Muitas foram as vezes que o senhor Januário e a dona Josefina – marido e mulher de muitos anos, casados na capela de santa Maria pelo já falecido padre Jacques que um dia desembarcara na pequena aldeia, vindo das terras da Flandres e falando uma estropiada língua de trapos, o que de principio levara a que ninguém o quisesse como pároco, apesar da intervenção do senhor Bispo, mas depois, como tudo na vida tem vantagens e inconvenientes aquilo do padre Jacques falar aquela língua de trapos era óptimo para a confissão, porque o padre quase não falava português e tal como não falava também não compreendia, mas absolvia todos os pecados desde os mais tenebrosos aos mais simples, o que deixava todos felizes – tinham ouvido dizer que o mundo ia acabar.
Mas desta vez acreditaram e por causa disto o senhor Januário e a dona Josefina venderam a mercearia, venderam a casa, venderam o carro.
O senhor Januário tentou vender a dona Josefina, mas ninguém a quis comprar.
Mais discreta a dona Josefina tentou trocar o senhor Januário por um submarino.
A dona Josefina sempre fora uma entusiasta do mar, sempre gostara das profundidades e que melhor para as profundidades do que um submarino?
Mas a verdade é que ninguém queria o senhor Januário, e também não havia submarinos para a troca.
Interrogou-se a dona Josefina “ mas o que fizeram àqueles submarinos que um ministro comprou?”
Se já na altura não pareciam ter muita utilidade agora que o mundo ia acabar é que não serviam mesmo para nada.
Bom, mas em boa verdade se diga o senhor Januário também não parecia ter grande préstimo. Para que o quereria quem pudesse ter um submarino para a troca?
Baixinho, de bigode, burro que nem um cepo, que serventia poderia ele ter?
Mas era precisamente aqui que a dona Josefina apostava, se era verdade que o senhor Januário não tinha qualquer préstimo, também não era menos verdade que o submarino também não.
Em boa verdade, o problema central nem sequer estava nos argumentos de troca, o problema estava no submarino, porque não havia ninguém que tivesse o submarino.
Não havia ninguém, não é bem verdade, a marinha tinha pelo menos um submarino, mas só tinha um e se o submarino era velho e sem préstimo, como é que a marinha, mesmo em tempos de fim de mundo, ia dizer à Comunicação Social, que tinham trocado o submarino por este senhor.
Temos, assim em vez de um submarino…um Januário.
Não podia ser.
E assim o tempo foi passando e a dona Josefina não conseguiu trocar o senhor Januário por um submarino (porque não havia quem tivesse submarinos para a troca).
O senhor Januário não conseguiu vender a dona Josefina.
O mundo não acabou, o que acabou foi o dinheiro da venda da casa e da mercearia, do automóvel… mas isso já é outra história.
Contos do Feeling Estranho
domingo, 31 de maio de 2009
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Eu a ler este Conto e a lembrar-me da História da Guerra do Solnado.
ResponderExcluirE digo isto como elogio porque se trata de um dos melhores textos de Humor de sempre, assim como este é um dos melhores que por aqui passou, nesta área.
Tem graça. Está muito bem contado e até atinge uma referencia real, um só submarino. Porém velhinho mas escola de pessoal de muita valia e assim reconhecido por outras marinhas.
ResponderExcluirSabia Feeling Estranho?