"O amigo vê e ouve
o que não somos capazes de ver nem ouvir.
Assim sendo, pode fazer por nós
o que não temos como fazer por nós mesmos"
A mesma palavra tem significados diferentes
de acordo com o texto ou o discurso em que figura.
A importância disso é capital, pois significa que,
para interpretar uma palavra, precisamos nos debruçar
sobre o contexto do qual ela faz parte
ou escutar verdadeiramente quem a profere.
Do contrário, não a entendemos.
O ensinamento básico de Sigmund Freud é esse
e bastaria para justificar a psicanálise,
se isso ainda fosse necessário.
A maioria das pessoas, no entanto, não se dispõe a escutar.
Poucos nascem com essa capacidade,
que pode e precisa ser desenvolvida.
Escutar é um acto generoso.
Implica que eu deixe momentaneamente de falar
e esteja aberto para o que o outro tem a dizer.
A escuta é a caracteristica do psicanalista
e também do verdadeiro amigo – que não impõe a sua presença,
não diz o que não deve ser dito e, assim,
faz com que a amizade floresça.
Ou seja, o amigo sabe se conter, exercita-se na ética da contenção.
Por isso, ele é de paz e a sua maneira de ser
pode servir de modelo para todas as outras relações:
marido e mulher, pais e filhos e irmãos.
O que o filósofo e historiador grego Xenofonte
escreveu 2 400 anos atrás poderia ter sido escrito hoje:
"Um bom amigo é o mais precioso de todos os bens.
Está sempre pronto a auxiliar...
Há homens, contudo, que investem toda a sua energia
no cultivo de árvores, para colher frutos,
e são negligentes com o amigo, o bem que mais frutifica".
O amigo vê e ouve o que não somos capazes de ver nem ouvir.
Assim sendo, pode fazer por nós
o que não temos como fazer por nós mesmos.
Como o analista, ele ilumina o caminho.
Ele sabe suspender o seu desejo para que o do outro se manifeste.
O que ele mais quer é o acordo.
Está menos interessado nos eventuais benefícios materiais
que a amizade pode trazer do que no fortalecimento desta.
Visa sobretudo ao contentamento do outro
e não deve ser confundido com o cúmplice,
que visa ao próprio interesse
e se liga a alguém em função do que almeja alcançar.
O elo de cumplicidade tende a ser efémero,
enquanto o de amizade é para sempre.
Em outras palavras, o amor dos amigos nunca é de agora,
e sim para a vida inteira.
Também por isso, há milénios a amizade inspira escritores,
que se perguntam de que modo escolher um amigo,
quais as caracteristicas de um amigo verdadeiro e o que nós devemos a ele.
Os escritores – os melhores, entre eles –
sabem que a amizade nasce expontaneamente,
mas só dará os seus melhores frutos se for cultivada.
Betty Milan - psicanalista e escritora
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
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Mais palavras para quê ?
ResponderExcluirTenho Amigos assim...
ResponderExcluirAmigo é coisa para se guardar
ResponderExcluirDebaixo de sete chaves,
Dentro do coração,
assim falava a canção que na América ouvi,
mas quem cantava chorou ao ver o seu amigo partir,
mas quem ficou, no pensamento voou,
o seu canto que o outro lembrou
E quem voou no pensamento ficou,
uma lembrança que o outro cantou.
Amigo é coisa para se guardar
No lado esquerdo do peito,
mesmo que o tempo e a distância digam não,
mesmo esquecendo a canção.
O que importa é ouvir a voz que vem do coração.
Seja o que vier,
venha o que vier
Qualquer dia amigo eu volto pra te encontrar
Qualquer dia amigo, a gente vai se encontrar.
______________________________________________
Não posso jurar, mas penso que isto nos vem do Fernando Brant ...
:-)
"Canção da América".
ResponderExcluirDe Fernando Brant e Milton Nascimento, no álbum "Sentinela".
Um belíssimo poema à Amizade, utilizado mais tarde em ocasiões muito especiais, no funeral de Ayrton Senna, por exemplo...
Estúpida morte!
exactamente, e aqui...
ResponderExcluirE já agora... o hino não oficial da UNEB (União Nacional dos Estudantes Brasileiros)
ResponderExcluirO regime fascista dos generais nunca teve a lata de prender ou exilar Bituca , ainda ficavam sem Minas...