Beleza Micaelense

O céu azul é muitas vezes cinzento.
Mas os verdes, jade, bandeira, de todos os matizes
pedem meças a quaisquer outros.
E o mar, sempre presente, em reflexos de aço.
Aqui e ali, o golpe de asa de uma ave ou de uma paisagem.
E a água a dividir-se em lagoas, riachos e cascatas.
Oceano a toda a volta. Nuvens baixas por cima.

Escarpas a pique, cortadas com precisão cirúrgica.

O insólito de um ilhéu. O atravessar de uma vila.

Flores exuberantes. Quedas de água e de verdura.

Praias de areia quente e água morna.

Pessoas talhadas em sol e terra. Em mar e vento.

Vacas plantadas em assimetria estudada.

Mastigando tradições antigas.

Filosofando murmúrios de vida.

Uma vegetação delirante , anárquica e ostensiva.

Estradas onde as rectas se reduzem

a poucos metros,

pontuadas por curvas fechadas.

Curvas seguidas de curvas.

Numa dança sensual de tonturas múltiplas.

Lagoas despejadas nos côncavos das montanha.

Sinais satânicos em fumarolas dispersas.

Caldeiras borbulhando os atlantes cozinhados .

Florestas e praias.

Escarpas e prados ondulantes.

Hortênsias ladeando caminhos,

murados com pedra de lavoura.

Postais de beleza inesperada.

E depois o rasgar dos postais.

A descoberta da beleza pura,

selvagem e insólita.

Barroca e ofuscante.

Simples e linear.

Beleza, quase, em estado selvagem...