O Jardim Botânico, instalado no bairro do mesmo nome, estende-se por mais de 50 hectares, onde 6500 espécies de árvores e plantas, algumas ameaçadas de extinção, mostram toda a sua exuberância tropical.
Marisa, que chegara ao Rio há pouco mais de um ano, vinda de Macapá, no longínquo estado de Amapá, nunca o visitara.
A sua vida limitava-se aos dois turnos de trabalho diários, no hotel, às horas passadas no ónibus que a levava e trazia de um cortiço na Madureira partilhado com mais cinco colegas de profissão e, por vezes, quando o cansaço não a prendia à estreita cama de ferro, uma saltada ao ensaio da famosa Escola de Samba, do bairro.
Os poucos momentos de algum prazer era quando sentia o seu poder perante os corôas, velhos e ricos clientes do Copa.
Nunca passara dos preliminares com nenhum deles que gostavam de a ver despir-se ou de tocar-lhe os seios enquanto se masturbavam, numas frágeis erecções, nem sempre alcançadas.
Depois, davam-lhe dinheiro, perfurmes franceses ou chocolates, comprados na boutique do hotel, que a faziam sonhar com um outro mundo que adivinhava existir ao tocar os vestidos de costureiros famosos, os colares de pérolas ou esmeraldas ou os relógios com brilhantes que as madamas deixavam displicentemente sobre os toucadores dos quartos ou nas prateleiras de mármore dos banheiros.
E ao caminhar pela álea principal do jardim, que leu chamar-se Barbosa Rodrigues, ladeada de palmeiras imperiais, sentiu-se uma vez mais, a viver num mundo paralelo, muito distante do seu.
O convite da véspera não a apanhara de surpresa.
Sabia o efeito que causava nos clientes do hotel, de ambos os sexos, a sua beleza um pouco vulgar mas carregada de erotismo a que o seu forte sotaque acrescentava um travo especial.
Homens e mulheres já lhe tinham pago os favores sexuais, nunca ultrapassando os limites autoimpostos mas que, para sermos sinceros, não era o que mais interessava aqueles representantes de uma classe cínica e decadente que pareciam gostar de ser humilhados.
De chuva dourada a fist fucking, palavras de que Marisa desconhecia a existência, já em tudo isso Marisa participara como elemento activo.
E ainda recebia dinheiro que ia amealhando cautelosamente...
Era em tudo isto que a jovem pensava enquanto olhava distraída as etiquetas colocadas junto às plantas.
O pau-mulato, nome dado a trocadilhos, que ela já conhecia da sua terra natal, tinha a particularidade de mudar de cor em cada época do ano.
Logo ali estava o abricó-de-macaco, também ele habitual nos sítios e fazendas de Macapá.
Já a sumaúma, uma das árvores de maior porte do mundo, deixou-a impressionada pois nunca vira nada igual.
De tão absorta, com a belza dos antúrios, filodendros, avencas e samanbaias, nem se apercebera que o silêncio há muito se instalara e que a sua companhia olhava furtivamente à volta para ver se alguém os seguia, enquanto os encaminhava para a zona mais escondida do jardim - o Orquidário.
O Orquidário, estufa construida no final do século XIX, guarda mais de 700 espécies de orquídeas naquela que é, talvez, uma das maiores colecções do mundo desse tipo de flores.
Mas não foi aqui que terminou o passeio.
Pouco depois chegaram a umas pequenas casas de uma antiga vila operária transformadas em ateliers, onde artistas brasileiros contemporâneos, como Gabriela Machado ou Adriana Varejão, trabalham.
Foi nesse momento que Marisa sentiu um forte cheiro a clorofórmio, um lenço a tapar-lhe o nariz e a consciência a esvaír-se...
Marisa, que chegara ao Rio há pouco mais de um ano, vinda de Macapá, no longínquo estado de Amapá, nunca o visitara.
A sua vida limitava-se aos dois turnos de trabalho diários, no hotel, às horas passadas no ónibus que a levava e trazia de um cortiço na Madureira partilhado com mais cinco colegas de profissão e, por vezes, quando o cansaço não a prendia à estreita cama de ferro, uma saltada ao ensaio da famosa Escola de Samba, do bairro.
Os poucos momentos de algum prazer era quando sentia o seu poder perante os corôas, velhos e ricos clientes do Copa.
Nunca passara dos preliminares com nenhum deles que gostavam de a ver despir-se ou de tocar-lhe os seios enquanto se masturbavam, numas frágeis erecções, nem sempre alcançadas.
Depois, davam-lhe dinheiro, perfurmes franceses ou chocolates, comprados na boutique do hotel, que a faziam sonhar com um outro mundo que adivinhava existir ao tocar os vestidos de costureiros famosos, os colares de pérolas ou esmeraldas ou os relógios com brilhantes que as madamas deixavam displicentemente sobre os toucadores dos quartos ou nas prateleiras de mármore dos banheiros.
E ao caminhar pela álea principal do jardim, que leu chamar-se Barbosa Rodrigues, ladeada de palmeiras imperiais, sentiu-se uma vez mais, a viver num mundo paralelo, muito distante do seu.
