quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Assinatura reconhecida

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Eu estava perfeitament abismado, com o à vontade e assertividade da minha secretária.
Aquela não era a "minha" Deolinda, uma rapariga suburbana, sempre vestida com roupa deselegante e de má qualidade, que herdava das cunhadas, e que nunca me olhava nos olhos quando tinha que me fazer o pedido mais simples, como sair meia hora mais cedo ou trazer um rádio para o escritório.

Esta era uma nova mulher, sensual, confiante.

Entretanto o alemão de nome esquisito, enterrava-se na cadeira e, de mãos enfiadas nos bolsos, optara pelo silêncio.
Mas Deolinda continuava "...E no cérebro destes dois, Hans e Velic, foi-se desenvolvendo um plano. Hans um sádico em potência, admirador confesso das aventuras de Velic, durante a guerra, assassinaria umas jovens escolhidas entre as 'funcionárias' de Sérgio, deixando como assinatura algo que, não de uma forma óbvia, ligasse este último aos crimes" interrompeu-se, para beber um gole de água da pequena garrafa que trazia na bolsa de vime.

Marco aproveitou a deixa "...O galo deve ter surgido para fazer a ligação com o país de origem da mulher de Sérgio, local onde este tem uma casa e, dado o egocentrismo mórbido de Hans e a sua sensação de impunidade, como uma forma de assinar as mortes com ao seu nome real, embora traduzido..."

Novo ajeitar da saia, e aí estava, mais uma vez, a minha secretária, ou seria melhor chamar-lhe ex-secretária, lançada.
"...e este plano tinha a vantagem de se Velic fosse suspeito, como foi, poder provar facilmente a sua inocência enquanto que... deste banana, ou bunda mole, como vocês preferem, ninguém iria suspeitar."
O alemão, ergueu-se de um salto, qual boneco de caixinha de surpresas "...Bunda mole?!?? Sua vagabunda...eu devia era ter..." calou-se, abruptamente"...e provas, onde estão as provas?."
" Provas é o que não nos falta..."

Olhei o rosto de Deolinda, estaria a fazer bluff ? Que mulher aquela...
"Temos a arma dos crimes..."
"Mas, sem..." Hans interrompeu-se, de novo.
" Pode acabar a frase. Sem impressões digitais? Engana-se, pois apesar desta vez, no Jardim Botânico, ter usado luvas, descobrimos uma mais antiga, no punho do estilete..."

E depois de um compasso de espera, teatral.
" ...E, além disso, a sua última vítima, a Marisa, não morreu" e dirigindo-se a Leandro Sarmento, que continuava vigilante junto à porta" ...façam-na entrar."

Num gesto rápido, Hans Hahn levou algo à boca e trincou a cápsula de cianeto que, há já algum tempo, apertava na mão.

O cheiro característico a amêndoas amargas, alastrou pela sala...

4 comentários:

  1. O que irá ainda acontecer?
    É uma pena ir acabar agora que estava a aquecer...

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  2. Engraçado mesmo, era as vítimas começarem a reaparecer todinhas. Inverosímil, mas curtido!

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  3. Faço minhas as palavras da 'oradora' anterior, mas quanto apenas à substância.

    O estilo continua lá...

    :-)

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  4. Seu Leandro?!
    Aquele cara que amava ajudar a (des)apertar os zips do mulherame, nos banheiros públicos femininos???!!!
    Amigo da Sapho?!

    Não estou bem a par do enredo, mas vou reconhecendo alguns dos personagens...

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