Quando retomei a consciência, olhei à minha volta.
Encontrava-me num atelier cheio de quadros de vários formatos e em variadas fases de gestação.
Telas brancas, encostavam-se, serenas, num dos cantos mais escuros do estúdio.
Outras, apenas esboçadas, outras quase terminadas, amontoavam-se prestes a invadir as demais divisões da casa.
Por uma pequena janela via-se a cúpula do Sacré Coeur. Montmartre, portanto…
Senti, então, a presença de uma outra pessoa.
Dei um pulo quando vi a minha secretária (…mas seria ainda esse o seu papel?) vestida, ou despida, como veio ao mundo!
Ao reparar no cesto com maçãs sobre a mesa e na postura forçada que a jovem ostentava, apercebi-me que a bela posava para algum trabalho que eu estaria a desenvolver.
Olhei o cavalete. Gostei do que vi...até que eu tinha talento.
O nu vigoroso, em tons quentes de carne, as formas voluptuosas, o rosto alongado, as pupilas em branco…reconheci o estilo, sem me lembrar do nome. Mas, foi por pouco tempo.
“Mestre Modigliani, passa-se alguma coisa?" perguntava-me a bela Cláudia, sem falsos pudores e mostrando uma beleza de formas que eu já há muito imaginava, sem ter tido, infelizmente, provas concludentes.
Antes, mesmo, que eu pudesse responder ouviram-se umas fortes pancadas na porta da entrada.
A minha modelo, embrulhou-se num roupão achinesado e perguntou-me, maliciosa:
“Quer que abra a porta, Mestre?”e piscando-me o olho “ deve ser o seu amigo Brancusi...quando eu estou a posar, aparece sempre…”
Mas afinal não se tratava do escultor.
À frente vinha o “meu” amigo e marchand Leopold Zborowski que fez as apresentações.
“Arthur LeRoy, grande colecionador de Arte, e que pretende adquirir alguns quadros do meu amigo Modi.”
O eventual comprador, não era outro senão o PDG/ Rei Artur/ xerife and so on, como já seria de esperar, que me apertou a mão de modo vigoroso, enquanto olhava a bela Cláudia, Claudette no caso, que já deixara tombar o roupão, e olhava com um desdém olímpico para o outro elemento feminino recém chegado – Madame Guy de La Fontaine, que me fez lembrar uma mistura de estrelas de cinema que, todos vocês, já estão carecas de saber...
A balzaquiana figura, mulher madura e com aspecto de ter muita rodagem, de vestido coleante em lamê dourado e um falso sinal pintado no colo alvo, e abundante, olhava com ar guloso os nus espalhados um pouco por todo o lado.
Pendurando-se no tal Arthur LeRoy, perguntou-lhe, dengosa” O chéri não acha que aqui o Amadeo me podia pintar o retrato?.”
Foi nesse momento que o até então mudo último visitante se apresentou, quase cuspindo as palavras, por entre um riso escarninho e um esgar que lhe torcia, ainda mais, a cara já de si pouco atraente..
“ Apresento-me, Kandinsky ao seu serviço “ e penteando a melena ruça” eu, sim, pintor à séria…”
Parecendo, então, esquecer a minha presença, voltou-se para a La Fontaine, despindo-a com os olhos “…e terei imenso prazer em fazer o seu retrato !”
Pelo ar de enfado com que Madame Guy lhe voltou as costas, via-se que não era a primeira vez que o russo pintor ruço (?) lhe fazia tal proposta.
Entretanto, Leopold Zborowski encaminhava Arthur LeRoy para junto dos quadros já terminados e um grupo de esculturas que permaneciam há muito, sem comprador, na outra extremidade do atelier.
Aproveitando a distracção dos dois homens e sem ligar nenhuma ao tal pintor nem à minha modelo, a mulher mais velha aproximou-se de mim e murmurou, com voz rouca.
“ Posso passar por cá mais tarde? Para vermos isso do retrato?” e riu-se, insinuante…
Nesse momento , comecei a ver as telas a girarem como se de um carrossel se tratasse, senti um arrepio percorrer-me a espinha, uma vertigem e…
Encontrava-me num atelier cheio de quadros de vários formatos e em variadas fases de gestação.
Telas brancas, encostavam-se, serenas, num dos cantos mais escuros do estúdio.
Outras, apenas esboçadas, outras quase terminadas, amontoavam-se prestes a invadir as demais divisões da casa.
Por uma pequena janela via-se a cúpula do Sacré Coeur. Montmartre, portanto…
Senti, então, a presença de uma outra pessoa.
