Caída a noite, o velho rádio Detrola de 1938, era ligado e ainda levava algum tempo a aquecer as válvulas perante a ansiedade que naquela época se fazia sentir em todo o País e ali em casa não era excepção.
Era uma rotina criada com o evoluir de uma guerra destruidora e avassaladora que ameaçava toda a Europa, num cortejo de horrores que se pensava nunca mais serem possíveis após a Primeira Grande Guerra.
Ledo engano.
Sintonizada a BBC ,aguardava-se a entrada no ar da característica voz do inesquecível Fernando Pessa com a sua emissão em português e que nos informava sobre a evolução do avanço dos Aliados que há algumas semanas tinham desembarcado na Normandia e assim redobrado o animo das sofridas populações desejosas de regressar aos tempos de Paz.
Recordo a tarefa de que fui jovem ajudante, colocando fitas de papel nas janelas para que na eventualidade de sofrermos bombardeamentos, minimizar os efeitos dos estilhaços dos vidros partidos e lembro-me que em algumas noites se viam circular os poucos automóveis que na minha rua circulavam tinham os então chamados “olhos de gato”, faróis tapados com papel escuro que apenas deixava passar um fio de luz na horizontal.
Um dia, alguém me levou até ao jardim próximo de casa para ver o lançamento de um balão cativo.
O Exército tinha aquele equipamento que consistia num balão que estava preso a um sistema com um guincho que com um cabo de aço, presumo eu, assim permitia a subida e descida daquele balão que se bem me recordo, teria a forma de um grande melão.
Destinavam-se estes balões cativos a defender as cidades de aviões em voos de ataque, a baixa altitude.
O sentimento de perigosa ameaça era quase palpável e do lado de Espanha, não vinham bons ventos pois traziam o cheiro a muito sangue e muita fome.
Por cá, o racionamento de alimentos e combustíveis era falado, não recordo se aconteceu.
Tempos difíceis e de muitas preocupações que hoje em Portugal, muitos desconhecem e poucos recordam.
Mas que nos países que sofreram os horrores inimagináveis daqueles anos de loucura e onde ainda subsistem marcas indeléveis, jamais serão esquecidos.
Carapau de Corrida
sexta-feira, 29 de maio de 2009
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Não acho que seja um "conto" pelo menos no sentido tradicional, mas gostei da ambiência e da estória na História, de que não tinha conhecimento.
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