quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

A secessão do Red Bull - Ricardo Araújo Pereira

Os Estados Unidos dividiram-se em dois
para lutar por causa da escravatura,
Lisboa e Porto
pelejam por causa de aviõezinhos

Quando os especialistas em assuntos prioritários disseram que a questão do casamento entre pessoas do mesmo sexo não era prioritária, fui forçado a acreditar.
Ao contrário da grande maioria dos intervenientes no fórum da TSF, não tenho uma personalidade especialmente talhada para a distinção entre as questões prioritárias e as outras. Procuro, por isso, aprender com quem facilmente destrinça o prioritário do preterível.
Aprendi muito na altura em que se discutiu o casamento entre pessoas do mesmo sexo e continuo a aprender agora, quando vejo alguns dos mesmos para quem esse assunto não era prioritário a discutirem a controversa questão da Red Bull Air Race.
Há que ter sensibilidade para o que é prioritário: o País tem problemas mais urgentes do que a igualdade entre cidadãos, mas a crise pode esperar quando se discute uma competição em que aviões de corrida dão pinotes ao redor de obstáculos de plástico.

Debrucemo-nos então, sem remorso de estarmos a debater uma questão menor e comezinha, sobre a Red Bull Air Race.
Ao que parece, os organizadores da corrida de aviões, que costumava realizar-se no Porto, desejam agora realizá-la em Lisboa.
Como é evidente, sucedeu-se uma polémica que fez germinar uma pequena guerra civil.
Os Estados Unidos dividiram-se em dois para lutar por causa da escravatura, Lisboa e Porto pelejam por causa de aviõezinhos acrobáticos. Cada um tem a secessão que merece.

Percebemos que o caso é sério quando Pacheco Pereira se indispõe.
E Pacheco Pereira indispôs-se.
À beira da apoplexia, aliás a mesma apoplexia pela qual costuma ser tomado quando se encarniça contra eventos como o Red Bull Air Race, encarniçou-se contra o fim do Red Bull Air Race.
Os aviões vão deixar de fazer piruetas no Porto, e Pacheco Pereira não se conforma.
Pacheco Pereira é portuense, e nada do que é portuense lhe é alheio.
Mesmo que sejam aviões em cabriolas sobre o Douro.
Manifestou-se solidário com todos os portuenses que ficaram órfãos dos aviõezinhos.
Considerou absurdo - digo bem, absurdo - que a corrida abandonasse o Porto.
E exigiu esclarecimentos junto do presidente da câmara de Lisboa, a quem a Red Bull pediu que passasse a acolher a corrida.
A Red Bull, pelos vistos, desconhecia que não pode deslocalizar as cambalhotas aéreas que organiza sem esclarecer previamente o Pacheco Pereira.
Fica o aviso para todas as outras marcas de refrigerantes que se atreverem a marcar eventos desportivos fora do Porto.

Ricardo Araújo Pereira in Boca do Inferno (Visão)

3 comentários:

  1. Na "mouche", esta secessão do Red Bull!
    Então, e ninguém consultou, previamente, o Pacheco Pereira???!!!

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  2. Superficial, meus caros. O que está em jogo não são as cabriolas dos aviões mas os muitos, mas mesmo muitos milhares de euros que se agitam em redor do espectáculo.Desta vez o RAP espalhou-se, o que é natural quando se pretende atacar à esquerda e à direita.É assim, de vez em quando todos falhamos.

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  3. O RAP é cá de baixo (e escreve cada vez melhor, ainda bem), o Pacheco (que eu conheço de outros carnavais...) é lá de cima (e escreve cada vez pior) pois queriam o quê ?

    E é como diz o Z.M., o que está em jogo é uma pequena fortuna.
    Aviões não são o meu desporto (cavalos e cães são) mas há imensa gente que gosta e paga p'ra ver...

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