O casal-pesadelo - Miguel Esteves Cardoso

Um bom jogo para quem não tem mais nada para fazer é imaginar casais-pesadelo.
São pares de pessoas detestáveis que, por sorte nossa, não estão juntas.
Hitler e Estaline chegaram a casar-se, em 1939
- mas depois zangaram-se, graças a Deus.

Foi um casal-pesadelo. Mas, para quem joga o jogo a sério, só os verdadeiros casais é que contam.
A Paula Bobone junta com o José Cid não contam.
Hoje apresento o meu casal-pesadelo musical. (Não vale escolher músicos maus).
É o casal com que mais odiaria estar fechado, durante 24 horas (ou minutos) num estúdio cheio de instrumentos musicais, sabendo que eles tinham de gravar, pelo menos, uma canção.
A mulher desse casal vem cá tanto que tenho medo que venha para cá viver.
Não me importaria, porque parece ser boa pessoa com bom gosto.
Mas só se prometesse nunca mais cantar.
Acaba de produzir o segundo-melhor disco da Barbra Streisand de sempre (Love Is The Answer).
Toca bem piano. Tem voz. Só que não tem verdade nenhuma.
Canta e toca as canções mas não as vive. É um cérebro.
É a Diana Krall. Odeio-a.
Comprei todos os discos dela - e odeio-os todos.
Está casada com Elvis Costello - um homem com grande gosto musical, mas outro emulador, sem autenticidade nenhuma.
São dois excelentes críticos musicais com a pretensão de se exprimirem por música em vez de palavras.
Maior pesadelo não há do que este casalinho de parasitas inteligentes, a cantarolar juntos, à custa dos outros.
Incluindo quem tem de os gramar.

Miguel Esteves Cardoso


Finalmente... algum dia tinha que acontecer um texto do MEC que consigo subscever a 99%(e é só porque acho graça ao disco do Elvis Costello com a Anne-Sophie von Otter, "For the Stars", 2001, que não vai aos 100...)

Enviado, e comentado, por Alvega