quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Pelo Sonho é que vamos - Sebastião da Gama

Pelo sonho é que vamos,
comovidos e mudos.

Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo sonho é que vamos.

Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e ao que é do dia a dia.

Chegamos? Não chegamos?
- Partimos. Vamos. Somos.

Sebastião da Gama

4 comentários:

  1. Grande poesia e grande poeta para se começar bem o dia.

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  2. Este é para o Z.M. , como vê tudo como dantes, quartel-general em Abrantes...


    Meu País Desgraçado

    Meu país desgraçado!...
    E no entanto há Sol a cada canto
    e não há Mar tão lindo noutro lado.
    Nem há Céu mais alegre do que o nosso,
    nem pássaros, nem águas ...

    Meu país desgraçado!...
    Por que fatal engano?
    Que malévolos crimes
    teus direitos de berço violaram?

    Meu Povo
    de cabeça pendida, mãos caídas,
    de olhos sem fé
    — busca, dentro de ti, fora de ti, aonde
    a causa da miséria se te esconde.

    E em nome dos direitos
    que te deram a terra, o Sol, o Mar,
    fere-a sem dó
    com o lume do teu antigo olhar.

    Alevanta-te, Povo!
    Ah!, visses tu, nos olhos das mulheres,
    a calada censura
    que te reclama filhos mais robustos!

    Povo anêmico e triste,
    meu Pedro Sem sem forças, sem haveres!
    — olha a censura muda das mulheres!
    Vai-te de novo ao Mar!
    Reganha tuas barcas, tuas forças
    e o direito de amar e fecundar
    as que só por Amor te não desprezam!


    Sebastião da Gama (1924 - 1952)

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  3. Um dos meus Poetas de cabeceira...

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  4. A propósito de nada, ou da poesia, de repente (não mais que de repente...) apeteceu-me isto:

    Vou pôr anúncio obsceno no diário
    pedindo carne fresca pouco atlética
    e nobres sentimentos de paixão.
    Desejo um ser, como dizer, humano
    que por acaso me descubra a boca
    e tenha como eu fendidos cascos
    bífida língua azul e insolentes
    maneiras de cantar dentro da água.
    Vou querer que me ame e abandone
    com igual e serena concisão
    e faça do encontro relatório
    ou poema que conste do sumário
    nas escolas ali além das pontes
    E espero ao telefone que me digam
    se sou feliz, real, ou simplesmente
    uma espuma de cinza em muitas mãos.


    António Franco Alexandre

    Quatro Caprichos
    ed. Assírio e Avim 1999


    (ele era tb. prof. de Filosofia na Fac. de Letras, Clássica, Lxª)

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