quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Ano Novo - Carlos Drummond de Andrade

Para você ganhar belíssimo Ano Novo cor do arco-íris,
ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação
com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano não apenas pintado de novo,
remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo,
que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come,
se passeia, se ama,
se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens? passa telegramas?)
Não precisa fazer lista de boas intenções para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.

Carlos Drummond de Andrade

3 comentários:

  1. As grandes verdades são sempre ditas em pequenas palavras !
    Somos todos nós e só nós que podemos fazer de cada ano que passa, um bom Ano Novo.

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  2. Ai, mas é mesmo isto!
    Grande CDA! Dizer-se tanto de forma tão límpida até emociona!

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  3. "O que eu desejo para todos é sabedoria. E que todos nós saibamos transformar tudo em uma boa experiência.
    Como por exemplo entender o amigo que não merece nossa melhor parte. Se ele decepcionou, passa para a categoria 3 ou muda de classe, vira colega. Além do mais, a gente provalvemente, também já decepcionou alguem!
    O nosso desejo não se realizou? Beleza, não tava na hora, não deveria ser a melhor coisa para esse momento.
    Chorar de dor, de solidão, de tristeza faz parte do homem. Não adianta lutar contra isso. Mas se a gente se entende e permite olhar o outro e o mundo com generosidade, as coisas ficam diferentes"
    (Carlos Drummond de Andrade)
    Amo esse poeta, merecida homenagem... abços

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