sábado, 13 de fevereiro de 2010

O 'Sol', o polvo e a conversa da chacha - Ferreira Fernandes

Do que falamos quando falamos? Já fiz a pergunta várias vezes mas não sou eu que me repito.
O país é que é contumaz. Volta não volta, acontece a mistura fatal, um pingo de magistrados num copázio de jornalistas, e o país fica grogue.
Não diz nem pensa coisa com coisa.
Um dia, um juiz foi buscar um deputado ao Parlamento porque tinha indícios terríveis: o deputado tinha dito "querida" ao seu interlocutor telefónico de voz masculina, logo aquilo cheirava a maricagem e, como se investigava pedofilia, logo o deputado era suspeito. E todos os indícios eram desse quilate.
Ora, o deputado falara com a mulher, de voz grossa, de um amigo.
Como o juiz nem se deu ao trabalho de relacionar o telefone com o seu proprietário, que era uma proprietária, como os jornalistas fizeram eco ao vazio, como os portugueses viraram baratas tontas, chegámos, quase dez anos depois, ao caso Casa Pia sabendo o mesmo que no início.
Nada, embora presumindo muito.
Ontem, comprei o Sol. Li as quatro páginas sobre as escutas que me prometiam relatar o polvo governamental sobre jornais e televisão. Mas não estava lá nada sobre o assunto.
Não quero dizer que Sócrates não quis dominar a Imprensa.
Não digo que o Governo não coma microfones ao pequeno-almoço.

Digo é isto: naquela edição do Sol não estava lá nada sobre o assunto.
Então, do que falamos?

Ferreira Fernandes

Nenhum comentário:

Postar um comentário