segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

A voz de além túmulo

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Tenho pena de não ter tido comigo uma camera para ter filmado as diversas expressões das pessoas que estavam na sala...
Com excepção de Marco e do Presidente do Jockey Clube, que nunca me vira na vida, todos os outros ficaram boquiabertos. Só que em graus variados.
Teo foi o primero, e único, a levantar-se e a dirigir-se-me de braços abertos.
"Deolinda, que felicidade...mas, afinal, o que aconteceu ?!??"

A reacção dos outros não foi tão calorosa.
A cabra da Gabriela sussurrou qualquer coisa no ouvido da amiga, mas nem se dignou acenar-me.
Aceno, mas tímido, foi o que Hans Hahn fez, enquanto Sérgio me olhava, de sobrancelha levantada, com um ar interrogativo que tentava copiar de 'O Padrinho' ou algo assim.
O gorila Miltinho manteve a expressão mais ou menos estupidificada de sempre, enquanto o sérvio arrepanhou o rosto num esgar que, talvez tentasse passar por sorriso, mas diabolizava, ainda mais, a sua pessoa.
O chefe de Marco, o tal de Seabra, olhava para mim e para Marco e, de novo, para mim , sentindo-se, nitidamente, ultrapassado pelos acontecimentos.
Sentei-me na única cadeira vaga e comecei a falar.
Tentei abrir as sílabas para me tornar mais perceptível pelos não portugueses presentes, o que, para mim, nem é difícil, dada a minha ascendência africana.
" Ora pois, pois...como vocês adoram dizer que nós falamos, e expressão que nunca ouvi nenhum português utilizar."
Se a minha intenção era descontrair a ilustre plateia, não o consegui.

Cruzei as pernas e ajeitei-me mais confortavelmente.
"No dia em que levei o empurrão de uma das pessoas aqui presente, que pretendia que eu me estatelasse uns ciquenta metros mais abaixo, por sorte, fiquei presa , numa saliência da escarpa, a apenas uns três metros do murete" senti um arrepio ao relembrar a situação" com a pressa de voar para longe dali, o criminoso nem se preocupou comigo, mas o Marco Tupinambá, sim..." e, dito isto, sorri para o meu colega brasileiro que me olhava, todo embevecido.
" Resolvemos então, simular a minha morte, para poder seguir, com mais tranquilidade, o suspeito..." dirigi-me, então, a Teo" Peço desculpas a quem fiz sofrer com a minha 'morte' mas tinha que ser assim. Não podia correr o risco de, por interposta pessoa, o criminoso vir a saber que eu estava viva. Só telefonei à minha mãe para ela não ficar apavorada com as notícias, mas essa está tão longe , lá em Massamá..."

Quando falei em Massamá, pareceu-me estar a referir uma outra existência passada, numa galáxia distante ou em qualquer Quinta Dimensão alternativa.
"O assassino estava à nossa frente desde o princípio. O Galo de Barcelos não era um 'fetiche', era realmente uma assinatura, o nome do assassino.

Galo em português, cocq em francês, cock ou ruster em inglês e....hahn em alemão. Não é assim Herr Hans Hahn?"

4 comentários:

  1. Afinal, como acontece sempre em todas as boas histórias policiais, a solução estava mesmo à vista de todos.

    Parabéns ao autor!

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  2. Deste nunca tinha desconfiado....

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  3. Mas o policial ainda vai continuar, certo? Vá lá Galo, pelo menos até ao 69!

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  4. Quimera, esse episódio já era...
    Não lembra a cena das duas gatas?

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