Mini Série de 8 Episódios (6/8)
Quando retomei a consciência olhei à minha volta.
Estava deitado numa rua poeirenta, ladeada por uns toscos casinhotos de madeira.
Levantei-me e sacudi o pó que me cobria de alto a baixo.
Calçava botas pontiagudas em cabedal lavrado, tinha safões por sobre as calças de sarja, um colete com franjas e um chapéu de abas largas que me devia dar um ar de Roy Rogers, herói da minha adolescência.
Preso à cintura, um cinturão pejado de balas e com dois colts de punhos em madrepérola.
Ainda cambaleante, empurrei umas portadas que davam entrada ao edifício mais imponente, melhor dizendo, menos miserável, da rua, e que ostentava uma placa com “Saloon” pintado a vermelho.
A minha súbita aparição teve o condão de suspender todas as conversas.
Numa lenta panorâmica, percorri a meia dúzia de mesas ocupadas por uma vintena de pessoas.
Lá no fundo, cinco ou seis fulanos, jogavam um poker animado, a julgar pelo monte de dinheiro que tinham à frente.
Noutro canto, um típico pistoleiro todo vestido de preto, e de cabeleira ruiva olhou-me semicerrando os olhos. O fulano da Media, again…
Raparigas de mau porte, vestidas como que saídas do Moulin Rouge, partilhavam lugares e afagos vários, com pesquisadores de ouro, fazendeiros e simples vaqueiros.
Uma morena de olhos verdes, Lady Guinevere? Gui?com as saias puxadas para cima e o decote, repuxado para baixo, lançou-me um olhar demorado…
Avancei até ao balcão, atrás do qual a já esperada Cláudia, que aqui adoptara o nome de Calamity, limpava uns copos com um pano meio cinzento.
Enquanto bebia o meu bourbon, servido num copo lascado, senti que alguém se aproximava por trás. Embora alerta, não me voltei.
“ Se não és o cobarde que eu julgo que és, volta-te e saca das pistolas, Billy the Kid !!!” a voz inconfundível, e irritante, era do ruço, que me perseguia no tempo e no espaço. Mas, ao menos, tinha-me dito qual o meu actual papel e personagem…
Emborquei com tranquilidade o resto da bebida, e, nesse momento, ouvi a voz da tal morena esplendorosa, com a sensualidade da Bellucci, o corpo da Johanssen, e já nem sei o quê da Alba, que era, afinal, a dona do Saloon “ Põe-te a mexer ó Red Snake, senão nunca mais metes os butes aqui dentro”.
Já voltado para o centro da sala, embora mantendo os cotovelos sobre o balcão, verifiquei que, a estas ajuizadas palavras, o meu eterno inimigo fazia orelhas moucas.
Pelo contrário, os braços ligeiramente arqueados, e os dedos tremelicando a centímetros das coronhas dos revólveres, indiciavam que o saque estava para breve.
Desencostei-me, enquanto escutava o suspiro ( …de medo? Excitação) que a barwoman emitia, nas minhas costas.
Foi nessa altura, que as portas de batente se abriram, de novo.
O xerife, para além da estrela indicativa, tinha uma farta cabeleira branca, assim como um bigode e uma pêra que me trouxeram à memória, o lendário Bufallo Bil.
Mas não, desta feita tratava-se de Texas King, antigo assaltante de bancos, que se passara, a troco de um indulto total, para o outro lado da Lei.
A Winchester que empunhava era suficientemente dissuasora, mas não para o ruivo bronco que, julgando-me distraído, quis aproveitar do efeito surpresa.
Depois, precipitou-se tudo
Ouvi os disparos das minhas armas, das do ruivo e, julgo eu, o deflagrar violento da carabina do representante da Lei, que já fora, ou viria a ser, o meu patrão, um rei em Camelot, um apostador cubano ou um elemento preponderante da máfia norte americana,
Em simultâneo, escutei gritos de mulher,
cadeiras a caírem no soalho de madeira e até o ruído
de uma garrafa a estilhaçar-se…
Nesse momento, foi como se tivesse sido atingido
por dezenas de projécteis, senti um arrepio
percorrer-me a espinha, uma vertigem e …
Francesco Vecchio
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terça-feira, 29 de dezembro de 2009
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Fantástico G. adorei a estorieta !!
ResponderExcluir:-)
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Numa nota marginal:
Aqui tens outro 'Buffalo Bill' . (1976 ou assim...)
O Francesco de Gregori -- o melhor disco dele chama-se "Rimmel" -- ele até era do PCI (já não existe, mas quem em Itália não era p'ráli na época ? era isso ou DC) e os meus amiguinhos eram de Lotta Continua (também já não existe) , contudo a música dele viverá , sempre, e as minhas memórias também...
:-))
'Ganda estória pah !!
Todavia, "Raparigas de mau porte, vestidas como que saídas do Moulin Rouge" ??
Sempre tive a ideia que as gaijas do Moulin Rouge tinham um bruto bom aspecto...
;-)
Alvega, deve estar a confundir com as do Maxime de Paris...
ResponderExcluirAs do Crazy Horse, era o que eu queria dizer...
ResponderExcluirLamento desiludi-os/as mas o Autor ( lembrem-se que eu sou apenas o tradutor) queria mesmo dizer Moulin Rouge.
ResponderExcluirPasso a explicar - As meninas do Moulin Rouge à la Toulouse Lautrec, com as saias folhadas, e muitas, do Can Can e não as bailarinas andróginas e esguias em topless, of course
( essas, sim, tipo Maxime).
Quanto às do Crazy Horse Saloon , todas com a mesma altura, mesmo tipo de corpo, e mesma peruca com franja, fazem parte de outro campeonato.
Um expert, este vosso Galo ( e, pelos vistos, o Francesco V. também).