Sabe-se que os vampiros incarnam com facilidade nas criaturas humanas, o que se torna sempre num berbicacho.
Este género de vampiro é, na maioria dos casos, um indivíduo que morreu prematuramente e que em vida se caracterizava pelos seus maus instintos. Ao invés da tese defendida por Stephanie Meyer, não existem vampiros bons. Só uma pessoa ignorante por completo do fenómeno vampírico pode afirmar tal coisa, mas não surpreende: Meyer já ludibriou milhões de leitores impingindo-lhes o mais destrambelhado dos conceitos, o de um lobisomem bonzinho.
Esporadicamente, um humano converte-se em vampiro por força da tradicional mordedura no pescoço por um vampiro humano, ou mesmo por um quiróptero da espécie, como se exemplificou aqui, na segunda-feira, com o caso de uma líder política portuguesa. Diz-se, então, que se corrompeu o sangue do humano não-vampiro. Apenas uma radical transfusão de sangue solucionaria a situação. Sucede, porém, que nessa fase o recém-convertido já não se denuncia, sentido-se bem na nova condição (cf. Redav, 1945).
A regra é a incarnação em cadáver, nas 24 horas sequentes ao último suspiro. Reanimado pelo espírito demoníaco, o ente volta ao nosso mundo num estado de eterna vitalidade. Necessita para tanto e tão-só de sangue – o supremo veículo da vida. Não um sangue qualquer. Terá de ser, quase decisivamente, da própria espécie, ou seja, humana.
Segue-se que, à noite, insaciáveis, os vampiros saem dos seus túmulos, em busca do rubro nutriente. Alguns figuram a estranha obstinação de pretender relações sexuais com o sexo oposto. O vampirólogo inglês V. Krad relatou que durante as suas investigações em Portugal, no ano findo, foi ele próprio assediado com embaraçosa pertinência por uma jovem vampira oriunda de um partido da extrema-esquerda. Já anteriormente, outros investigadores haviam notado que a vampirização se encontra inusualmente generalizada na política portuguesa, a começar pelos líderes partidários. Relembramos por curiosidade o caso (aqui descrito na quarta-feira) do líder atacado por um vampiro, do qual julgou poder defender-se brandindo um crucifixo comprado em Fátima. Depois... bem... (v. Redav, 1945, cit. linhas atrás).
Que fazer para pôr cobro ao desígnio de eternidade de um vampiro humano? É neste ponto que o Receituário Doméstico poderá avançar com os esclarecidos conselhos que muitos cidadãos aguardam, ansiosos, desde o princípio da semana.
Antes do mais torna-se imperioso comprovar se o suspeito é, realmente, um vampiro. Enganos desses (já os houve, também em Portugal) serão irreparáveis.
Como proceder: a uma hora crepuscular, abra-se de mansinho o caixão da pessoa suspeita de praticar vampirismo. Examine-se com atenção o corpo. Apresentando-se, este, incorrupto, flexível, com um aspecto saudável e boas cores, então não restam dúvidas de que estaremos perante um refinado vampiro.
A metodologia de aniquilamento resume-se a um instrumento em forma de estilete perfurante. Com tal instrumento se golpeará, de estocada fulminante, o coração do vampiro, assim ficando para sempre desarreigado o demónio que se apossou daquele corpo.
Aconselhamos a estaca, secularmente o utensílio mais comum.
Existem à venda kit’s anti-vampiro que incluem uma estaca sofisticada, contudo sairá mais económico adquirir numa estância de madeiras um daqueles paus cilíndricos destinados a armar vedações. Servem na perfeição. Deverá averiguar-se da resistência da madeira (preferir, sempre, a que estiver mais verde), e, sobretudo, verificar se uma das extremidades se encontra convenientemente aguçada, à semelhança dos próprios incisivos do quiróptero humano.
Pedro Foyos
Jornalista
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E não é que o meu homónimo percebe à brava de Vampiros?!?
ResponderExcluirSempre tive horror a tudo o que seja relacionado co vampiros, filmes, livros, etc...
ResponderExcluirSempre adorei... e sou um deles.
ResponderExcluir:-)
Parabéns P.F !
:-))
Perfeito, Pedro Foyos!
ResponderExcluirSó não consigo imaginar-me a abrir caixões, em hora crepuscular, ainda por cima...