Quando retomei a consciência, olhei à minha volta.
A mesa de reuniões mantinha-se, mas transformara-se numa enorme superfície redonda.
Os meus companheiros estavam, agora, vestidos com cotas de malha sobre armaduras reluzentes.
Muitos deles apresentavam barbas e bigodes façanhudos.
À minha frente, olhando-me inquisitivo, sentava-se Arthur K. que ostentava agora, uma coroa reluzente.
"Prossiga, Sir Lancelot, estava a dizer-nos?"
Sem entender nada do que se estava a passar, apercebi-me que a sala onde me encontrava, era toda em pedra e que, pelas esguias seteiras, se via, lá em baixo, a barbacã que rodeava o castelo, pois de um castelo se tratava, estava certo...
Comecei. Titubeante. Sem saber bem o que dizer.
"A estratégia que imaginei, hum...É uma ataque maciço em várias frentes, com todas as armas de que dispomos..."
Vi que todos os cavaleiros, sentados à volta da mesa redonda, escutavam atentos, em silêncio.
Só um ruivo, que se assemelhava estranhamente ao Media Planner da Agência, me interrompeu, num tom de voz irritado.
"E o alvo? Qual vai ser o alvo a atacar?"
Sorri, para mim próprio. estudara bem aquela resposta.
"O nosso grupo-alvo são os quadros superiores. Elementos da Classe A , num grupo etário entre os 35 e os 55 anos..."
Nesse momento, fomos interrompidos por uma jovem que entrou na sala com uma grande bandeja repleta de canecas com uma bebida fumegante.
Pisquei os olhos. A donzela, de longo vestido brocado e véus esvoaçantes, era cara chapada da minha secretária Cláudia.
Ela pareceu ler-me os pensamentos, porque concedeu-me um sorriso aberto e uma visão generosa do seu decote, quando se debruçou sobre a mesa, para me entregar a caneca de, apercebi-me depois, vinho quente polvilhado com canela.
Aproveitando o coffee break, ou melhor dizendo, o wine break, os meus companheiros de armas entretiveram-se a contar feitos guerreiros, sob o olhar complacente do Rei Artur, assim se chamava o nosso PDG, para usar uma expressão mais habitual do meu dia-a-dia.
Após o breve intervalo, sentámo-nos de novo, e recomeçámos a discutir estratégias.
Achei interessante a analogia com as campanhas publicitárias, a que me dedicara durante grande parte da minha vida.
Meios, veículos, armas, concorrência, alvos, zonas de influência e, até, slogans...
Era isso mesmo que Sir Galahad, um cavaleiro com ar efeminado, que era a cara de um cantor meu conhecido, que fazia jingles, declarava, no momento.
"Devemos ter um grito de ataque.
Um grito de vitória..."
e, perante o silêncio geral, expectante.
"Pela Terra e pela Grei!
Por Artur, o nosso Rei!"
Senti-me, entre a minha gente. O pessoal era criativo, gostava de dar luta e tinha os egos emplumados, quais pavões.
Nesse momento, um pajem de collants cor-de-rosa, o paquete dos recados? anunciou:
"Sua Majestade, Lady Guinevere..."
A mulher que entrou na sala era um autêntico deslumbramento.
O corpo da Monica Bellucci, a sensualidade da Jessica Alba e a falsa candura da Scarlett Johanssen.
A quadra soltou-se-me, sem pensar.
" Vossa coragem é a rodos
E a valentia, sem fim.
O Rei Artur para todos
... a Rainha só p'ra mim!"
Percebi, de imediato, o deslize de etiqueta ao ver todos os cavaleiros levantarem-se, num gesto só, e levarem as mãos aos punhos das espadas.
Nesse momento, foi como se um relâmpago tivesse atravessado a sala, senti um arrepio percorrer-me a espinha , uma vertigem e...
Francesco Vecchio
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"Um arrepio a percorrer-me a espinha" é bom.
ResponderExcluir"Vinho quente polvilhado com canela" é pior...
ResponderExcluirAndaste a ler a Marion Zimmer ou o quê ?
;-) ;-)
A Dama do Lago raptou o nosso Francesco Vecchio do Parque das Nações, directamente, para a côrte do Rei Artur...
ResponderExcluirDuas vidas já lá vão!
O Lancelot é uma espécie de Tristão (ou talvex vice-versa...) numa estória emque a Isolda fax de Guinevere e o rei Mark de rei Artur, ou algo que o valha.
ResponderExcluirO que só significa que estas coisas são contadas e recontadas séculos a fio, com ligeiros updates.
:-)