quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Produtos, só de Marca

Dizem os antigos que, noutros tempos, era naquela feira que as pessoas se abasteciam de castanhas, amêndoas e nozes, para o resto do ano.
Era também ali que se vendiam, trocavam e compravam, patos e galinhas, bezerros e leitões.
O latoeiro expunha os seus regadores e alguidares, o cesteiro, o seu cento de cestos, artesãos mostravam, orgulhosos, os trabalhos em cortiça, as bilhas de barro com pedrinhas encastradas, os pratos pintados, e até se podiam comprar mobílias completas em cores variadas e com motivos florais pintados na cabeceira das camas e nas gavetas dos móveis.
Os especialistas em alfaias defendiam as vantagens das suas máquinas, os ourives atraíam as mulheres com grossos cordões de ouro, os apicultores vendiam frascos de mel, ao lado daqueles que tinham azeite e vinho, abóboras, fruta, enchidos e queijos das mais variadas proveniências.
Quem quisesse, podia escolher árvores ou flores para plantar, pássaros para meter numa gaiola ou peixes para um, qualquer, aquário.

Mas, como comecei por dizer, isso foi há muito tempo, no tempo em que eu pela mão da minha avó, olhava espantado todo aquele bulício e só me preocupava em pedir-lhe uma fartura, acabada de fritar, ou conseguir convencê-la a deixar-me dar uma volta nos carrinhos de choque.
Agora, com excepção das diversões e das farturas, tudo o mais foi substituído por dezenas de vendedores de roupa.
Roupa interior e maços de peúgas, pólos e sweat shirts, botas e jeans, óculos de sol e bijutarias, perfumes e ténis desportivos, numa autêntica panóplia de centro comercial.
E as vendedoras, de etnia cigana, atropelando-se em apelos chamativos:
“- Querido, não quer experimentar este téni ?”
“- Ó AMOR, É tudo a 5 Euros!!!”
Tenho que confessar que sou incapaz de resistir a um apelo feminino…

E foi assim que, ao chegar a casa, deparei-me com um Perfume Boos, um blusão Hogo, pólos Lacostel, jeans da Doce&Cabana, um par de botas da Tintinberland, uma camisa Rolf Lóren e, last but not least, um cronómetro Rallex.
Eu, para mim, só gosto de usar produtos de Marca…

Romeu Capelo

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8 comentários:

  1. Muito surpreendente a forma como foi introduzida a frase obrigatória!
    Conheço o tipo... já dei por mim a trazer da feira de Azeitão uma linda sweatshirt da Robeek!

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  2. E eu costumava sempre hesitar entre o téne da Nickles e o da Adidos...

    :-)

    Excelente, Romeu Capelo !

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  3. Engraçado e gostei muito da descrição das feiras de outros tempos.
    Aproveito para daqui perguntar ao Galo, se a frase "O AMOR É..." pode ser transformada. Aqui temos, por ex., "Ó AMOR,É...". Só para ficar a saber qual a margem de manobra para brincar com ela.

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  4. Oh Q., aquelas feirantes do Porto é que são especialistas em te chamar "amor", por tudo e por nada, uma pessoa até fica embaraçada...

    :-)

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  5. Como anarquista juramentado que sou, permito toda a liberdade, que é uma outra palavra que aprecio bastante...

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  6. Eu sou comida da mesma gamela do orador anterior, salvo seja...

    :-]]

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  7. Adorei este conto!
    E Romeu tem tudo a ver com o AMOR É...

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  8. Também gostei da descrição inicial das feiras
    ( que são as que eu conheci em miúda)mas também apreciei bastante a sátira aos amantes das roupas "de marca", falsificadas ou não.

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