A minha vida sentou-se
E não há quem a levante,
Que desde o Poente ao Levante
A minha vida fartou-se.
E ei-la, a mona, lá está,
Estendida, a perna traçada,
No infindável sofá
Da minha Alma estofada.
Pois é assim: a minha Alma
Outrora a sonhar de Rússias,
Espapaçou-se de calma,
E hoje sonha só pelúcias.
Vai aos Cafés, pede um bock,
Lê o "Matin" de castigo,
E não há nenhum remoque
Que a regresse ao Oiro antigo:
Dentro de mim é um fardo
Que não pesa, mas que maça:
O zumbido dum moscardo,
Ou comichão que não passa.
Folhetim da "Capital"
Pelo nosso Júlio Dantas
Ou qualquer coisa entre tantas
Duma antipatia igual...
O raio já bebe vinho,
Coisa que nunca fazia,
E fuma o seu cigarrinho
Em plena burocracia!
...Qualquer dia, pela certa,
Quando eu mal me precate,
É capaz dum disparate,
Se encontra a porta aberta...
Isto assim não pode ser...
Mas como achar um remédio?
Pra acabar este intermédio
Lembrei-me de endoidecer:
O que era fácil partindo
Os móveis do meu hotel,
Ou para a rua saindo
De barrete de papel
A gritar "Viva a Alemanha"...
Mas a minha Alma, em verdade,
Não merece tal façanha,
Tal prova de lealdade...
Vou deixá-la decidido
No lavabo dum Café,
Como um anel esquecido.
É um fim mais raffiné.
Mário de Sá-Carneiro
sábado, 31 de outubro de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
O meu coração oscila entre os dois mas em muitos poemas aprecio-o mais do que ao Pessoa.
ResponderExcluirPara mim, o FP será sempre o number one!!!
ResponderExcluirNisto estou com a MTH, também devo estara ficar doente...
ResponderExcluir;-)
Nunca li nada do Pessoa que se 'aprochegasse' a
A Confissão de Lúcio.