sábado, 5 de dezembro de 2009

Ary dos Santos - A cidade é um chão de palavras pisadas

A cidade é um chão de palavras pisadas
a palavra criança a palavra segredo.
A cidade é um céu de palavras paradas
a palavra distância e a palavra medo.

A cidade é um saco um pulmão que respira
pela palavra água pela palavra brisa
A cidade é um poro um corpo que transpira
pela palavra sangue pela palavra ira.

A cidade tem praças de palavras abertas
como estátuas mandadas apear.
A cidade tem ruas de palavras desertas
como jardins mandados arrancar.

A palavra sarcasmo é uma rosa rubra.
A palavra silêncio é uma rosa chá.
Não há céu de palavras que a cidade não cubra
não há rua de sons que a palavra não corra
à procura da sombra de uma luz que não há.

José Carlos Ary dos Santos

4 comentários:

  1. Agarro a madrugada
    como se fosse uma criança,
    uma roseira entrelaçada,
    uma videira de esperança.
    Tal qual o corpo da cidade
    que manhã cedo ensaia a dança
    de quem, por força da vontade,
    de trabalhar nunca se cansa.
    Vou pela rua desta lua
    que no meu Tejo acendo cedo,
    vou por Lisboa, maré nua
    que desagua no Rossio.
    Eu sou o homem da cidade
    que manhã cedo acorda e canta,
    e, por amar a liberdade,
    com a cidade se levanta.
    Vou pela estrada deslumbrada
    da lua cheia de Lisboa
    até que a lua apaixonada
    cresce na vela da canoa.
    Sou a gaivota que derrota
    tudo o mau tempo no mar alto.
    Eu sou o homem que transporta
    a maré povo em sobressalto.
    E quando agarro a madrugada,
    colho a manhã como uma flor
    à beira mágoa desfolhada,
    um malmequer azul na cor,
    o malmequer da liberdade
    que bem me quer como ninguém,
    o malmequer desta cidade
    que me quer bem, que me quer bem.
    Nas minhas mãos a madrugada
    abriu a flor de Abril também,
    a flor sem medo perfumada
    com o aroma que o mar tem,
    flor de Lisboa bem amada
    que mal me quis, que me quer bem.



    Isto não fui eu que escrevi, é dedicado a uma cidade qualquer, adivinhem qual (lol!!) , e há quem cante isto e tudo, descubram quem ...


    :-)

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  2. Pois, como se tu não soubesses...

    :-)

    O disco chama-se "Um Homem na Cidade", músicas de toda a gente (a do Victorino de Almeida, Fado do Campo Grande é de uma beleza de estarrecer...) e tudo poemas do Ary.

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  3. Aqui o têm, pela Liana .


    Como é óbvio, o AVd'A teve noutros tempos uma casa no Campo Grande...

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