quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

XXVI - O aparecimento da B (???)

Cristina ‘Foxy Lady’, de sorriso irónico e expressão falsamente escandalizada, aproximara-se de mim, sem eu me aperceber, entretido que estava com a aristocrata.
Mas não vinha sozinha…
A seu lado, uma criatura de ar andrógino, vestida de corsário (seria algum fato da época de Benjamim Franklin?), com imensos crachats com frases como ‘Yankees go home’, ‘Morte ao Capitalismo’ ou ‘I love Marx’. Reparei que tinha três letras bordadas no lenço vermelho que trazia atado ao pescoço. Quem seria a fulana e qual o significado daquela sigla, numa reunião em que tudo era mistério repleto de simbolismos ?

Mais uma vez, as minhas dúvidas ficaram esclarecidas, com as palavras da Cristina“Quero apresentar-lhe uma amiga dos tempos da faculdade, a Mercedes Trujillo Hernandez, a única de nós todas que continua ‘vermelha’ e a lutar pela derrocada do Capitalismo…”
A amiga mostrou, de imediato, a sua natureza indómita “Os meus avôs foram fuzilados pelas tropas franquistas, o meu pai morreu nos calabouços da PIDE e eu não descansarei enquanto não acabar com o último capitalista.”
Senti um arrepio, não gostaria nada de ter aquela personagem como minha inimiga, mas não correria esse perigo se o meu saldo bancário continuasse como até aqui…
E porque teria ela tanto orgulho no nome, que até a fizera bordar as suas três iniciais no lenço? Os apelidos, e a morte dos avós, pareciam indicar uma ascendência espanhola.

Quando me voltei para apresentar a Marquesa às duas jovens, vi que ela já se afastara para junto do Comendador, com quem trocava palavras em surdina, lançando olhares enviesados para o nosso lado.

Tentei ser simpático para com a Mercedes. Por vezes, debaixo de uma aparente agressividade, pode esconder-se uma natureza terna e envolvente. Já tivera ocasião de verificar tal facto, em outras situações anteriores.
“ Desde a faculdade que não se viam, ou foram mantendo o contacto?”
A resposta surgiu pronta, sublinhada por um toque de sarcasmo na voz ”Mantive sempre contacto com a Cristina, embora tenha sido mais íntimo, diria mesmo, muito mais íntimo, quando viajámos juntas por toda a Europa e durante o período em que dividimos um apartamento na Lapa, antes de ela ter mudado de opções…de vida.”
Senti que se instalara um certo mal-estar mas, felizmente, a tal Mercedes despediu-se, com um breve aceno de cabeça, e deixou-nos de novo sós.

Para quebrar o silêncio, resolvi dizer uma frase sem sentido ”Estranha esta sua amiga” e para que não houvesse más interpretações “…diferente, mas sem deixar de ser atraente.”
O humor acutilante da ‘Foxy Lady’, após os breves segundos em que tinha estado ofuscado, voltou a brilhar.
“ Não se esforce, Nuno” e enfiando o seu braço no meu, com uma intimidade que me agradou ”…a Mercedes não é peixe para a sua rede.”
Isso já eu tinha percebido, mas não sabia se me agradavam as ilações mais óbvias…

Nesse momento, as luzes baixaram de intensidade e, através de altifalantes instalados nos tectos, ouviu-se “ Pede-se silêncio, o nosso Organizador Chefe vai dirigir-vos as boas vindas.”

Dito isto, um projector incidiu no cimo das escadas.
Um homem, vestido à época temática, de calças apertadas no joelho e um tricórnio enfiado na cabeça, olhava-nos lá do alto.
A máscara negra, que lhe tapava parcialmente o rosto, não escondia o fulgor de uns olhos invulgarmente azuis.

Mas a surpresa maior foi quando reparei na mulher que o ladeava…
Aquela era a Bia…
Uma namorada fogosa com quem passara muitas horas de puro deleite, ou de leito, se acharem mais apropriado.
Apesar da relativa distância e da penumbra em que me encontrava, pareceu-me que ela me procurava com os olhos.
Bia ? B…?

Teria encontrado, finalmente, a B misteriosa?

3 comentários:

  1. Não me parece bem esta Mercedes Trujillo Hernandez associada com a Cristina.Almeida, se não me falha a memória de episódios anteriores.

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  2. Oh Mercedes... tens que, sei lá, mudar o teu nome para Audi ou Volkswagen ou Skoda ou ...

    (estou a brincar)

    :-)

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  3. Eu avisei que isto ía acontecer...
    Só não consigo imaginar como é que esta MT Hernandez conseguiu, alguma vez, viver no meio dos "tios" todos da Lapa!

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