A palavra de honra das pessoas tinha obrigação de 'fazer fé'. :-) O problema é que as pessoas 'mudaram-se' e a 'honra' ficou lá para trás, sózinha e solteira. :-(
Tristes trópicos, como diria o C.L-S. a propósito de outra coisa...
Um exercício interessante e muito elucidativo seria ver-se a prcentagem de faltas de cada Partido para se perceber quem respeita os eleitores e quem se utiliza da Assembleia como mais um tacho.
Para os deputados britânicos, não se tratava de cumprir ou não a lei mas de fazerem jus ao título a que têm direito:
1.O primeiro-ministro britânico Gordon Brown acaba de pedir publicamente desculpa pelo comportamento dos deputados britânicos. David Cameron, o líder dos conservadores, já tinha feito o mesmo e ontem intimou os membros da sua bancada nos Comuns a devolverem o dinheiro que receberam indevidamente dos cofres do Estado. Nos jornais britânicos, a polémica ferve há já alguns dias. O caso é conhecido. Um número significativo de membros do Parlamento britânico usou e abusou dos subsídios a que têm direito para ajudar à manutenção de duas residências – uma em Londres e outra na respectiva circunscrição –, utilizando-os em gastos no mínimo tão ridículos como comida para o cão e, no máximo, tão inadmissíveis como arranjar esquemas para comprar casa com vantagem. O escândalo começou por ser revelado pelo Daily Telegraph, apontando o dedo aos trabalhistas, mas rapidamente se estendeu aos conservadores. A primeira reacção dos deputados visados foi argumentar que tudo o que fizeram estava estritamente dentro da lei. Resposta errada, sobretudo num país que se rege em muitas coisas pela tradição da "common decency". O problema é, naturalmente, outro. Não é um problema legal, é um problema moral. E é hoje tanto mais grave quanto a desmoralização da opinião pública perante a origem desta crise económica, global e brutal em que estamos todos mergulhados já estava no seu ponto mais baixo. Primeiro, foram os banqueiros, a gigantesca confusão que criaram, os seus bónus verdadeiramente ofensivos. Agora, são os políticos, com as suas pequenas artimanhas para tornarem a vida mais agradável. Esta desmoralização fez-se sentir imediatamente nas sondagens, que penalizaram o New Labour e os tories (cada um caiu quatro pontos) e beneficiaram os liberais-democratas (o terceiro partido de Westminster, aparentemente ainda não tocado pelo escândalo), mas também o Partido Nacional, de extrema-direita. É este o risco, que recomenda que se evite toda a espécie de demagogia.
2.Ninguém duvidará que a grande maioria dos deputados britânicos não são nem gananciosos nem corruptos. É perfeitamente legítimo acreditar que muitos deles mantêm o mesmo idealismo que os levou a escolher a actividade política e não outra profissão qualquer, possivelmente mais bem remunerada. Os seus vencimentos não são elevados (em termos relativos) e é, aliás, por isso que o subsídio para compensar a necessidade de manter duas residências e de estar em permanentes deslocações pode fazer todo o sentido. Convém também recordar que, no Reino Unido, não há outro caminho que não o Parlamento para se chegar ao Governo. Mas vale, talvez, a pena reflectir sobre os valores que se tornaram dominantes nas nossas sociedades democráticas e que levaram quer aos excessos escandalosos dos executivos das grandes companhias, quer a um clima excessivamente "condescendente" no comportamento dos políticos. Os dois fenómenos podem ter a mesma raiz. A ideologia que acabou por dominar as últimas décadas e que nasceu da revolução liberal simbolizada por Ronald Reagan e por Margaret Thatcher assentava em duas ideias fundamentais. A primeira, que o igualitarismo que dominou o pensamento político depois da II Guerra e que levou à construção do Estado de bem-estar tinha gerado efeitos sociais perversos e que era preciso regressar à valorização da responsabilidade individual e à compensação do mérito, do esforço e do risco. A segunda, que enriquecer era um objectivo legítimo, para não dizer "glorioso". Nenhuma destas ideias é má em si própria. O facto de terem sido levadas ao extremo e erigidas em valores quase absolutos tornou-as perversas. Perdeu-se o sentimento de decência e de equilíbrio. A dimensão da crise já revelou até que ponto os banqueiros não mereciam o dinheiro que ganhavam. Não deve haver ninguém, mesmo os mais convictos cultores do liberalismo económico, que não reconheça isso e que não tenha tido o seu ataque de fúria contra a displicência ou a arrogância dos "donos do universo" que nos meteram nesta tremenda confusão. Olhando para o comportamento de alguns deputados britânicos, ele também pode encontrar explicação nessa inversão de valores e nessa mentalidade que se tornou dominante. Se o sucesso é a riqueza, onde fica a ideia de serviço público? Se mérito se traduz em dinheiro, onde fica a recompensa moral? O problema maior é que, quando a política tem de regressar ao posto de comando para limpar a confusão e recolocar a economia de novo em bases mais sãs e a sociedade em bases mais justas, a reputação dos políticos seja também afectada.
