quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

XXVII - "...Mas que m#$%&a é esta ?!??"


O discurso, daquele a quem tinham chamado o Organizador Chefe, demorou quase uma hora.
De uma forma clara, mas inflamada, foram traçados os objectivos daquela reunião, no particular, e para toda a organização, no geral, que, segundo deduzi, estava prestes a iniciar uma fase mais activa.
O objectivo era provocar, com o apoio de elites portuguesas e espanholas, um levantamento popular que acabasse com as estruturas actuais do Poder e caminhasse para a unificação da Península num único País – a Ibéria,

Achei que o nome era infeliz, a não ser que o movimento fosse patrocinado pela Companhia Aérea homónima e a repetição, ad nauseam, das palavras Pátria, Família e Moral começou a cansar-me, muito antes de perceber qual seria o meu papel no meio de todos aqueles ‘pesos pesados’.

Mas o orador encarregou-se de explicar o que esperava de todos os convidados que estavam presentes pela primeira vez e que, deduzi eu, eram bastantes.
“…Que espalhem a palavra. Que incitem as pessoas à mudança. Que contribuam materialmente mas, também, movendo as vossas poderosas influências para que, em breve, sejamos Senhores da Península, e depois Senhores do Mundo.”
Lembrei-me dos supervilões dos comics norteamericanos. Tudo aquilo lembrava uma opereta de segunda classe. Um agente com ordem para matar, recheado de truques tecnológicos, poderia aparecer a qualquer momento para destruir um estranho aparelho que fazia desaparecer as pessoas, os edifícios, eu sei lá…
Bocejei ostensivamente. Olhando à volta reparei que a quase totalidade da audiência, de olhos presos no Grande Orientador, o escutavam embevecidos, como que em transe.

Uma música estranha e repetitiva, ajudava a criar um ambiente místico. Um aroma a incenso ou algo do género, adocicado, parecia adormecer os sentidos.
Alguns dos convidados estavam prestes a entrar em transe hipnótico…

Mas, nesse instante, do outro lado da sala, ouviu-se uma gargalhada altissonante.
“ Qué keste gajú quer afinal? Quér nacionalizar a m#$%&a dos karamelos spanish?”

Era o Major, o António C., que erguendo o seu whisky, num brinde ao estupefacto orador, emborcou a bebida num gesto rápido.
Sorri-me. Nada como a anarquia do meu amigo para cortar o tom ultra nacionalista, ou iberista melhor dizendo, que se instalara naquela sala.

Reparei que o Comendador fazia sinal a uma gigantesca figura, em que ainda não tinha reparado, e que este com dois seguranças ( ...talvez os que estavam inicialmente na entrada do portão) se aproximavam do bar e sussurravam algo ao ouvido do meu ‘colega’ de investigação de manuscritos.
Este começou por reclamar, mas terá pensado melhor e saiu da sala ladeado pelos dois gorilas, enquanto o calmeirão retomava o seu posicionamento a dois ou três metros do Comendador.

O orador recomeçou o discurso, mas o momento hipnótico tinha passado.
As pessoas cochichavam sobre o ocorrido, o êxtase com que quase todos tinham escutado até aí, dera lugar a um certo cansaço pela extensão do palavreado.

A ex-colega da Cristina, a tal Mercedes espanholada, que se mantivera como que iluminada pela luz divina, a beber cada palavra proferida pelo líder do cimo das escadas, mostrava agora um ódio visceral que transformava a sua cara, ainda jovem, numa máscara de violência, paixão e agressividade que, se eu fosse o Major, não me deixaria nada tranquilo.

O Organizador Chefe, ao ver a mudança de ambiente provocada pela frase intempestiva do António, provocador nato e enfant terrible em todo o lugar por onde passasse, despediu-se com umas breves palavras e desapareceu, numa qualquer dependência do andar superior.
As luzes acenderam-se. As conversas retomaram a normalidade.

Olhei a escadaria.
A Bia, com pose de manequim, dirigia-se na minha direcção.

9 comentários:

  1. Pah, hoje levantei-me cedo, tiengo qué mé ir a la ciudad a tratar dé vidita (esto és mi mejor "portuñol"), mas estou quase convencido que foi a companhia aérea referida, mais o nobel de lanzarote que, inspirados pela ideia do quinto império se lançaram nessa aventura.

    Agora tens um 'ganda problema pela frente, como te vais livrar dessa tal de Bia sem magoares nobody ?

    :-)



    P.S.
    Recomendo vivamente um Rivette de 2003 "Histoire de Marie et Julien" que me veio parar às mãos ontem con leyendas en portugués y etc, gracias Pablo, qué viva Argentina !


    :-))

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  2. Ah e ia-me esquecendo: foi preciso virem para cá uns etarras fabricar bombas ou o raio-que-os-parta para eu rever via TêVê um amigo de Direito dos velhos tempos:

    Zé, a minha ideia é que se extraditarem rápidamente esses gajús nem sequer vais ser pago...

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  3. MTH não sei se deste por isso, mas realmente já o fizeste(s).

    :-)

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  4. Bem, esse Major sempre a atirar ao lado:)

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  5. Tenho andado muito afastado deste enredo e com preguiça para ir ver tudo do princípio...

    A Quimera é que me podia fazer um resumo...

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  6. A Q. tem toda a razão do mundo.
    Rais' parta esse 'major', não só atira ao lado como parece assim como que um invasor...

    :-)

    Ele que se vá afocinhar mai-los gorilas p'ra qualquer lugar longe daqui.

    :-))

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  7. Depois de vinte e seis episódios, finalmente, a B!
    Será desta???!!!

    Quanto ao Major, não o estou a ver a ir com os gorilas, com essa "passividade" toda...

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