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Entretanto, exactamente à mesma hora, e a menos de dois quilómetros de distância, Gabriela Torres dividia, também, uma mesa com Teo Santana.
O restaurante, numa esquina concorrida do Leblon, tinha o nome de Diagonal e uma decoração despretensiosa que o assemelhava a uma esplanada.
“- Ainda pensei convidá-lo para o Antiquarius, mas podíamos encontrar lá o meu marido ou algum dos seus amigos…o que dadas as ameaças de ontem á noite, talvez não fosse o mais conveniente” sussurrou Gabriela, com um brilho nos olhos, enquanto sorvia a caipirinha generosa, que lhe tinham colocado à frente, mal se sentara.
Sem saber se ela estava a troçar ou não dele, já que nunca ouvira falar do tal Antiquarius, Teo trincou, com força e ruído, um talo de aipo.
Alguns clientes olharam espantados para ele.
Finalmente, conseguira abastecer-se do vegetal milagroso, numa feira ao ar livre na Praça General Osório. Já não era sem tempo…
A comida chegava, entretanto.
Picanha com arroz maluco.
Durante uns minutos fez-se silêncio entre os dois.
A picanha estava deliciosa, no ponto certo e o arroz…
Bem, o arroz era uma coisa do outro mundo.
Arroz feito na altura, ou de véspera, com pedacinhos de bacon,
ovos mexidos e batata palha misturados.
Enfim, de comer e chorar por mais.
Mas Teo não pôde saborear calmamente aquele manjar por muito tempo.
“- Parece-me que o facto de não se terem sabido manter no anonimato, deita por chão as vossas hipóteses de me protegerem e de desmascararem o meu marido, ou não?”.
Também ela, como o marido, passava de uma boa disposição aparente
para a frieza mais definitiva.
Emborcando a segunda caipirinha, Teodorico Santana, mostrou-se resoluto, pela primeira vez.
“- Não estou de acordo. Basta o seu marido saber da nossa proximidade, para não se arriscar a dar um passo em falso. E, em segundo lugar, enquanto eu a acompanho, a minha assistente prossegue a nossa investigação, com dados novos para muito em breve. Penso eu…”
Esta última frase dita já em surdina, Teo dedicou-se, de novo, a retirar a gordura das fatias de picanha e a engolir mais uns deliciosos bocados de carne.
A assertividade de Teo, pareceu agradar a Gabriela que lhe acariciou a mão sobre a mesa.
A um dos cantos, um gigante de farta cabeleira rasta e óculos escuros redondos, sorriu entre dentes, pontiagudos, por sinal.
A atitude da cliente deu forças a que Teo soltasse a pergunta que estava, há muito, presa na garganta.
“ – E ontem, o que foi fazer ontem à Barra, à hora do crime?”
Gabriela, olhou-o, surpreendida “- Ontem? Mas eu ontem não fui à Barra.
Fui a São Conrado, a casa duma antiga colega das passerelles, que visito sempre que estou no Rio” e soltando a farta cabeleira, numa gargalhada ruidosa” porquê? Agora sou suspeita?”
Entretanto o rasta, levantara-se e saíra do restaurante...
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sexta-feira, 23 de outubro de 2009
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Gostei dessa da caipirinha generosa, só espero que não fosse feita com bagaço de aqui.
ResponderExcluirUma vez tentaram 'mi hominagiar' lá no Brasil, e me deram uma caipirinha feita c/ isso.
Nem sei como consegui sair de onde estava e chegar à pôrra do 'banheiro'(casa de banho em brasuquês...)
Excelente, como sempre, J.V.
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P.S.1
picanha é uma comida de rato, mas a Praça General Osório não.
Just my 2 little cents...
P.S.2
São Conrado era a minha praia no Rio, embora na altura tivesse um 'pequeno problemita', que parece, já foi resolvido.
A Maria Bethânia, na altura morava lá...
Discordo, amigo alvega.
ResponderExcluirNão conheço esse restaurante, referido no texto ( possivelmente é inventado) mas já comi no Rio, picanha de se chorar por mais...
Claro que, como tudo, é apenas uma questão de gosto !!!
Pedro Miguel, gostos e côres...
ResponderExcluirMas picanha é uma carne de segunda, duríssima, aquilo é boi/vaca e tem que ser frito até ao deus me chegue, por causa daquela gordurinha em cima, e no Brasil, no meu tempo, nem cão comia isso...
Mas cada um gosta de cada qual....
Vosmicê 'tá na sua razão, eu fico na minha...
:-)
Mas tudo bem, espero...
3ª leitora, presente!
ResponderExcluirContinuo cá, ouviu J.?
E com muito prazer.