quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Agora que estou, quase, a fazer 65 anos

Quando se tem 5 anos, achamos que vivemos num mundo de gigantes mas que muitos deles nos fazem perguntas idiotas como ‘de quem é esta bochechinha’ ou ‘gostas mais do papá ou da mamã?’

Quando se tem 15 anos, descobre-se que o Segundo Sexo não é apenas um livro, mas sim, uns seres deliciosos, e detestáveis ao mesmo tempo, que nos fazem corar, gaguejar e ficar com as mãos húmidas e outras partes anatómicas sobreaquecidas.

Quando se tem 25 anos, achamos que vamos mudar o Mundo, descobrir a cura do cancro, pintar outra Guernica, escrever a continuação da Guerra e Paz, implantar a Utopia.

Quando se tem 35 anos, somos os donos do Universo, temos as Mulheres todas que queremos, e mesmo algumas que não queremos, somos lindos, ou achamos isso, bronzeados, magros, com cabelo e sem barriga, uns príncipes.

Quando se tem 45 anos, atingimos o nosso máximo, sem estarmos já no pico da pujança física, temos um grau de experiência que suplanta isso e, ao mesmo tempo, profissional e socialmente somos os maiores.

Quando se tem 55 anos, percebemos, pela primeira vez, que a meia-idade é um erro matemático, a não ser que venhamos todos a ser centenários e que a ‘máquina’ tem que ir mais vezes até à garagem para várias rectificações.



Quando se tem 65 anos, constata-se que vivemos num mundo de gigantes, Leonardo da Vinci, Galileu, Shakespeare, Picasso, Pessoa, mas que nós não somos um deles e que muitas das pessoas que nos rodeiam continuam a fazer-nos perguntas idiotas…

Quando se tem 65 anos, continua-se a achar que o Segundo Sexo ( ou deveremos chamar-lhe Primeiro?) são uns seres deliciosos e detestáveis, ao mesmo tempo.

Quando se tem 65 anos, e sorte, continuamos a acreditar na Utopia, na Liberdade, na Igualdade, na Fraternidade e que a Amizade pode ser mais importante que qualquer obra de Arte criada até hoje.

Quando se tem 65 anos, percebemos que somos apenas um grão de poeira no Universo, mas que sem esta poeirada toda, se calhar, o Universo não teria qualquer razão de existir.

Quando se tem 65 anos, somos mais feios por fora mas, às vezes, somos muito mais bonitos por dentro e, quanto às Mulheres, ou temos a sorte de ter encontrado 'A' Mulher ou, então, para que é que nós quereríamos mais?

Quando se tem 65 anos, atingimos todos os picos, dentro da nossa cabeça, e isso não há nenhum cume do Everest que consiga suplantar.

Quando se tem 65 anos, percebe-se que ‘ hoje é o primeiro dia do resto da tua Vida’ como diz o poeta Godinho.

É bom ter, quase, 65 anos…

15 comentários:

  1. Filhinho da mãe, pensei que tinhas sessenta e quatro...


    :-))



    Mas continuas com bom aspecto, don't worry, be happy.

    :-)



    Citando-te:

    "Quando se tem 25 anos, achamos que vamos mudar o Mundo, descobrir a cura do cancro, pintar outra Guernica, escrever a continuação da Guerra e Paz, implantar a Utopia."

    Também já dei p'ra esse peditório.

    :-(

    Acontece, aos melhores (e também aos piores...) de nóizinhos.

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  2. Delicioso ...
    Apesar de ser muito mais novo (só tenho 63 ...) já tenho esses sintomas ...
    Abraço

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  3. Eu também já os tive mas há muito tempo...no fundo é igual aos 65, pouco muda...isso gostava eu !!

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  4. Até aos 50 e "quelques", sinto tudo igualzinho, à excepção das referências ao segundo sexo.

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  5. E já que aqui estou...

    Há pelo menos uma coisa que todos vcs. deviam ouvir antes de "resolverem" passar desta p'ra melhor:

    O falecido Ali Farka Touré (maliano, se não erro...) com o Ry Cooder (americano, Paris, Texas, lembram-se ?
    em "Timbuktu".

    À uma o Farka Touré era um músico genial, às duas, o Cooder além de ser um guitarrista e um músico de eleição, e que adora crossovers é um dos melhores que eu já ouvi em slide (toca-se a guitarra com uma espécie de dedaleira onde os dedos vão às cordas...)


    o "disquito" é este aqui.

    À uma o Farka Touré era um músico genial, às duas, o Cooder além de ser um guitarrista e um músico de eleição, e que adora crossovers é um dos melhores que eu já ouvi em slide (toca-se a guitarra com uma espécie de dedaleira na mão onde os dedos vão às cordas...)

    Just my 'musical' two cents...

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  6. Viva os 65 (presque)!
    ...it was a very good year...lá lá lá

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  7. Como decerto terão reparado, estava só a tentar mudar o assunto, malandrice minha.

    :-)

    Uma coisa é certa: não conheço ninguém que esteja a "enovecer" nos últimos tempos...

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  8. Bonito texto Joâo Francisco.


    Um abraço

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  9. Zé.

    Assino em baixo, lindo texto...

    (Deve estar a acontecer algo de bom ao J. ou então ele retira a inspiração a partir do ar, ou então é genético...)

    Tu aida andas por aí como o outro fulaninho, ou a 'coisa' deixou de te interessar, como por exemplo à moiself ?

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  10. Às vezes é assim...

    Espreitam-se lugares que há muito deixamos de visitar... Aproveitamos a oportunidade e lá está! Um dizer bonito (muito) que nos deixa a pensar: que idade tenho eu?

    Coisas de 25. Coisas de 65.

    Faço-lhe as contas. E a aritmética não é simples. Não me revejo nos 45. Falhei a prova dos nove?

    Volto ao ábaco e detenho-me nos 5. Um mundo de gigantes, onde nos fazem perguntas idiotas! É onde mais me tenho sentido ultimamente.

    Tenho 5 anos. E o melhor do mundo (ainda) são as crianças!

    Olé! (Volto aos 10...) :)

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  11. Excelente La Payita !

    E em português de lei , adorei ler !!

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  12. Magnífica reflexão!
    Receio não poder dizer mais, porque ainda é muito cedo para ter esses sintomas...

    La Payita...
    Não vamos ter que esperar por si outros cinco anos, pois não?!

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  13. Na minha faixa de idade deveria ter todas as mulheres que quizesse,ser dona do Universo e bronzeada, mas não tenho nada disso.
    Só é verdade a parte do cabelo, da magreza e da barriga...

    Agora a sério, texto emocionante e muito bem observado, embora de um ponto de vista muito masculino, como seria natural.

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