terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Mia Couto - Poema da Despedida

Não saberei nunca
dizer adeus
Afinal,
só os mortos sabem morrer

Resta ainda tudo,
só nós não podemos ser
Talvez o amor,
neste tempo,
seja ainda cedo

Não é este sossego
que eu queria,
este exílio de tudo,
esta solidão de todos

Agora
não resta de mim
o que seja meu
e quando tento
o magro invento de um sonho
todo o inferno me vem à boca

Nenhuma palavra
alcança o mundo, eu sei
Ainda assim,
escrevo.

Mia Couto

2 comentários:

  1. Não sou grande apreciador de poesia mas o Mia Couto é um dos meus escritores preferidos.
    Então entre os africanos, é com toda a certeza

    ResponderExcluir
  2. Bom, sendo assim aqui fica outro, e pode dedicá-lo à sua significant half...

    :-)


    Para Ti

    Foi para ti
    que desfolhei a chuva
    para ti soltei o perfume da terra
    toquei no nada
    e para ti foi tudo

    Para ti criei todas as palavras
    e todas me faltaram
    no minuto em que talhei
    o sabor do sempre

    Para ti dei voz
    às minhas mãos
    abri os gomos do tempo
    assaltei o mundo
    e pensei que tudo estava em nós
    nesse doce engano
    de tudo sermos donos
    sem nada termos
    simplesmente porque era de noite
    e não dormíamos
    eu descia em teu peito
    para me procurar
    e antes que a escuridão
    nos cingisse a cintura
    ficávamos nos olhos
    vivendo de um só
    amando de uma só vida




    Mia Couto , "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"

    ResponderExcluir