Uma boneca “tipo” Barbie balouçava em movimentos de hula hula, pendurada no espelho retrovisor.
A chapinha metálica, colada no tablier, era elucidativa.
“ Lá em casa manda ela e nela mando eu”.
O taxista com o cabelo, comprido e oleoso, a cair sobre a gola levantada, perguntou-me, de chofre:
“O senhor já almoçou, não foi?”
Enquanto eu, sem perceber a razão de tal pergunta, olhava o relógio que marcava quatro e vinte da tarde, ele continuou “…pois eu, ainda não !”.
E perante esta afirmação, aparentemente, irrefutável, prosseguiu depois de menear a cabeça, fazendo ondular a farta cabeleira:
“Uns têm o vício da droga…”
Continuei mudo, sem saber o que responder.
“…outros do jogo ou do álcool !”.
Suspirei, paciente, à espera da conclusão, que surgiu, rapidamente.
“Pois o meu vício…são as Mulheres!!!”
E, dito isto, o rosto inundou – se -lhe de um sorriso largo, de êxtase.
“Gordas, magras, novas, velhas, feias e bonitas, gosto de todas” disse numa só vez “…é preciso é que sejam fêmeas, não sei se me entende !?!!!?
Grunhi, como é de bom tom fazer nestas ocasiões, e resignei-me a ouvir a continuação, que não demorou.
“Todas as semanas passo duas ou três noites fora de casa. Digo à minha bicicleta que faço o turno da noite para juntar mais uns trocados, mas é mentira…vou mas é para a galderice com os colegas.”
Tudo isto entremeado de piscares de olho e gargalhadas alvares.
“Mas o melhor foi hoje (suspiro)…por isso é que ainda estou com a barriga vazia !”.
Esbocei um esgar que se tentava assemelhar a um sorriso.
“…de barriga vazia mas de papinho cheio!”
Engatou nova mudança e, em simultâneo, engatou na história.
“Há coisa de duas horas entrou-me pelo carro adentro uma garina de encher as medidas. Saia curta, belas coxas, bonitona…”
Pareceu-me que se babava, quando continuou”… tirei-lhe a medida e pus um CD do Tony Carreira a tocar. É tiro e queda…”
Não percebi a ligação, mas a deficiência deveria ser minha.
“A gaija, mal a música começou a tocar, desata-me numa choradeira…que o homem dela, isto e aquilo, que a tinha enganado com a Rosette cabeleireira, um coirão que se dizia amiga dela…e que a ela só lhe apetecia era pagar-lhe na mesma moeda. Vingar-se com o primeiro que lhe aparecesse…pôr-lhe um par de cornos ainda maior que o dela”.
E com um sorriso malandro”Percebe, agora, porque é que ainda não almocei?”
Quando, chegado às Amoreiras, desci do táxi, vi que uma jovem roliça entrava para o mesmo, logo de seguida.
Mesmo antes do carro se pôr em movimento, a música do Tony Carreira começou a ouvir-se…
Travis Bickle
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sábado, 31 de outubro de 2009
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Penso que estas histórias dos TAXIS tem tido poucos comentários, mas eu acho-as muito engraçadas.
ResponderExcluirSão histórias verdadeiras ou invenção total?
Não é que isso seja o mais importante...
Se não foi com este que eu andei no outro dia, foi com um muito parecido.
ResponderExcluirSó não tinha o Tony Carreira...
Estou a ver que há muitos anos devia ter optado por ser taxista..
ResponderExcluirainda vais a tempo
ExcluirNessas situações, não há nada como fazer uns ruídos simpáticos, é de bom tom, e depois rezar para que o gajú se cale, e resignar-se a ouvir as continuações... que inevitávelmente virão.
ResponderExcluirAqui e em todo o lado...
:-(
Parabéns Travis Bickle !
Hula hula!
ResponderExcluirIsso foi na Idade Média, não foi?!
Pior do que isso...só futebol aos gritos...
Acho que prefiro o Tony Carreira!