“Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se tivessem morrido todos os meus amigos”.
Esta frase do Vinicius que tinha recebido de um colega por e-mail, andava a deixá-la inquieta, ainda mais que a sua data de aniversário se aproximava.
Sérgio havia de que querer preparar-lhe uma festa animada, com muita gente, amigos e conhecidos, muitos copos!
Divertirem-se até de manhã…
As colegas não lhe iam perdoar se não houvesse jantarinho e saída só de mulherio!
A ela não lhe apetecia nem uma coisa nem outra!
Tinha pensado em convencer Sérgio a terem um jantar só a dois.
Um sítio simpático, boa conversa, boa música…até já sabia qual seria o restaurante!
No fim-de-semana seguinte dar-lhe-ia o prazer da noitada.
Mas a frase de Vinicius não lhe saía da cabeça e começava a dar conta da angústia que se impunha cada vez mais.
A parte da frase de todos os seus amores assentava-lhe, mas nunca enlouqueceria pela morte dos seus amigos, porque pura e simplesmente não os tinha.
Não tinha o que pudesse chamar de amigos seus, ou eram amigos do Sérgio ou de algumas colegas, ou passageiros ou de circunstância.
De facto, e não sem mágoa, essa parte da vida tinha-lhe passado ao lado.
Irrequieta, angustiada, decidiu de impulso festejar o seu aniversário tal como sempre desejara, mas sem nunca o conseguir: sair, festejar apenas consigo, sem que ninguém pudesse insistir para comemorar em conjunto!
Depois logo trataria das consequências…
Pois ia a Londres, as passagens nem eram caras e sempre tinha querido ir de fim-de-semana para lá de Madrid ou Barcelona.
Sérgio não ia entender, as colegas também não, e ela bem sabia que era uma fuga a situações indesejáveis e, sobretudo, ao confronto recorrente com festas para amigos que não eram seus.
Ia ter a sua festa, sozinha, de facto!
Começava a sentir uma leve excitação com o que de repente tinha decidido e já estava disposta a achar que não podia haver qualquer retorno.
Era Londres, sim! Era uma fuga, também!
Mas ao fim e ao cabo também nunca tinha conseguido fugir aos seus incontornáveis dias de anos.
Quin
quinta-feira, 28 de maio de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Também a mim me apetece neste aniversário importante que se aproxima, só porque é um número redondo,ir para qualquer lado. Londres...porque não?
ResponderExcluirGostei do texto de mais um Mulher hesitante a soltar-se dos grilhões, pelo menos de alguns.
Muito interessante e sobretudo o pensamento de Vinicius que conheci pessoalmente quando em Juiz de Fora, ali se foi apresentar, acompanhado pelo Toquinho e o Azeitona (salvo erro).
ResponderExcluirOs amigos jamais os podemos perder.
A Família é( pode ser) muito importante, dependendo da sorte que temos ou não.
ResponderExcluirJá os Amigos, escolhidos por nós um a um, e salvo alguns precalços que sempre acontecem, partilham connosco os sonhos da juventude, os segredos de amor, as alegrias, as tristezas, numa cumplicidade que nada nos pede nem exige.
Dou razão ao Zé Manel, só pela citação, já o texto teria razão de ser, mas o seguimento vem corroborar essa razão de ser.
Sem desprimor para os posts no geral, e para os micropontos no particular, grande parte do interesse deste blog está nos comentários que, muitas vezes, enriquecem os posts a que se referem.
ResponderExcluirGostei do Conto, mas penso que todos os apêndices que depois surgiram só lhe deram pontos de vista e acréscimos que muito o favoreceram.
Parabéns Quin, parabéns obreiros adicionais.
Uma constatação para me chamarem nomes ( será que estou a ficar masoquista?).
ResponderExcluirAs mulheres quando escrevem contos falam sempre de mulheres, a protagonista é sempre uma mulher e o assunto básico do texto é sempre um problema de mulher( ou foi violada, ou está grávida,ou tem um desgosto de amor,ou acabou uma relação, etc, etc...).
Os homens quando escrevem ambientam os seus contos na Idade Média ou no Futuro, com Humor ou ambiente Policial, escrevem sobre relações de casais ou sobre objectos e, mesmo, quando o protagonista é um homem ( mas também já foi um gato, uma raposa ou uma caixa de música) o tema central do conto não é necessariamente um problema exclusivo masculino.
Com isto tudo não quero chegar a nenhuma conclusão, mas deixo aqui a pergunta - porquê esta diferença ?
Bem observado PMP.
ResponderExcluir