Quando soube que o Coleccionador o ia visitar,
o Pintor ficou nervosíssimo.
O Coleccionador fazia e desfazia carreiras.
Valorizava os Artistas em que investia.
Mandava para o esquecimento, aqueles que não apreciava.
Ainda mais, agora que tinha uma Fundação com o seu nome.
Todos os outros coleccionadores, sem direito a maiúscula,
seguiam as suas indicações.
Era um opinion leader no mundo das Artes.
Quando entrava numa Galeria, os marchands rastejavam até ele.
Porque além de Rico, muito Rico, o Coleccionador era boçal,
e só gostava de se ver rodeado por gente servil.
Por isso, naquele dia, o Pintor vestiu
a sua melhor camisa de caxemira.
Por cima uma bata entreaberta e suja com borrões de tinta.
Na mão, uma velha paleta de madeira que usava desde a Escola.
Aparou a barba e deu um toque no cabelo.
Colocou quadros em tudo o que era canto do Atelier.
Pendurou, em lugar de destaque,
as telas que lhe interessava mais vender.
Ligou os projectores do tecto.
Pôs no leitor de CD's as Quatro Estações do Vivaldi.
O Coleccionador falava do Vivaldi, em todas as entrevistas.
O Coleccionador entrou acompanhado do seu staff.
Staff era outra palavra que o Coleccionador gostava de empregar.
Um Crítico de Arte, que colaborava num semanário,
um Relações Públicas que cuidava da imagem do Coleccionador
e agendava os seus contactos com os media,
e uma Secretária loura, que as más línguas insinuavam
ser algo mais para além disso.
O Pintor limpou as mãos suadas aos jeans desbotados.
Mas o Coleccionador passou, sem mal o olhar.
De semblante fechado, observando todas as obras
com ar de conhecedor...
No final, soltou um suspiro de enfado...
Prestes a sair, olhou a paleta nas mãos do Artista.
Um sorriso guloso, iluminou-lhe os olhos.
O preço negociado ultrapassou tudo o que o Pintor poderia almejar.
A partir desse dia, o Artista passou a pintar, só, Paletas.
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segunda-feira, 19 de outubro de 2009
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Em Junho visitei a exposição de Arte Contemporânea em Serralves ( a tal q estava bem guardada e veio à luz do dia...). Tem graça que vi por lá uns rabiscos que me pareceram os dos meus netos quando tinham 2 anos...Mas sou eu que não percebo nada disto, claro!!!
ResponderExcluirNão terei sentido a sombra do Berardo a pairar por aqui?
ResponderExcluirMais uma vez Adriano...
ResponderExcluirA minha ideia, mas não percebo nada de Arte, é que muitos dos Artistas, e não só Pintores, encontarm uma receita e depois repetem-na até à exaustão, porque é o caminho mais fácil e mais rentável.
ResponderExcluirClaro que há excepções, claro está...
Mas não são muitas, MTH.
ResponderExcluirAdorei essa de "os marchands a rastejar"... e do "staff" do pintor com uma loura e tudo, apresentas-me ao gajú ??
ResponderExcluirA. andas a ler na diagonal...
ResponderExcluiro staff era do Coleccionador !!!
Sorry man, tens toda a razão.
ResponderExcluirAndo a precisar de óculos novos... e mais tempo.
(não tens uns diinhas de 25 horas para vender ?)
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