Seis dias de jejum, mastigação confinada a folhas de coca que foi mascando regularmente.
Uma única vez na vida fiz greve de fome. Tinha sete anos.
Durante um dia e meio renunciei a qualquer alimento.
Apenas líquidos, e mesmo assim... Coca, nem falar.
Nessa época até a Coca-Cola havia sido proíbida por Salazar.
Um dia e meio de abstinência revolucionária.
Uma larica contra-poder (a larica desvaneceu-se, mas o ímpeto do "contra" permanece).
Mais: reforcei a greve de fome com uma greve de fala.
Não falava. Em situações extremas cedia em escrever num papelinho, atamancando a ortografia porque em tempo de guerra não há lugar para primores literários.
Com ostensivo enfado apresentava depois o papelinho e virava as costas.
Mantinha-me, no entanto, inabalável na decisão das greves enquanto a minha mãe não me comprasse um determinado brinquedo. Que não deu.
Pela hora do almoço do segundo dia considerei que melhor seria dar a vida por algo mais valioso que um simples brinquedo.
Oportunidade que até hoje não surgiu, mas não se adivinha o futuro.
Retomando o fio da actualidade.
O Presidente Morales findou a greve de fome.
Ouvi a notícia pelo auto-rádio e abrandei, e sorri, numa cumplicidade de experiências partilhadas.
Mais um que desacreditava (como eu desacreditei) da possibilidade de um brinquedo.
Engano. Morales terminou a greve por ter obtido um brinquedo: a aprovação de uma lei eleitoral que lhe permitirá candidatar-se a um novo mandato de cinco anos.
Há brinquedos e brinquedos.
Alguns movem-se a coca.
Pedro Foyos
Jornalista
Texto magnifico, Pedro Foyos.
ResponderExcluirGracias. :-)