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O facto de ser visita habitual do Jardim Botânico fizera-me conhecer a pintora Beatriz Cardiga, utilizadora de um dos estúdios que tinham sido criados a partir da antiga vila operária, em 1972, quando o jardim passou a ser considerado reserva da biosfera.
Por isso, ao saber que a Artista estava , na Europa, a expor na Bienal de Veneza, resolvera aproveitar o seu espaçoso atelier, de paredes grossas e num dos locais mais escondidos do parque, para desenvolver esta minha nova performance, de cariz mais artística.
Marisa tinha sido uma companhia afável e simpática, sem grandes diálogos nem perguntas inoportunas.
Parecia uma criança a olhar as palmeiras gigantes, os enormes nenúfares ou a passar as pontes orientais do minimalista jardim japonês.
Como tenho, por hábito, a companhia, só para fins perfomáticos, de profissionais do sexo, perguntei-me várias vezes se não deveria arrepiar caminho.
Mas imaginar aquela pele morena e o corpo bem torneado, recortados em centenas de pequenos golpes, deixou-me num tal estado de excitação antecipada que, durante todo o trajecto, só tinha como objectivo alcançar o atelier da pintora e iniciar a minha obra de arte.
Por outro lado, algo me inquietava.
Desde que saíra do hotel, e apanhara a empregadita a duas quadras de distância, que sentia que alguém me seguia.
Olhei à volta por várias vezes. De uma delas, pareceu-me que um vulto se escondia atrás de enorme sumaúma.
Talvez um casal de namorados...
Mas, uma certa antecipação nervosa, continuava a perseguir-me.
Pensei abortar a performace, mas não havia qualquer razão para tal.
O frasco com clorofórmio e o algodão estavam na minha bolsa de cabedal.
A cápsula de cianeto, no bolso, just in case...
Ao chegarmos à porta do estúdio, avancei para o patamar seguinte...
Aproximei-me da minha vítima e, enquanto lhe prendia o pescoço com um braço, tapei-lhe o nariz com o algodão embebido em clorofórmio.
Em poucos segundos, transportei o corpo inerte para o interior do estúdio, fechei as portadas de madeira e acendi a luz.
De seguida saquei do meu estilete afiado e entretive-me a cortar em tiras, sem tocar na pele, primeiro os jeans e a camiseta da rapariga e, por fim, a roupa interior, simples e pouco sexy, de tecido barato.
A carnação daquela mulher nua, era impressionante.
Respirava sexo e sensualidade, embora por não muito tempo mais.
Amarrei-a com uma corda macia de algodão, que comprara para o efeito, a uma cadeira que Beatriz Cardiga usava para sentar os seus modelos ou visitas ocasionais, e onde eu próprio descansara já inúmeras vezes.
Depois, comecei a preparar-me...
quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
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Isto está no auge ( e obrigada pela resposta quanto ao final)...
ResponderExcluirEste é todo um episódio, o primeiro em que me arrepiei, ui,ui...
ResponderExcluirDiacho G. isso é o Dexter em versão escrita...
ResponderExcluir:-D
Já agora... e só para os mais distraídos, comentário ao lado do texto:
ResponderExcluirvila operária são bairrinhos (ou só casas) que os patrões mais compreensivos faziam para os seus trabalhadores (e para os terem ali à mão).
Na Graça (Lxª) havia umas quantas, por exemplo a Natália Correia R.I.P. vivia numa, acho que a coisa já foi abaixo. Lá perto havia a Vila Berta, uma coisa com toques efellianos nas varandas e raul-linianos nos vasinhos pendurados e nos arremates dos telhados.
Em Benfica (Lxª igualmente)também havia, era um "bairro" inteiro, estava já absolutamente decadente quando olhei para aquilo, já deve ter ido abaixo, seria dos gajús do Grandella ?
Depois havia as "coisas" feitas pelos gajús da falecida CUF no Barreiro, tanto quanto me lembro eram hediondas...
Creio bem que os Matarazzo no Brasil (entre outros) também fizeram disso (em S. Paulo ?) mas nunca me deu de os ir lá ver.
Inglaterra, por exemplo, tem disso até ao enjôo.
Muitos dos meus amigos são arquitectos, daí o meu interesse...
:-)
A coisa está a ficar cada vez mais arripiante...
ResponderExcluirJardim Botânico onde existe uma árvore com umas grandes rosas carnudas tipo cacto com um cheiro que se sente a muitos metros...