O convite da véspera não a apanhara de surpresa.
Sabia o efeito que causava nos clientes do hotel, de ambos os sexos, a sua beleza um pouco vulgar mas carregada de erotismo a que o seu forte sotaque acrescentava um travo especial.
Homens e mulheres já lhe tinham pago os favores sexuais, nunca ultrapassando os limites autoimpostos mas que, para sermos sinceros, não era o que mais interessava aqueles representantes de uma classe cínica e decadente que pareciam gostar de ser humilhados.
De chuva dourada a fist fucking, palavras de que Marisa desconhecia a existência, já em tudo isso Marisa participara como elemento activo.
E ainda recebia dinheiro que ia amealhando cautelosamente...
Era em tudo isto que a jovem pensava enquanto olhava distraída as etiquetas colocadas junto às plantas.
O pau-mulato, nome dado a trocadilhos, que ela já conhecia da sua terra natal, tinha a particularidade de mudar de cor em cada época do ano.
Logo ali estava o abricó-de-macaco, também ele habitual nos sítios e fazendas de Macapá.
Já a sumaúma, uma das árvores de maior porte do mundo, deixou-a impressionada pois nunca vira nada igual.
De tão absorta, com a belza dos antúrios, filodendros, avencas e samanbaias, nem se apercebera que o silêncio há muito se instalara e que a sua companhia olhava furtivamente à volta para ver se alguém os seguia, enquanto os encaminhava para a zona mais escondida do jardim - o Orquidário.
O Orquidário, estufa construida no final do século XIX, guarda mais de 700 espécies de orquídeas naquela que é, talvez, uma das maiores colecções do mundo desse tipo de flores.
Mas não foi aqui que terminou o passeio.
Pouco depois chegaram a umas pequenas casas de uma antiga vila operária transformadas em ateliers, onde artistas brasileiros contemporâneos, como Gabriela Machado ou Adriana Varejão, trabalham.
Foi nesse momento que Marisa sentiu um forte cheiro a clorofórmio, um lenço a tapar-lhe o nariz e a consciência a esvaír-se...
Excelente como sempre seu J.V. !
ResponderExcluirNão estou seguro, mas creio que as 'palmeiras imperiais', coisa altíssima, foram espetadas lá no Jardim pelo senhor D. João VI, durante a sua 'excursão' por aquelas paragens, e daí talvez o nome...
É isso aí...
ResponderExcluirQuando o "pasquim" fôr lançado aqui no Brasil, vou convidar você, seu Alvega !
Agora que apanho o autor por aqui, repito uma pergunta que já fiz diversas vezes, mas que nunca obteve resposta: Que tamanho está previsto para este Folhetim?
ResponderExcluir(Não é que esteja cansada, é só mesmo curiosidade...)
Alguém que responda à MTH, que já fez esta pergunta por diversas vezes...
ResponderExcluirEu, pelo contrário, não estou nada ansiosa e quanto mais tempo demorar melhor.
Estão a pensar editar o livro?
Bem , se o segredo é alma do negócio, o suspense é a alma de qualquer policial que se preze, mas como estamos na época de Natal cá vão as informações que estou autorizado a divulgar:
ResponderExcluir1 - Já tenho em meu poder os últimos capítulos que faltavam ( recebidos em mala diplomática do Brasil).
2 - Sei, portanto, quem é(são) o/a/s assassino/a/os (...mas não digo!)
3 - Os Crimes do Galo não irão terminar esta semana nem na próxima, mas, pelas minhas contas o "Grand final" será na seguinte, ou seja, para aí uma semana antes do Natal.
...Que pela prendinha !
4 - Até ao final ainda vai haver mais umas mortezitas...
And that's all Folks !!!
É uma das boas recordações que tenho do Rio, a minha visita ao Jardim Botânico.
ResponderExcluirÉ uma das boas recordações que tenho do Rio, a minha visita ao Jardim Botânico.
ResponderExcluirMTH, deixa eu curtir um pouco com a sua cara, e não leve a mal, porém a curiosidade matou o gato !
ResponderExcluir;-)
Uma vez mais seu J.V.. 'cê é bom de bola como o Fio Maravilha, "faz mais um p'rá gente ver" !
;-)
E já agora, Orquídea selvagem não é uma referênciazinha àquele filme com o Rourke (quando ele ainda não estava desfigurado, uma da ex's dele (a Otis), a fabulosa da Bisset (essa levava-me de graça se por acaso estivesse interessada, mulher bonita e estilosa...), a Serna, e o Greenwood, e etc. ?
ResponderExcluirPassa-se o grosso da coisa no Brasil, ou estou mal alembrado ??
;-)
Exactamente Mr.Alvega.
ResponderExcluirO Filme, um soft core de 2ª qualidade passa-se num Rio estereotipado, com umas festas meio bacanais/ meio macumbas e um Rourke, já a derrapar, a tentar repetir o êxito das 9 semanas e meia.
Quanto à Bisset, 200% de acordo...nunca tive grandes dúvidas a respeito do teu bom gosto nessa matéria.