A não ser – escreveu há 60 anos –, que nós, os ditos humanos, reconheçamos a tempo «o mais temível monstro, que ganhou, invisivelmente, mais batalhas do que os elefantes de combate com os quais Aníbal atravessou os Alpes.» E propunha um gabinete multinacional de crise que integraria as sumidades planetárias na área da microbiologia a que se juntariam, presumo eu, alguns cérebros militares.
Uma Caça Universal ao Micróbio. Era a exacta expressão: caça. Uma caça impiedosa ou, dito de um modo provocador: desumana. Matar para não morrer, o ancestral postulado de todas as guerras. Precisamente o livro "Caçadores de Micróbios", do médico americano Paul de Kruif, terá estado na origem não só da sua obstinação pelos microrganismos mas também de um género literário que despontava no início dos anos 30, a ciência romanceada. A obra de Kruif, confessava Ceram, lia-se «com uma paixão só disputada pelo romance policial».
Explorando com eficácia o filão, conquistou milhões de leitores no mundo inteiro.
Em Portugal, a sua obra magna, "Deuses, Túmulos e Sábios" (ed. Livros do Brasil) foi um duradouro "best-seller" nos anos 60.
Um estilo desarmante: nesse livro, logo na primeira linha, recomenda que o leitor salte umas dezenas de folhas e principie a leitura por volta da página 80, porque, aí, sim, as coisas começam a ser realmente interessantes.
Depois reconsidera: «Após essa iniciação, faça o favor, no seu próprio interesse, de voltar atrás e começar no princípio (... porque...) é preciso obedecer a uma certa orientação.»
Foi este escritor-comediante, porém de uma inquestionável probidade historiográfica, quem, a par de um notável professor chamado Joel Serrão, despertou no adolescente que eu era um interesse perene pela História da Antiguidade.
Ambos representaram um importante esteio na recriação do cenário social em que decorre a acção do meu último livro, "O Criador de Letras".
Decorridas seis décadas, as acabrunhantes profecias de C.W. Ceram parecem cada vez menos especulativas.
Observando o que tem acontecido nos últimos anos é impossível não sentir um frio a passar-nos pela espinha, como se diz nos romances.
O que virá a seguir? Milénios de civilização ter-nos-ão impelido, afinal, para um dédalo inglorioso de sobrevivência à custa de antivirais?
"A Guerra dos Mundos" volta à cena com uma alteração no elenco: criaturas invisíveis, caprichosamente abstractas, substituem os marcianos.
Pedro Foyos
Jornalista
Nota do "Galo"- Na próxima 2ªfeira, vamos publicar o 2º artigo, de uma série de três, subordinado a este tema.
A não perder...
Talvez ainda seja cedo para começar a lançar foguetes, mas parece-me mais um olhar lúcido e diferente que vem enriquecer esta manta de retalhos, no bom sentido, que é o Galo.
ResponderExcluirCaro homónimo, vou estar atento à continução e Parabéns pela estreia.
Quantos mais colaboradores de bom nível tiver o Galo, mais ganharemos todos com isso.
ResponderExcluirEsse livro " Deuses, túmulos e Sábios" assim como " Serão os Deuses astronautas?"eram dois dos livros que o Pai andava sempre a ler e a reler. Lembro-me como se fosse hoje.
ResponderExcluirGostei do pequeno texto, Pedro Foyos, ainda bem que acedeu aos nossos pedidos de colaboração.E agora, é conntinuar.
Muito interessante esta profecia como lhe chama e muito oportuno o post. Uma profecia que se torna realidade é aquilo a que se chama visão.
ResponderExcluirTudo o que fôr "caprichosamente abstracto", 'tou nessa.
ResponderExcluirThks. Foyos, you da man !! :-) :-) :-)
"O bichinho do jornalismo"...
ResponderExcluir"temas da actualidade abordados dum ângulo diferente"...
Promessa cumprida!
E venham muitas mais - destas profecias do nosso descontentamento!