Nunca se imaginara outra coisa que bailarina.
A imagem mais antiga que tinha de si própria,
era com um tutu rosa pálido, a dançar em pontas.
Tururu ruru ruru...Tout l'Amour que j'ais pour toi.
Os braços esguios erguidos, acima da cabeça.
O cabelo agarrado, emoldurando-lhe o rosto clássico.
E as sucessivas horas de ensaio.
De manhã, à tarde. Mais raramente à noite.
E ela frente ao espelho.
A dar voltas intermináveis. A repetir movimentos.
Na busca da perfeição total.
Tururru ruru ruru...
Conhecia a música de cor. O som metálico dos instrumentos.
Os acordes ao mais ínfimo pormenor.
Os breves silêncios e o eterno recomeçar.
Tururu ruru ruru...
Já viajara por outros continentes.
Vivera em diversas cidades.
Fora admirada por pessoas de raças distintas.
Que observavam o seu desempenho
num silêncio expectante.
E, no final, aplaudiam como crianças.
Palmas entre cortadas por sorrisos.
Os olhos brilhantes de felicidade.
Tururu ruru ruru...
Naquela noite deixou-se levar pela música, mais uma vez.
As voltas que dava sobre si própria
traziam-lhe à memória, lembranças do passado.
A sua imagem deslizava veloz no espelho
onde, normalmente, se revia.
Tururu ru...
Só quando sentiu a música parar.
Abruptamente.
E se viu na mais completa escuridão.
É que percebeu que a sua dona fechara , de novo,
a caixa de música.
Sande Chouriço
sábado, 23 de maio de 2009
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Grande, grande Sande ... :-)
ResponderExcluirBravo !!
Interssante.
ResponderExcluirUm dos mais surprendentes finais de sempre.
ResponderExcluirA Isto chamo eu humor inteligente e capacidade de manobrar as expectativas dos leitores...
ResponderExcluirDigno de antologia, e não acredito que alguém tenha antecipado o final.
ResponderExcluirAmei demais...
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