Quando retomei a consciência, olhei a minha volta.
Estava estirado no chão de um ringue de boxe.
Debruçado sobre mim, um árbitro de rosto congestionado e lacinho no pescoço contava de forma bem articulada:
" ...Seis...sete...oito..."
Soergui-me e ouvi uma forte ovação, por parte do público que enchia o pavilhão.
O Madison Square, como se podia ler nas faixas que atravessavam a sala.
"Cassius!!! Cassius!!!" gritavam homens e mulheres num histerismo colectivo, que me fez erguer e colocar em posição defensiva.
Entretanto, o meu cérebro explodia numa sucessão de pensamentos.
Então agora era um negro? Boxeur? Cassius Clay? E, se ainda não mudara o nome para Muhamed Ali, o que ocorreria em 1964, então a época deveria ser o início dos anos 60...
Não continuei a colocar perguntas desencontradas, porque o meu adversário aproximava-se perigosamente de mim.
Só então atentei naquele rosto pleno de bestialidade sádica - era o media planner da Agência, o ruivo de olhar esgazeado.
Joe Red Devil, como a parte da multidão que o apoiava, gritava a plenos pulmões.
Vi-me, eu que nunca antes pisara um ringue, a saltitar à volta do meu competidor como um autêntico profissional e a aplicar-lhe jabs, seguidos de cruzados.
Comecei, até, a achar graça à situação.
Objectivo, estratégia, meios...
Nesse momento, um gancho, hook para os mais puristas, bem aplicado pelo Red Devil, ia-me levando, de novo, às lonas.
Fui salvo pelo gongue e , enquanto sentado no meu canto, recebia toda a atenção da minha equipa técnica, tive tempo para dar uma olhadela aos espectadores VIP da primeira fila.
O primeiro casal a chamar-me a atenção era constituído por uma ancião alto, de farata cabeleira branca e um charuto preso entre os dentes e um mulherão que unia o corpo da Monica Bellucci, com a sensualidade da Jessica Alba e a falsa candura da Sacarlett Jonhassen ( onde é que eu já ouvira isto?).
...Aqules, não eram?
"Aquele é o Mambo's King, Artur El Cubano, que apostou uma verdadeira fortuna no teu adversário...e ela é uma putéfia, a Miss G, que faz strip nos lugares da moda..."
A tal Miss G. de decote explícito e sardas múltiplas constelando-lhe os ombros, sorria-me de modo convidativo.
Nessa altura, uma soberba morena mostrando, no centro do ringue, um cartaz com o número 8, despertou-me o olhar. Cláudia, de novo.
O toque para o início do 8º rounde, obrigou-me a levantar, num salto.
O ruivo da Media, o cavaleiro, o guarda-costas, ou lá o que era, avançou para mim, com ar de quem queria resolver o assunto em poucos minutos.
Esquivei-me de um cruzado de direita e apliquei-lhe um directo ao estômago que o fez inclinar-se para a frente.
Era o momento que eu esperava. Atacar o alvo, no timing preciso, com a técnica adequada...
Um uppercut encaixado, na perfeição, na mandíbula do ruivo, fê-lo voar para trás, num quase perfeito flic flac.
O estrondo que fez, ao cair de costas no estrado do ringue, deixava pouca margem para dúvidas.
O combate terminara e o vencedor era...
Nesse momento, pareceu-me que a multidão enlouquecida tinha começado a girar à minha volta, senti um arrepio percorrer-me a espinha, uma vertigem e...
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Excelente G. !!
ResponderExcluirEu com 11 para 12 anos tinha que fazer flic-flacs nas aulas de Ginástica do C.M. os "mortais" eram reservados para os melhores de entre nós...
Adorei o texto e as referências, a boazona ('tá velha...) da Bellucci (mais dia menos dia fica sem o Vincent Cassel, maridinho e 'ganda actor franciú) , pr'á Alba nas tintas, a S. Jonhassen é um talento nato, sempre gostei...
:-)
Bom Natal !!!