a voz rouca pela emoção Marco Tupinambá, fez correr o pano.
"...Muito obrigado a todos.
Terminaram aqui, os Crimes do Galo !"

Nota do "Galo":
Não percam amanhã o Epílogo, com inúmeras revelações,
incluindo a biografia do Autor.
Amanhã, neste mesmo local e horário...

2 comentários:

  1. E asim chega ao fim uma "novela" que se tornou quase um vício diário, pelo menos para mim.
    Já há alguma ideia para a substituir?

    ResponderExcluir
  2. Daqui pode ter nascido uma heroína, a Deo, que assim como os famosos Maigret,Poirot e outros, poderá viver mais aventuras. Ou não?

    ResponderExcluir