terça-feira, 20 de outubro de 2009

Nas passarelas do Mundo

23

Sempre que me encontro mais tensa, procuro o meu álbum
de fotografias, que me acompanha em todas as viagens e folheio-o.
O recordar de tantos momentos bons, de tantas cidades
e pessoas tão diferentes, tem o condão de me tranquilizar
e fazer esquecer os episódios menos agradáveis,
de que a minha vida actual, parece fazer gala.
O álbum, com a capa forrada a patchwork, foi oferta da minha mãe,
após o primeiro desfile que fiz.
A fotografia inicial já lá vinha colada e faz-me
retroceder até esse dia.
O cliente era uma marca de sportswear juvenil,
entretanto desaparecida, a Spencer&Jones.
O meu colega no desfile era o Tó Romano,
que na altura usava um cabelo louro comprido, 100% surfista.
Hoje em dia, dirige uma agência de modelos.
O local do desfile foi o Hotel Sheratton, onde até aí nunca entrara
e que me impressionou pela sua imponência e sofisticação.
Mal sabia eu, que pouco tempo depois, seria uma habituée
de hotéis muito mais luxuosos, nas capitais mais exóticas do planeta.
Como este desfile, o meu primeiro em Nova Iorque,
que se desenrolou no The Plaza, no final da 5ª Avenida,
junto ao Central Park.
Aí tive contacto com a Cindy Crawford, em final de carreira,
e o mau génio da Naomi Campbell.
Foi também a minha estreia nas festas alucinadas
do pessoal da Moda.
Estreia e despedida, porque o ambiente libertino, as drogas
oferecidas com fartura, a prostituição encoberta, não faziam,
nem fazem, o meu género.
A partir daí, desculpando-me com os estudos, o que nem deixava de ser verdade, nunca mais frequentei tais ambientes o que me fez ganhar a alcunha de Portuguese Virgin.

Avançando, chegamos a Hong Kong, mais propriamente a Kowloon,
onde no clássico The Península, fui fotografada para a Dior,
a sair de um dos vários Rolls Royce verdes que se perfilam à entrada
do hotel e, também, nos magníficos salões do interior.
Depois, eu e a minha Mãe, que me acompanhava as usual,
metemo-nos no ferry para Hong Kong e perdemo-nos,
por entre as ruas, em compras de verdadeiras pechinchas
– pijamas de seda e quimonos,
que trouxemos para todas as nossas amigas.
Mas nem todas as fotografias me trazem recordações agradáveis.
Esta, por exemplo, em Milão, pouco antes de conhecer o Sérgio.
O desfile efectuou-se nas Galeria Vittorio Emanuel.
Quando terminou, um assistente do cliente que tinha engraçado
comigo, queria, por força acompanhar-me ao meu quarto de hotel.
Eu, para não criar uma situação embaraçosa e sabendo,
ou julgando saber, que a minha mãe me esperava no hotel,
deixei que ele me levasse até à porta do quarto.
O pior é que a minha mãe tinha saído e o italiano, já bastante
embriagado, forçou a entrada na habitação,
rindo e dizendo que eu queria o mesmo que ele.
Depois duma ridícula luta corpo a corpo em que só levei a melhor
porque lhe espetei numa perna,
um corta papéis que estava em cima da escrivaninha,
sentei-me apavorada com o que poderia ter acontecido.
A partir daí, estremeço sempre que vejo o símbolo dessa marca
pela qual desfilei – Le Cocq Sportif.

Não consigo pensar no pequeno galo sem imaginar violência,
sangue e instrumentos cortantes.

5 comentários:

  1. Suspeitos, já foram "plantados" vários, e todos com ligações a Galos...
    Miltinho, Gabriela, Velic e...?

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  2. Esta do le cocq sportif é demais, isto vai no delírio. E os ambientes? Peninsula, um dos hoteis onde mais gostei de ter entrado.

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  3. Enquanto não aparecer O Frango da Guia, para mim está tudo bem...
    Foi só uma graçola, estou a gostar.

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  4. Isto já merece ser editado!!!

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