3.Dir-se-á que tudo isto é óbvio e é banal. Seja como for, sair desta crise passa também pela revisão dos valores a que atribuímos socialmente maior importância e da avaliação das sociedades em que queremos viver. Vamos ter de voltar a valorizar aquilo que é público (incluindo o Estado, que ganhou muito mau nome nos últimos tempos), em detrimento do que é privado, a igualdade em detrimento da desigualdade, o bem público em detrimento da simples realização individual. É tão necessário proceder à regulação dos mercados financeiros como restituir à política a sua missão essencial de serviço público e a sua responsabilidade "de inventar o futuro", para usar uma expressão feliz de Fernando Henrique Cardoso. A ideia de "common decency" tem de voltar a fazer sentido. A questão está em não deitar fora o bebé com a água do banho. Ou, por outras palavras, será preciso encontrar um novo equilíbrio, nos mercados como na sociedade, que não retire às pessoas a sua responsabilidade e a sua capacidade individual, nem retire aos mercados o princípio da compensação do risco. Para os deputados britânicos, não se tratava de cumprir ou não a lei. Trata-se apenas de fazerem jus ao título a que têm direito. Honourable. Há coisas que nunca deveriam ter de mudar.
Trabalhou em Publicidade em Portugal, Brasil e Estados Unidos.
Colaborou, igualmente, na Rádio("As Noites Longas do FM estéreo"), na Televisão ("O Jornalinho")e na Imprensa escrita.
Publicou vários livros de short stories, "O Galo de Barcelos ao Poder"(Moraes editora ), "As Noites Longas"(Rádio Comercial ),"Gostastes?"( Bizâncio)e "Photomaton"(MDS).
É um dos autores d'"O Canto do Galo"( Bizâncio) e do "Tamanho não é Qualidade" (MDS).
Mais recentemente, de novo pela Bizâncio, publicou "Cozinha Fácil para Homens que não sabem estrelar um ovo".
A palavra de honra das pessoas tinha obrigação de 'fazer fé'. :-)
ResponderExcluirO problema é que as pessoas 'mudaram-se' e a 'honra' ficou lá para trás, sózinha e solteira. :-(
Tristes trópicos, como diria o C.L-S. a propósito de outra coisa...
Um exercício interessante e muito elucidativo seria ver-se a prcentagem de faltas de cada Partido para se perceber quem respeita os eleitores e quem se utiliza da Assembleia como mais um tacho.
ResponderExcluirE viva a República!!Mais os nossos amados deputados!!
ResponderExcluirE viva "nóis" que somos uns anjinhos!!!
Se nós nem podemos confiar na palavra dos Ministros, incluindo o 1º, porque confiar nos Deputados ?
ResponderExcluirIsto já só mesmo com fé.
ResponderExcluirQuimera, acho mesmo que já nem com fé :)
ResponderExcluirSanear os mercados e sanear a política
ResponderExcluirTeresa de Sousa Sem Fronteiras – 20090513
Para os deputados britânicos, não se tratava de cumprir ou não a lei mas de fazerem jus ao título a que têm direito:
1.O primeiro-ministro britânico Gordon Brown acaba de pedir publicamente desculpa pelo comportamento dos deputados britânicos. David Cameron, o líder dos conservadores, já tinha feito o mesmo e ontem intimou os membros da sua bancada nos Comuns a devolverem o dinheiro que receberam indevidamente dos cofres do Estado. Nos jornais britânicos, a polémica ferve há já alguns dias. O caso é conhecido. Um número significativo de membros do Parlamento britânico usou e abusou dos subsídios a que têm direito para ajudar à manutenção de duas residências – uma em Londres e outra na respectiva circunscrição –, utilizando-os em gastos no mínimo tão ridículos como comida para o cão e, no máximo, tão inadmissíveis como arranjar esquemas para comprar casa com vantagem. O escândalo começou por ser revelado pelo Daily Telegraph, apontando o dedo aos trabalhistas, mas rapidamente se estendeu aos conservadores. A primeira reacção dos deputados visados foi argumentar que tudo o que fizeram estava estritamente dentro da lei. Resposta errada, sobretudo num país que se rege em muitas coisas pela tradição da "common decency".
