O interior do táxi era absolutamente caótico.
Os bancos esventrados. Os vidros que não subiam.
A suspensão que, se alguma vez existira, já há muito se abrigara no cemitério dos carros…
Colares de flores, á mistura com terços.
Fotografias de familiares, imaginei eu, e do Aga Khan.
Uma escultura pequena de Shiva, o Deus Supremo, da Renovação ou Senhor dos Animais, sob a forma de Pashupati, ocupava um lugar de destaque no tablier.
Capítulo seguinte, e já visto noutros Carnavais…
Indicar ao motorista qual o meu destino – o Hotel Imperial.
Embora - a experiência ensinara-me já - tivesse o cuidado de ter escrito em maiúsculas o nome do hotel e a morada deste, o taxista olhava para aquilo como boi para palácio.
( Essa imagem dos bois, ou melhor das vacas, a olharem para os palácios perseguir-me ia aliás durante toda a minha estadia).
Por fim, sem grande convicção, e depois de várias tentativas falhadas, lá pôs o carro em andamento e começou a afastar-se do Aeroporto em direcção ao centro da cidade.
Precisava de ter o talento que não tenho, para descrever o indescritível.
Guiar na sua mão, é algo que não existe na Índia.
As pessoas metem-se na faixa contrário e lá vão, felizes e contentes até que algo os faça voltar ao seu lado da estrada, por pouco tempo, porque, na primeira oportunidade, lá vão eles , de novo, para o outro lado da via.
Como a Índia, foi uma colónia inglesa, a condução é feita pela esquerda, como acontece na África do Sul ou em Moçambique, ao contrário da maioria esmagadora dos outros países, o que ainda torna mais confusa a condução indiana.
Quando a nós nos parece que estão na faixa correcta estão eles na errada e vice versa.
Mas, como estão sempre a mudar de uma para a outra até que nem é grave.
Entretanto, apesar de distraído com as pessoas andrajosas que se espalhavam pelos passeios, pelas crianças famélicas, pelo lixo acumulado nas ruas, comecei a perceber-me que estávamos a andar às voltas e que já tínhamos passado várias vezes pelo mesmo local, numa tentativa de descobrir nem se sabe bem o quê, porque o meu motorista nem sequer conseguira ler ou perceber o nome do hotel.
Mas, nesse momento, uma vaca, animal sagrado nestas paragens, resolveu parar no meio da rua, criando um engarrafamento monumental.
Preparado para o pior, já que ninguém se atrevia a enxotar os simpáticos ruminantes, procurei um espacinho nas costas do banco onde pudesse recostar as minhas próprias e mentalizei-me que teria que aguardar horas até chegar ao ansiado banho, no não mesmo desejado hotel.
Foi então que, ao olhar à volta, nas minhas permanentes pesquisas humanas, já que mais do que monumentos ou obras de arte, são as pessoas o que mais me interessa observar, reparei num néon a pouco mais de 100 metros do local onde estávamos parados – Hotel Imperial.
Com alguma dificuldade, consegui pagar e sair perante o ar atónito daquele homem que nunca chegou a perceber para onde é que eu queria ir e porque é que estava a abandoná-lo no meio da fila enorme, que não avançara nem um metro na última meia hora…
Travis Bickle
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segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
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A vida é bela mesmo quando as sagradas bichinhas se atravessam nos caminhos.
ResponderExcluirBom relato.
É particularmente bela nessas ocasiões!
ResponderExcluirTive a sensação de sentir o aroma do gengibre e do açafrão!
Parabéns, Travis!
Travis Bickle...
ResponderExcluirTirando as vacas e a condução pela esquerda, continuo a dizer que tem que ir ao Egipto...
Com as vacas, com a condução pela esquerda, com as côres todas do Rahjastan, com a belezura que é Gôa, e Loutulim, com a história toda que é Kerala, com os loiros e altos de Cashmir, com os bengalis de Pondichéri e arredores, a Índia... ah, a Índia é a Índia, é a Índia (the magical India, como diria uma amiga minha da U. Nova).
ResponderExcluir(mas eu sou suspeito...)
Bom Natal e etc.
:-)