Tiger Woods abandonou o golfe por prazo indefinido.
Ainda me conformava se fosse por causa de uma hérnia que não o deixava fazer swings ou pelo azar de sucessivos slices que lhe desviavam o efeito da bola.
Mas não. Tiger Woods abandona sem prazo por causa de outros swings e outros desvios.
Ele é casado - ah, sim? - e tinha dez amantes - e depois?
Desse facto só me surpreende que um tão grande campeão de golfe aprecie quantidades.
Dez amantes! No golfe, um stroke é o grau de dificuldade de cada buraco, pode ir de 1 a 18, de forma inversa.
Um stroke 1 é o mais difícil, o stroke 18 é o mais fácil.
Não estava a ver Tiger Woods adepto de facilidades.
Os jornais deliciaram-se por a mulher dele, farta das tacadas no matrimónio, lhe bater com um taco.
Esta história é de tal forma sem jeito que ninguém quis saber o tipo de taco: um ferro n.º 3? Um sand-wedge?
Dir-me-ão: isso não interessa, esta é uma história moral.
E eu pergunto: é uma história com Tiger Woods e o golfe não interessa, é?
Então, está bem, é uma história moral. E conta-se que a mulher lhe bateu com um taco?
Não se importam do clima de pânico que se vai instalar nos campeões de tiro que eventualmente também tenham amantes?
Pergunta parva a minha, os moralistas gostam de meter medo.
Vou abordar a questão de forma que os moralistas entendam.
Já repararam que a história de Tiger Woods, agredido pela mulher com um taco de golfe, vai fazer suspirar de alívio os jogadores de futebol?
"É querida, esse sms é da morena com quem ando, confesso. Bate-me com a bola, vá. Chuta forte que eu mereço."
A história de Tiger Woods pode morigerar os costumes na Quinta da Marinha e em Vilamoura mas vai abandalhar na Luz e nas Antas.
E julgo não restarem dúvidas sobre qual o tipo de relva que mais influencia o País.
Mas o que mais me irrita, repito, é este vício de nos debruçarmos sobre as bermas das notícias e dos protagonistas.
Enquanto a curiosidade é grátis, vá que não vá. Agora, quando por causa dela o essencial é assassinado, urge reagir aos bisbilhoteiros.
Não sou apreciador de golfe e a perda de Tiger Woods não me tira o sono - daí a irritação ser benigna.
Já puxaria por um taco (de aço e cabeça gorda) se as bisbilhotices levassem um dos meus campeões de futebol a abandonar "sem prazo definido" o seu dever de me deliciar - lá porque o tinham apanhado a dedicar nas horas vagas a assunto que não me diz respeito.
No ano passado apeteceu-me isso, puxar por um taco, quando eu precisava de Cristiano Ronaldo concentrado no Europeu de futebol e andavam uns esganiçados à cata da espanhola e espicaçando-o sobre ela.
A história de Tiger Woods e da sua mulher era deles - e, se tivesse ficado aí, continuaríamos a ter Tiger Woods.
Metemo-nos e perdemos Tiger Woods.
Gente burra que somos.
Ferreira Fernandes in Diário de Notícias
domingo, 13 de dezembro de 2009
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O Ferreira Fernandes tem em mim um leitor atento, ele já escreve bem há muitos anos.
ResponderExcluirJá tinha lido a estorieta, estava a branco, não fazia a mínima que esse gajú TW andasse também a costurar p'ra fora , golfe acho aborrecido, mas muita gente não acha...
um dos meus sobrinhos, que não é bom em mais nada, é bom nisso, e um dos meus irmãos também joga, parece que se fazem 'contactos' nos 'greens'...
Já agora, e numa sidenote, e para quem gostar de golfe, há uma série de filmes disponíveis àcerca (ou à roda) do desporto: por exemplo este, que é muitíssimo bom, e este outro.
ResponderExcluirE ele há mais...
Eu hoje deu-me para estar ainda mais lacónica, mas cá para mim o homem também já devia estar farto de jogar, da pressão de ganhar, de ganhar, de pensar "o que é que eu posso ganhar mais".Veio mesmo a calhar este escandalozinho.
ResponderExcluirEstou de acordo com FF, estas histórias que cercam as gentes de maior visibilidade não me interessam.
ResponderExcluirE quando perigam as suas carreiras, quaisquer que elas sejam, não deviam merecer o destaque que explode.
Sobretudo as historietas que chegam dso EUA, cheiram sempre a grande porcaria e a negócios chorudos dos media.