O problema é, naturalmente, outro. Não é um problema legal, é um problema moral. E é hoje tanto mais grave quanto a desmoralização da opinião pública perante a origem desta crise económica, global e brutal em que estamos todos mergulhados já estava no seu ponto mais baixo. Primeiro, foram os banqueiros, a gigantesca confusão que criaram, os seus bónus verdadeiramente ofensivos. Agora, são os políticos, com as suas pequenas artimanhas para tornarem a vida mais agradável.
Esta desmoralização fez-se sentir imediatamente nas sondagens, que penalizaram o New Labour e os tories (cada um caiu quatro pontos) e beneficiaram os liberais-democratas (o terceiro partido de Westminster, aparentemente ainda não tocado pelo escândalo), mas também o Partido Nacional, de extrema-direita. É este o risco, que recomenda que se evite toda a espécie de demagogia.
2.Ninguém duvidará que a grande maioria dos deputados britânicos não são nem gananciosos nem corruptos. É perfeitamente legítimo acreditar que muitos deles mantêm o mesmo idealismo que os levou a escolher a actividade política e não outra profissão qualquer, possivelmente mais bem remunerada. Os seus vencimentos não são elevados (em termos relativos) e é, aliás, por isso que o subsídio para compensar a necessidade de manter duas residências e de estar em permanentes deslocações pode fazer todo o sentido. Convém também recordar que, no Reino Unido, não há outro caminho que não o Parlamento para se chegar ao Governo.
Mas vale, talvez, a pena reflectir sobre os valores que se tornaram dominantes nas nossas sociedades democráticas e que levaram quer aos excessos escandalosos dos executivos das grandes companhias, quer a um clima excessivamente "condescendente" no comportamento dos políticos.
Os dois fenómenos podem ter a mesma raiz.
A ideologia que acabou por dominar as últimas décadas e que nasceu da revolução liberal simbolizada por Ronald Reagan e por Margaret Thatcher assentava em duas ideias fundamentais. A primeira, que o igualitarismo que dominou o pensamento político depois da II Guerra e que levou à construção do Estado de bem-estar tinha gerado efeitos sociais perversos e que era preciso regressar à valorização da responsabilidade individual e à compensação do mérito, do esforço e do risco. A segunda, que enriquecer era um objectivo legítimo, para não dizer "glorioso". Nenhuma destas ideias é má em si própria. O facto de terem sido levadas ao extremo e erigidas em valores quase absolutos tornou-as perversas. Perdeu-se o sentimento de decência e de equilíbrio.
A dimensão da crise já revelou até que ponto os banqueiros não mereciam o dinheiro que ganhavam. Não deve haver ninguém, mesmo os mais convictos cultores do liberalismo económico, que não reconheça isso e que não tenha tido o seu ataque de fúria contra a displicência ou a arrogância dos "donos do universo" que nos meteram nesta tremenda confusão.
Olhando para o comportamento de alguns deputados britânicos, ele também pode encontrar explicação nessa inversão de valores e nessa mentalidade que se tornou dominante. Se o sucesso é a riqueza, onde fica a ideia de serviço público? Se mérito se traduz em dinheiro, onde fica a recompensa moral? O problema maior é que, quando a política tem de regressar ao posto de comando para limpar a confusão e recolocar a economia de novo em bases mais sãs e a sociedade em bases mais justas, a reputação dos políticos seja também afectada.
3.Dir-se-á que tudo isto é óbvio e é banal. Seja como for, sair desta crise passa também pela revisão dos valores a que atribuímos socialmente maior importância e da avaliação das sociedades em que queremos viver. Vamos ter de voltar a valorizar aquilo que é público (incluindo o Estado, que ganhou muito mau nome nos últimos tempos), em detrimento do que é privado, a igualdade em detrimento da desigualdade, o bem público em detrimento da simples realização individual.
É tão necessário proceder à regulação dos mercados financeiros como restituir à política a sua missão essencial de serviço público e a sua responsabilidade "de inventar o futuro", para usar uma expressão feliz de Fernando Henrique Cardoso. A ideia de "common decency" tem de voltar a fazer sentido.
A questão está em não deitar fora o bebé com a água do banho. Ou, por outras palavras, será preciso encontrar um novo equilíbrio, nos mercados como na sociedade, que não retire às pessoas a sua responsabilidade e a sua capacidade individual, nem retire aos mercados o princípio da compensação do risco.
Para os deputados britânicos, não se tratava de cumprir ou não a lei. Trata-se apenas de fazerem jus ao título a que têm direito. Honourable. Há coisas que nunca deveriam ter de mudar.
Jornalista
Depois de ter conhecido a malandragem brasileira até acho os políticos portugueses uns caras honestos.
ResponderExcluir