sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

XXXVII - Como de Hemingway se chega ao Garrett

O Hospital de S. Francisco, olhava-nos, do alto dos seus quatro pisos, com a sobranceria que os seus quase três séculos de existência lhe permitiam.
Fundado em 1743 pela Ordem Terceira de S. Francisco, com escolas no 1º andar, enfermarias para homens e mulheres, respectivamente nos segundo e terceiro pisos e quartos particulares no último andar, é um hospital que faz parte da história da capital do Norte.
Dirigimo-nos à recepção do edifício, sem previamente termos combinado qualquer tipo de estratégia.
Mas, que estratégia poderíamos nós estabelecer se não tínhamos a mínima ideia do que vínhamos procurar?
Várias décadas se tinham passado desde que Ernest Hemingway recebera tratamento, ou estivera internado, nesta unidade hospitalar que, certamente, depois disso sofrera obras profundas de remodelação.

Durante o trajecto, da herdade até à bela cidade nortenha, tínhamos debatido a oportunidade de, mesmo antes de recebermos a tal cópia com todas as citações, começarmos as nossas investigações, sem rei nem roque.

O pragmatismo da Cristina veio ao de cima, como habitualmente “ Não faz mal, se não descobrirmos nada ao menos podemos ir jantar na Ribeira” e com o coquetismo habitual “…à luz das velas !”
Como eu já tinha percebido que a minha bela companheira era o que os franceses chamam de ‘allumeuse’, ou seja, numa tradução livre, uma mulher que gosta de espicaçar os homens, para depois se ‘baldar’, não liguei à provocação, mas, no meu íntimo, e como gosto de comer bem, achei uma excelente ideia.
Mesmo assim, resolvi marcar presença “ Ou, então, em Matosinhos…”
Mas já a minha ‘motorista’ acelerara de novo para ultrapassar um camião TIR fazendo um desgraçado que vinha em sentido contrário enfiar-se na berma da estrada.

Perante um jovem recepcionista, corado até à raiz dos cabelos, vi todo (?) o charme da ‘Foxy Lady’, de novo, em acção.
Fazendo-se passar por jornalista ( “ Do I, já ouviu falar?” ) e apresentando-me como sendo um seu colega fotógrafo ( ainda bem que tínhamos trazido a minha digital), disse ao atordoado mancebo, debruçada sobre o balcão e olhando-o nos olhos quase vidrados que estava a fazer uma reportagem sobre os ex-libris da cidade e que gostaria de ver as partes mais antigas do hospital.
Nem a trémula justificação do funcionário de que havia procedimentos e que essa visita só poderia ser feita com autorização da Administração a impediu de, com mais cinco minutos de sedução descarada, conseguir o pretendido, acrescido, ainda, do próprio se ter oferecido como guia “…já que saio agora de turno”.

Durante, cerca de uma hora, percorremos corredores sombrios e mal iluminados, preenchidos pelos cheiros que são marca registrada de todos os hospitais.
De vez em quando, por uma porta entreaberta, via-se alguém de olhos perdidos numa qualquer mancha de humidade da parede em frente.

Estávamos quase a terminar o tour, maldizendo o tempo perdido e começando eu a ficar um pouco irritado com o ar de embevecimento canino que o rapaz continuava a aparentar, respondendo, contudo, a todas as perguntas feitas por ambos os ‘jornalistas’
Via-se que tinha estudado a história do Hospital e que possuía profundos conhecimentos acerca do passado do mesmo.

Foi ao espreitarmos por uma varanda debruçada sobre a rua do Comércio do Porto que vimos a artística e trabalhada janela que se destacava de todo o cinzentismo arquitectónico geral.

Vendo o meu óbvio interesse, o improvisado cicerone informou-me:
“ É uma janela de homenagem a Almeida Garrett.
Criada pelo escultor Barata Feyo…”

3 comentários:

  1. E então? bom fim de semana, é?:)

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  2. É isso aí, Quimera.
    2ª feira há mais...Mas posso desde já avisar que se aproximam 'cenas tórridas' !!!

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  3. Acho bem!
    Porque, até agora, a Foxy Lady só tem andado a prometer, a prometer...
    Ou as cenas tórridas serão outras, e isto é só produto da minha "dirty mind"?!

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