Dei um pulo quando vi a minha secretária (…mas seria ainda esse o seu papel?) vestida, ou despida, como veio ao mundo!
Ao reparar no cesto com maçãs sobre a mesa e na postura forçada que a jovem ostentava, apercebi-me que a bela posava para algum trabalho que eu estaria a desenvolver.
Olhei o cavalete. Gostei do que vi...até que eu tinha talento.
O nu vigoroso, em tons quentes de carne, as formas voluptuosas, o rosto alongado, as pupilas em branco…reconheci o estilo, sem me lembrar do nome. Mas, foi por pouco tempo.
“Mestre Modigliani, passa-se alguma coisa?" perguntava-me a bela Cláudia, sem falsos pudores e mostrando uma beleza de formas que eu já há muito imaginava, sem ter tido, infelizmente, provas concludentes.
Antes, mesmo, que eu pudesse responder ouviram-se umas fortes pancadas na porta da entrada.
A minha modelo, embrulhou-se num roupão achinesado e perguntou-me, maliciosa:
“Quer que abra a porta, Mestre?”e piscando-me o olho “ deve ser o seu amigo Brancusi...quando eu estou a posar, aparece sempre…”
Mas afinal não se tratava do escultor.
À frente vinha o “meu” amigo e marchand Leopold Zborowski que fez as apresentações.
“Arthur LeRoy, grande colecionador de Arte, e que pretende adquirir alguns quadros do meu amigo Modi.”
O eventual comprador, não era outro senão o PDG/ Rei Artur/ xerife and so on, como já seria de esperar, que me apertou a mão de modo vigoroso, enquanto olhava a bela Cláudia, Claudette no caso, que já deixara tombar o roupão, e olhava com um desdém olímpico para o outro elemento feminino recém chegado – Madame Guy de La Fontaine, que me fez lembrar uma mistura de estrelas de cinema que, todos vocês, já estão carecas de saber...
A balzaquiana figura, mulher madura e com aspecto de ter muita rodagem, de vestido coleante em lamê dourado e um falso sinal pintado no colo alvo, e abundante, olhava com ar guloso os nus espalhados um pouco por todo o lado.
Pendurando-se no tal Arthur LeRoy, perguntou-lhe, dengosa” O chéri não acha que aqui o Amadeo me podia pintar o retrato?.”
Foi nesse momento que o até então mudo último visitante se apresentou, quase cuspindo as palavras, por entre um riso escarninho e um esgar que lhe torcia, ainda mais, a cara já de si pouco atraente..
“ Apresento-me, Kandinsky ao seu serviço “ e penteando a melena ruça” eu, sim, pintor à séria…”
Parecendo, então, esquecer a minha presença, voltou-se para a La Fontaine, despindo-a com os olhos “…e terei imenso prazer em fazer o seu retrato !”
Pelo ar de enfado com que Madame Guy lhe voltou as costas, via-se que não era a primeira vez que o russo pintor ruço (?) lhe fazia tal proposta.
Entretanto, Leopold Zborowski encaminhava Arthur LeRoy para junto dos quadros já terminados e um grupo de esculturas que permaneciam há muito, sem comprador, na outra extremidade do atelier.
Aproveitando a distracção dos dois homens e sem ligar nenhuma ao tal pintor nem à minha modelo, a mulher mais velha aproximou-se de mim e murmurou, com voz rouca.
“ Posso passar por cá mais tarde? Para vermos isso do retrato?” e riu-se, insinuante…
Nesse momento , comecei a ver as telas a girarem como se de um carrossel se tratasse, senti um arrepio percorrer-me a espinha, uma vertigem e…
Francesco Vecchio
Esta mini série não tem tido a atenção que, acho eu, merecia...
ResponderExcluirSerá da Época e das tantas e tão notórias ausências dos habituais comentadores?
Tenho tido dificuldade em aderir, não sei se será da época como diz a PG. Mas há uma coisa que me cansa: tem demasiadas referências como por ex. neste episódio, a nomes de artistas, a lugares... parece-me que poderia ter uma trama igual e mais imaginativa sem elas.
ResponderExcluirTem realmente demasiadas referências como dix a Q. , muitas delas são-me familiares.
ResponderExcluir______________________________________________
P.S. a despropósito:
Um dos meus maiores arrependimentos da vida foi não ter comprado uma tela de Alexander Rodchenko que estava a preços de saldo numa galeria da Rue de Rennes há muitos anos ...
Já viram "Modigliani", com Andy Garcia?
ResponderExcluirVale a pena...